Pronta para o biquíni? E quem está julgando?

Pronta para o biquíni? E quem está julgando?

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:40

Quando foi que ir à praia se tornou um teste que exige preparação e nervosismo?   Todas as primaveras, certo como as cerejeiras florescem, surge também a idéia de que as mulheres devem fazer dieta, exercício ou até lipoaspiração para ficarem prontas para o biquíni. Publicações femininas reforçam o conceito de que a preparação é essencial, com contagens regressivas que duram meses, como se a aparição na praia fosse um teste equivalente a um vestibular para medicina e só um preguiçoso se contentasse co um maiô.

“Realmente passa a mensagem de que você não merece usar uma roupa de banho”, diz Malia Mills, uma estilista de moda praia cuja marca tem o slogan “Ame Suas Diferenças”. Mills, 44, diz que as consumidoras muitas vezes vão a suas lojas e dizem que só estão olhando “e vão voltar quando perderem três quilos”. Enquanto nossa cultura endeusa cada vez mais a perfeição física, o biquíni se tornou uma peça que inspira medo e admiração. Mas não foi sempre assim. Na década de 1960, quando as peças que deixavam o umbigo à mostra se tornaram populares nos Estados Unidos, “era definitivamente um fenômeno juvenil”, afirma Sarah Kennedy, autora de “The Swimsuit: A History of Twentieth-Century Fashions.” Então a turma da alta-moda e as estrelas de cinema começaram a usar biquínis e, na década seguinte, o duas-peças já era usado “por todas as idades”.

Pneu na areia

E uns quilinhos a mais não desqualificavam ninguém, já que a revolução fitness ainda estava a mais ou menos uma década de distância. (No livro, há uma foto da década de 1940 que mostra uma jovem e ainda morena Marilyn Monroe linda em um biquíni listrado, exibindo um pneu pálido na cintura).

Nessa época, a preparação para o biquíni era bem liberal, se comparada aos padrões atuais. Em seu recém-publicado livro de memórias, a escritora Anne Roiphe conta, por exemplo, que em 1965, ela suspeita que um pretendente se interessou por ela não apesar de, mas por causa “dos tufos de cabelo preto que apareciam no topo do meu biquíni”. Mas, hoje, presume-se que apenas o magro, musculoso, careca e definido se sentirá confortável de biquíni.

“Está ficando muito difícil se sentir natural com um corpo normal”, diz Kennedy. “A discriminação contra a gordura é dominante. É aceitável ser mau com quem tem pneus ou gordura. É uma forma sutil de intolerância contra as pessoas que é muito ruim.”

Sorria

Graças à onipresença das câmeras, usar um biquíni hoje é assustador até para os lindos e famosos. Lembra de quando Jennifer Love Hewitt foi ridicularizada em 2007 pelo crime de vestir um tomara-que-caia sem ser manequim 36? Mas os comentários vêm mesmo para quem está em forma: Helen Mirren foi acusada de ter se submetido a cirurgia plástica quando ousou exibir sua (reta e tonificada) barriga de 62 anos em um biquíni vermelho um ano depois.

“A roupa de banho acaba sendo uma metáfora para a maneira com que encaramos uma série de coisas”, diz Gabrielle Reece, ex-jogadora de vôlei e agora guru fitness. “Por que nos punimos sem necessidade? Para que temer isso?” Mas o biquíni se tornou a estrela de muitas campanhas publicitárias que inspiram o medo.

Preparação

Amansala, um “centro de treinamento para o biquíni” com unidades na Espanha e no México, vende pacotes de seis noites a partir de R$ 3.000. “Nossa sociedade tem o estigma de estar apto para o biquíni – meu negócio vive disso”, diz Melissa Perlman, uma das donas do resort, que ela diz atrair principalmente mulheres na casa dos 30 e 40 anos. “Mas, ao mesmo tempo, nós passamos a mensagem de que você não precisa ser perfeita. Sinta-se bem, cuide-se e ficar bonita de biquíni será uma consequência”.

Clientes que cogitam frequentar o resort costumam ligar perguntando se todas as mulheres são como as que aparecem no site – ou seja, lindas e durinhas. Por isso, Perlman diz que pensa em criar um programa “para mulheres maiores que não querem ficar junto com aquelas que já ficam bem de biquíni, mas querem se preparar”.

Em abril, o cirurgião plástico Dr. Elie Levine e sua esposa, a dermatologista Dra. Jody Levine, realizaram em seu consultório um evento em de preparação para a temporada de biquíni para atender os preocupados. O anúncio dos médicos alertava que “o verão é tempo de se mostrar, e pode ser assustador se seu corpo não está pronto”, e seguia com uma lista de dicas como “sumir com vasinhos constrangedores” ou “aumentar sua confiança com uma lipo nas áreas mais teimosas”.

Este mês, quando visitei os médicos, levantei minha blusa ao final da entrevista, apontei para pele abaixo do meu umbigo, belisquei a gordurinha que não estava lá antes de eu ter filhos, quando ainda era uma triatleta. Eles recomendaram lipoaspiração com um procedimento anti-flacidez ou uma abdominoplastia, que tem uma recuperação dolorosa e custa R$ 15 mil.

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