Os prazeres - e desafios - da maternidade aos 50 anos

Os prazeres - e desafios - da maternidade aos 50 anos

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:01

Semana passada, a atriz Solange Couto declarou que será mãe novamente, aos 54 anos. O marido, Jamerson Andrade, de 24 anos, com quem ela se casou no final de 2009, diz estar feliz com a notícia, mas afirma que o casal prefere não falar sobre o caso neste início de gestação. A atriz, que está no ar como a Sancha de “Ribeirão do Tempo”, da TV Record, já tem um filho de 36 anos e uma filha de 19 de outro relacionamento. O desafio da maternidade parece ser ainda maior quando acontece perto dos 50 anos. Além da preocupação com os riscos que uma gravidez tardia pode trazer à saúde e ao futuro bebê, há muitas coisas que passam pela cabeça de quem já viveu esta experiência.

É o caso da paulistana Marilena Chiancone Ferro e Silva, hoje com 62 anos. A dona de casa pensou que já estivesse na menopausa e ficou surpresa quando pegou o resultado de um exame de urina: estava grávida de dois meses. “Foi um susto. Já tinha outros dois filhos, com 17 e 15 anos. Meu marido achou que fosse brincadeira quando cheguei em casa e contei”, relata Marilena, que na época tinha 45 anos.

Ela diz que, a princípio, pensou que seria difícil voltar a cuidar de um bebê depois de 15 anos. Mesmo com a apreensão, seguiu em frente, fez todo o acompanhamento pré-natal e teve uma gravidez bastante tranquila, tanto que pegava ônibus todos os dias para trabalhar em um comércio da família na capital paulista. O parto de Marilena também correu dentro da normalidade e, no dia 6 de abril de 1993, Leonardo Chiancone Ferro e Silva nasceu após uma cesariana. “A criação dele foi até menos trabalhosa. Eu tinha mais experiência, mais facilidade para lidar e, por isso, consegui curtir mais”, conta.

A dona de casa afirma que, apesar de Leonardo ser o caçulinha da família, não houve diferença na criação dele com relação aos filhos mais velhos. Hoje, ele tem 17 anos e o bom relacionamento entre mãe e filho continua, até mesmo na difícil fase da adolescência. “Ele nunca me deu trabalho. Pelo contrário, veio para animar a casa. Acho que encerrei com chave de ouro”, orgulha-se a mãe.

Para a terapeuta e escritora argentina Laura Gutman, autora do livro “A maternidade e o encontro com a própria sombra" (Editora Record), não existe idade certa para ter filhos. “O que importa é a história de cada mulher, como ela compreende a si própria. Quando ela concebe uma criança, este é o momento certo”, diz.

O medo de não dar conta do recado e a surpresa de ser mãe quando muitas vezes já se é avó são aspectos que podem atormentar as mulheres que engravidam nesta faixa etária. No entanto, a falta de habilidade para lidar com este tipo de situação pode ocorrer em qualquer idade, segundo a terapeuta. “Da mesma forma que existem mulheres jovens capazes e outras nem tão habilidosas com a maternidade, o mesmo pode acontecer com mulheres mais maduras”. Para Laura, o importante é focar nos cuidados maternos, para suprir todas as necessidades da criança, dando carinho, estando disponível e mantendo-se sempre presente na criação dela.

Insegurança e preocupações

Apesar das experiências de Marilena e Solange, a gestação por volta dos 50 anos não é comum no Brasil. Dados do Ministério da Saúde mostram que, dos quase 3 milhões de bebês nascidos vivos no país em 2008, apenas 242 eram de mães acima de 50 anos de idade.

O ginecologista e obstetra Armindo Hueb, especialista em partos de risco, acompanhou um destes casos. Foi com uma paciente que engravidou do primeiro filho, de modo natural, aos 50 anos. Ele conta que a gestação dela correu sem maiores problemas. O bebê nasceu saudável após uma cesariana e foi para casa com a mãe. “Geralmente, a maior insegurança da mãe é com o produto da concepção”, conta o médico. “Elas estão preocupadas se o feto ou o embrião vai apresentar alguma anomalia”.

De fato, o risco para a saúde do bebê aumenta proporcionalmente à idade da mãe, especialmente se a mulher já apresentar alguma doença de base, como hipertensão ou diabete. “Os cuidados devem ser os mesmos de outra gestação qualquer. Somente a vigilância é um pouco maior com as mães mais velhas”, diz ele.

De acordo com o obstetra Alberto D´Auria, do Hospital e Maternidade Santa Joana, em São Paulo, a gravidez nesta idade também tende a ser hipervalorizada pela mulher e, com isso, ela acaba projetando, involuntariamente, mais riscos em tudo. “Ela pode ficar mais ansiosa, liberar mais adrenalina e aí gerar mais contração dos vasos da placenta e, consequentemente, menos fluxo de sangue para o bebê”, explica o médico.

Além disso, o obstetra observa que uma gravidez tardia traz às mães maior propensão à depressão pós-parto. Segundo D’Auria, isto pode ocorrer devido a questões hormonais mais acentuadas nesta fase da vida atreladas a algum quadro de depressão prévia. Ainda assim, o médico afirma que é preciso analisar todos os aspectos da paciente antes de qualquer julgamento, já que existem mulheres com idade cronológica de 50 anos, mas que fisicamente podem ser comparadas às mulheres de 40 e, psicologicamente, às de 30. “Caso a gravidez ocorra nestas condições, ela certamente vai ter uma resposta orgânica muito melhor”, finaliza.

Menos vigor e mais dedicação ao bebê

Para o pediatra Carlos Eduardo Corrêa, especializado em neonatologia, ser uma mãe mais madura tem suas vantagens. Segundo ele, essa mulher possivelmente vai lidar melhor com a adaptação do bebê ao nascimento, pois sua experiência transmite mais tranquilidade, especialmente no momento em que a criança começa a encarar as sensações do mundo “aqui fora”, como frio, fome e escuridão. “O que falta a ela em recurso físico sobra em maturidade”, acredita o médico.

Ele alerta, porém, que a mãe cinquentona não deve bancar a “supermulher” e achar que pode fazer tudo sozinha. É necessário pedir ajuda sempre que precisar e, além disso, expor para a criança suas próprias dificuldades, por meio de um diálogo aberto e franco. “É bom que, desde pequeno, ela inclua na comunicação com o bebê os aspectos emocionais das relações humanas e não queira bancar a super-heroína”, afirma o pediatra.

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