Os tipos de ciúme e o que desencadeiam este sentimento

Os tipos de ciúme e o que desencadeiam este sentimento

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:42

Quem nunca sentiu ciúme de um namorado, amigo, familiar, objeto? É um sentimento que faz parte da nossa vida. Mas, existe um limite para este sentimento? Quando ele deixa de ser normal? Para responder essas e outras questões, o Portal Arca Universal entrevistou o professor e psiquiatra Geraldo Ballone, criador do site www.psiqweb.med.br e autor dos livros “Histórias de Ciúme Patológico e  Da Emoção à Lesão” e “Psiquiatria e Psicopatologia Básicas”.

Por que sentimos ciúmes?

O sentimento de ciúme é natural no ser humano e em alguns animais, portanto, podemos dizer que o ciúme é um sentimento fisiológico e normal. Como acontece em tantos outros sentimentos, não existe uma explicação neurofisiológica relacionada ao ciúme.

Quais os tipos de ciúmes e as diferenças entre eles?

Temos três tipos de ciúme: normal, patológico e exagerado. O ciúme normal é um sentimento sadio e se relaciona ao cuidado e zelo para com algum objeto de ligação afetiva (algo ou alguém que mobiliza o afeto do sujeito, seja um animal doméstico, um amigo, irmão, pais e, finalmente, a pessoa amada). Este ciúme é protetor e não causa sofrimento, não é possessivo. O ciúme fica mais evidente quando o sujeito sente a ameaça de deixar de ser o principal interesse do outro.

O ciúme patológico não é apenas uma variação na quantidade do ciúme normal, mas também, e sobretudo, uma variação na qualidade desse sentimento. O ciúme patológico é aquele que causa sofrimento, tanto na pessoa ciumenta, quanto na pessoa objeto do ciúme. Trata-se de um sentimento desproporcional causado, desencadeado e agravado por situações irreais, fantasiosas e, nos casos mais graves, delirantes. O ciúme patológico é de autoria e responsabilidade exclusiva das pessoas ciumentas. Nasce e cresce nelas, e não é, como elas dizem, provocado pelas circunstâncias. As circunstâncias é que são deformadas pelo sentimento doentio do ciúme.

É importante não confundir ciúme patológico com ciúme exagerado. No ciúme exagerado existe apenas uma variação na quantidade do sentimento e não em sua qualidade. O ciúme exagerado também pode causar sofrimento, mas não obrigatoriamente. Nesse caso, o ciumento sofre mais do que a pessoa objeto do ciúme. Isso acontece, na maioria das vezes, quando existe autoestima baixa, insegurança, depressão, falta de autoconfiança.

Quando ciúme pode se tornar doentio?

Em geral o ciúme patológico faz parte de um conjunto de traços da personalidade. Esse sentimento não aparece como sintoma isolado em uma pessoa absolutamente normal. Habitualmente encontramos na pessoa ciumenta outras características não-normais. Isso não quer dizer que todos ciumentos têm a mesma personalidade, mas sim que podemos encontrar ciúme patológico em vários tipos problemáticos de personalidade, como, por exemplo, nas pessoas com traços paranoides, impulsivos, chamados borderline , e assim por diante.

Como amenizar o ciúme?

Em se tratando de ciúme exagerado, existe tratamento, felizmente. O tratamento, via de regra, se faz com psicoterapia, geralmente do tipo cognitivo-comportamental, e farmacoterapia, em geral com antidepressivos. O objetivo do tratamento é normalizar a autoestima e a autoconfiança. Os resultados são excelentes. Os casos graves de ciúme patológico, infelizmente, são de difícil tratamento. É mais difícil ainda porque o paciente quase sempre não se reconhece como doente, uma vez que ele pode funcionar muito bem nas demais áreas da atividade humana (raciocínio, memória, inteligência, capacidade profissional, etc.). Aqui, a psicoterapia tem um impacto menor como tratamento, e os medicamentos mais úteis podem ter resultados variáveis, desde satisfatórios até mais acanhados.

Quem é mais ciumento, o homem ou a mulher? Existe diferença na forma como homens e mulheres sentem ciúmes?

Apesar de o ciúme ser um sentimento igualmente distribuído entre os seres humanos, antigamente o ciúme masculino era visto como uma espécie de “fraqueza”. Dessa forma, os homens ciumentos, com ciúme normal ou mesmo exagerado, escondiam esse sentimento ou dissimulavam através de outros comportamentos, como, por exemplo, excesso de opressão, implicância, rispidez, agressividade. Hoje em dia, o constrangimento machista tem diminuído sensivelmente e esses casos aparecem praticamente com igual proporção e com os mesmos sintomas entre homens e mulheres.

Quais os fatores mais comuns que desencadeiam o ciúme?

Não podemos esquecer que os sentimentos, inclusive o ciúme, são sempre de autoria da pessoa que os sentem, assim, as causas de ciúme normal ou exagerado estão na pessoa ciumenta. A autoestima baixa é a principal razão nesses dois tipos de ciúme. Isso pode desencadear crises. No ciúme patológico, a problemática psíquica mais complexa é a responsável e, para pessoas normais, as crises de ciúme parecem ser desencadeadas do nada.

Que conselho deixa para quem é ciumento?

Para quem é ciumento o melhor conselho é ter a humildade de aceitar que tem este problema e querer se tratar para melhorar a qualidade de vida própria e das pessoas que ama. Para as pessoas que sofrem com o ciúme de outro, o melhor conselho é a determinação de exigir que o ciumento se trate. Não é justo, não é lícito e não é moralmente aceitável que alguém promova a infelicidade e o sofrimento do outro.

Há algo que queira acrescentar sobre o tema?

Um esclarecimento importantíssimo é a correção do grande mito sobre o ciúme ser consequência do amor. Muita gente tenta justificar as atitudes insensatas dizendo ter agido assim por amor. O amor é um sentimento maravilhoso e caracterizado, principalmente, por desprendimento, compreensão, carinho e uma profunda vocação para fazer o bem à pessoa amada. O ciúme, por outro lado, pode proporcionar o mal, pode escravizar, aprisionar, oprimir, tolher a liberdade, ferir moral e fisicamente e muitas outras coisas ruins. O ciúme não depende das circunstâncias ou, se depende, é minimamente. Isso quer dizer que não é a outra pessoa que desperta o ciúme, mas sim a pessoa ciumenta é que o sente, por sua conta. O ciúme depende, quase que exclusivamente, da cabeça do ciumento. Ele é de sua autoria e inteira responsabilidade.

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