Reprovados na fé

Reprovados na fé

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:28

Disse Jesus: "Quem é, pois, o servo fiel e prudente, a quem o senhor confiou os seus conservos para dar-lhes o sustento a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, quando vier, achar fazendo assim. Em verdade vos digo que lhe confiará todos os seus bens. Mas, se aquele servo, sendo mau, disser consigo mesmo: Meu senhor demora-se, e passar a espancar os seus companheiros e a comer e beber com ébrios, virá o senhor daquele servo em dia em que não o espera e em hora que não sabe e castigá-lo-á, lançando-lhe a sorte com os hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes." (Mt 24.45-51.)

Na Parábola do Bom Servo e do Mau encontramos a ênfase de servir ao Senhor, através do serviço aos nossos irmãos. Vemos, portanto, que o foco central é o cuidado de pessoas. Isso produz um ciclo de crescimento: à medida que crescemos em maturidade, espontaneamente desejamos servir aos irmãos; mas também, quanto mais os servimos, mais enxergamos que precisamos crescer e buscamos mais maturidade.

Didaticamente, podemos dividir essa parábola em duas partes: o trabalho e a recompensa dos servos fiéis (vv. 45-47) e o tratamento do servo infiel. Esse texto nos mostra que há dois tipos de servos dentro da Igreja: o fiel e prudente e o infiel. Mediante os comentários que já vimos nas parábolas anteriores, cremos que não se trata de um servo falso ou de um ímpio. Esse servo aponta para um crente nascido de novo, mas que tem sido negligente no seu chamado, na obra que lhe foi confiada por Deus. A intenção desta parábola é falar daquele que está qualificado e do que está desqualificado.

"Quem é, pois, o servo fiel e prudente, a quem o senhor confiou os seus conservos para dar-lhes o sustento a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, quando vier, achar fazendo assim. Em verdade vos digo que lhe confiará todos os seus bens." (Mt 24.45-47.)

1.  A casa

Esses servos trabalham na casa do seu senhor. A casa mencionada nesta parábola se refere a todos os crentes, ao Corpo de Cristo, ou seja, a Igreja. "Cristo, porém, como Filho, em sua casa; a qual casa somos nós, se guardarmos firme, até ao fim, a ousadia e a exultação da esperança." (Hb 3.6.) "[...] para que, se eu tardar, fiques ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade." (1Tm 3.15.)

Portanto, o contexto em que o Senhor está avaliando o trabalho dos servos é dentro da Igreja.

2.As incumbências

a. O cuidado dos conservos. A primeira incumbência do senhor dada àqueles servos foi o cuidado dos seus conservos. A Palavra diz: "A quem o senhor confiou os seus conservos". A incumbência do senhor não era realizar um trabalho, mas cuidar um dos outros. Servimos a Deus, servindo os nossos irmãos.

Cuidar dos conservos nos fala da autoridade que nos foi confiada. No entanto, muitos pensam que esse versículo se dirige somente aos pastores e líderes. Estão enganados. Precisamos entender que cada membro da Igreja possui uma esfera de autoridade. Numa igreja de vencedores, cada membro é um ministro, portanto, recebeu do Senhor uma porção da sua autoridade para o cumprimento do propósito.

b. Dar o sustento. Num segundo momento, vemos que o propósito do Senhor era que os servos dessem sustento aos outros da casa. Isso aponta para o ministério de cada crente. Sabemos que não há como um pastor alimentar todo o seu rebanho de maneira eficiente, a não ser que todo o Corpo de Cristo realmente funcione através de seus membros. Cada membro tem um ministério, cada um possui uma esfera de responsabilidade. "Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor." (Ef 4.15, 16.)

Quando ganhamos alguém para Cristo, recebemos a incumbência de cuidar e sustentar essa pessoa espiritualmente. O evangelismo é uma prioridade na Igreja, mas não é a única. Para construirmos uma casa, precisamos de tijolos, areia, cimentos, vigas e colunas. No entanto, sabemos que somente esses materiais não são uma casa. Somente se tornam casa quando estão bem ajustados, consolidados e vinculados. Assim também é com a Igreja. Há muitos ministérios que se intitulam igrejas, mas na verdade são um monte de tijolos reunidos.

Mais do que ganhar almas, o nosso objetivo é a edificação. Algumas pessoas pensam que o objetivo de Deus é a salvação. A salvação é apenas o conserto da rota. Ganhar pessoas é o meio e não o fim. O alvo do Senhor é ter filhos semelhantes a Jesus, mediante a edificação de Sua Igreja (Ef 4.11, 12.)

Todo membro é responsável pela consolidação dos novos convertidos que sempre estão chegando ao nosso meio. Uma célula saudável, bem como uma igreja saudável, é aquela onde cada membro tem o senso da sua responsabilidade, de sua função no Corpo, desempenhando como encargo o seu ministério.

Certa vez uma irmã me parou ao final de um culto e me disse: "Pastor, eu não gosto de ficar sentada na igreja, eu não sou crente de banco. Eu preciso que o senhor me arrume algo para fazer nesta igreja, senão eu vou para outra". Na sua mentalidade religiosa, ela estava atrás de algum cargo para trabalhar na estrutura da igreja. Com um olhar assustado eu perguntei para ela: "Irmã, você não está fazendo ainda?" Então, eu comecei a fazer uma série de perguntas sobre situações em que ela poderia fazer algo na igreja, servindo aos irmãos da sua célula. Isso é trabalho de Deus. Na igreja em células, sempre há espaço para todos servirem ao Senhor. Muitos não ajudam dessa forma, porque não consideram isso como obra de Deus. Podemos servir a Deus, por meio dos conservos que Deus confiou a nós.

A edificação do corpo muitas vezes é mais importante até mesmo do que a multiplicação da célula. Edificar implica em termos relacionamentos que testemunhem a graça e o amor de Deus. O casal mais velho deve ensinar o casal mais novo como se comportar no casamento; a mulher mais velha deve ensinar a mais nova como se vestir, como se comportar. O irmão mais velho deve ser um referencial e um consolidador, um "anjo da guarda" daqueles que chegam ao nosso meio. Não sejamos espirituosos. Esse é o meio pelo qual o Senhor espera que sejamos encontrados fiéis.

O ministério básico de cada crente é dar comida na época certa, ou o sustento a seu tempo como diz no verso 45. Todos estão envolvidos. Os pecadores precisam ter uma experiência de arrependimento e obediência e os membros precisam ser nutridos na Palavra de Deus e na unção do Espírito. Mais importante do que qualquer ajuda que possamos dar a um irmão, é alimentá-lo com boa e saudável comida espiritual. Sustento nos fala de alimentar. Na Bíblia, dar comida é uma relação espiritual.

O texto afirma que a comida deve ser dada a seu tempo (v. 45). Isso demonstra que há um tipo de comida adequado para cada tipo de conservo. Assim como no natural, se dermos uma feijoada para um recém-nascido, certamente teremos sérios problemas, podendo até levá-lo à morte. Cada pessoa tem um nível de comida e uma hora certa para se alimentar. Precisamos de sabedoria para descobrir que tipo de comida devemos dar a cada um dos conservos. Isso nos fala de consolidação. Consolidar é ver se o tijolo que acabou de ser colocado na casa possui a argamassa que o liga à parede, que está ligada à coluna, que está presa ao alicerce. Consolidar é fechar a porta dos fundos.

Cuidar de crianças dá trabalho, exige dedicação quase exclusiva. Quando começa a comer, requer alimentação especial. Tem dia que não quer comer. Certo dia, minha filha não queria comer. O que você pensa que eu fiz? Será que eu desisti dela e deixei ela decidir por si mesma? É claro que não. Eu fiz aviãozinho, brinquei com ela, a distraí e até mesmo enfiei comida "goela abaixo". Uma criança não tem condições de decidir por si mesma, porque é criança. Um líder que abandona uma criança na fé, declarando: "Eu tentei, mas ela não quer. Eu não vou trabalhar com quem não quer", está sendo infiel ao que lhe foi confiado. Até parece sábio o seu discurso, mas mostra indisposição e infidelidade. Só podemos dizer isso para o adulto. Criança não tem opção de decidir, porque ela não sabe o que quer e nem o que é melhor para sua vida. Quando ela for adulta, ou seja, tiver luz e entender, ela poderá escolher. Enquanto isso, temos a responsabilidade de lhe dar o sustento e cuidá-la, servindo ao Senhor. Pais espirituais são aqueles que fazem de tudo para cuidar dos filhos que lhe foram confiados.

Alguém pode dizer: "Isso não é trabalho para mim, eu não sou o pastor". A meu ver, a função do pastor está mais ligada à instrução. Sustentar o conservo é função de cada membro da Igreja. Todos somos ministros e temos pessoas que dependem, que esperam algo de nós.       

3. A exigência do senhor

O verso quarenta e cinco diz que a exigência do Senhor é que seus servos sejam fiéis e prudentes. A palavra prudente pode ser também traduzida por sábio. Fidelidade e sabedoria são requeridas a todos aqueles que vão servir a Deus.

A fidelidade de um servo é para com Deus; a sabedoria, para com os irmãos. Muitas pessoas invertem esse conceito. No entanto, na Bíblia, fidelidade é em primeiro lugar para com Deus. Quem é sábio, o é nos seus relacionamentos com os homens.

A fidelidade aponta para a nossa identidade com Deus, em respondermos naquilo que fomos chamados, nos dons que nos foram confiados e aprender a cuidar dos filhos que recebemos do Senhor.

A sabedoria nos fala das estratégias que recebemos de Deus para cumprirmos o seu propósito. "Como posso consolidar esse irmão? Como eu vou fazer para multiplicar meus talentos, os dons que me foram confiados? Qual será minha estratégia para ganhar meus amigos para Jesus?" Temos que ser fiéis e sábios se queremos ser qualificados como vencedores.

4. A recompensa do bom servo

Os versos 46 e 47 nos dizem que o servo fiel receberá a recompensa. O Senhor lhe confiará todos os seus bens. Isso significa que ainda não estamos na posse de todos os bens de Deus. Apocalipse 11 diz que os reinos e as nações deste mundo se tornarão patrimônio do Senhor Jesus Cristo. Estes são os bens do Senhor. Se cuidarmos daqueles que o Senhor nos deu, Ele confiará nações para governarmos. Que coisa tremenda e maravilhosa!

Hoje estamos encarregados de uma obra pequena, que na verdade é um treinamento e um teste para ver se somos aptos para assumir uma obra maior no reino. Se somos egoístas e preguiçosos aqui, não temos chance de reinarmos lá.

5. O tratamento do servo infiel

A primeira questão que precisamos saber é que este servo era crente, mesmo sendo infiel. Vejamos algumas ponderações que ratificam essa afirmativa:

a. O servo infiel está incluído entre os servos mencionados no verso 45, ou seja, aqueles que foram incumbidos de cuidar dos seus conservos.

b. No verso 48, o servo infiel chama o Senhor de "meu senhor", o que indica um relacionamento pessoal com Cristo.

c. Ele realmente acreditava que o Senhor voltaria. No mesmo verso, a Palavra diz que este servo dizia consigo mesmo: "Meu senhor demora-se". Sua falha foi pensar que o Senhor iria demorar. Há muitos crentes que não esperam a vinda do Senhor nos seus dias. Muitos irmãos não têm um coração desejoso pela volta do Senhor.

d. Como o Senhor poderia confiar os conservos verdadeiros a um servo falso? Você confiaria seu filho nas mãos de uma pessoa desconhecida? Deus, sendo amoroso e cuidadoso, jamais confiaria seus servos, tão preciosos, nas mãos de um servo falso. Portanto, esse servo não era falso. Ele mostrou ser infiel, mas não falso.

Sabemos que há argumentos contra esse pensamento. Na maioria das igrejas não se fala destes assuntos, porque não há uma preocupação com a edificação. Infelizmente, na grande maioria das igrejas a preocupação é apenas fazer algum evento, encher o prédio. Muitos nem estão preocupados com a salvação das pessoas. Como essas igrejas não têm a preocupação de formar vencedores, elas têm a postura muito cômoda: "Não temos que preocupar mais com isso. Todos somos vencedores". Sabemos que na Palavra não é assim. Muitos serão chamados, mas poucos escolhidos. Cada crente irá prestar contas diante do Senhor no Tribunal de Cristo.

Algumas igrejas creem que esse servo infiel era um servo falso, que ele não era crente. Por que usam essa argumentação?

- Por causa da sua conduta. Eles dizem: "Como pode um crente beber com ébrios e espancar os seus irmãos?" Nossa resposta é muito clara: um crente regenerado ainda é capaz de cometer qualquer tipo de pecado. Um exemplo disto está no livro de 1 Coríntios 5.5. Aquele homem cometeu adultério com sua própria madrasta e ainda assim foi salvo.

- Por causa do seu julgamento. O verso 51 diz: "E castigá-lo-á, lançando-lhe a sorte com os hipócritas". Muitos argumentam que desde que ele teve a sorte com os hipócritas, ele não deve ser salvo. O que podemos dizer é que, se um servo infiel tem agido com hipocrisia, da mesma forma que os incrédulos, ele vai receber uma porção semelhante daquilo que será reservado para estes incrédulos. O texto nem afirma que eles serão julgados juntos, mas que este servo receberá um destino semelhante. Semelhantemente, não fala de perdição, mas sabemos que aqueles que não receberam a recompensa serão excluídos da presença do Senhor por um tempo.

- Por causa da punição. O verso também afirma que ali haverá choro e ranger de dentes. A descrição aqui é semelhante à punição de Lucas 12.47, 48, onde se diz que o servo infiel receberá muitos açoites, o que nos fala de uma disciplina, mas não de perecer no inferno. O Senhor vai disciplinar os seus servos. Choro e ranger de dentes nos fala de contrição e arrependimento profundo. Esse servo se arrependerá amargamente por reconhecer que poderia ter feito e não fez, que poderia ter sido fiel e não foi.

6. A falta do servo infiel

No verso 49 vemos que a sua falta foi dupla:

a. Em primeiro lugar, ele passou a espancar os seus conservos. Espancar nos fala de um mau uso da autoridade. Esta palavra, em primeiro lugar, é para nós, os pastores. Há muitos pastores que têm usado de autoridade para ferir o rebanho. Há muitas igrejas em que os membros não podem dar nem sugestão, quanto mais fazer algum tipo de crítica.

Na Igreja, há a autoridade. Precisamos ter cuidado na maneira como a usamos. Todos aqueles que consolidam alguém exercem autoridade. Nós não usamos da nossa autoridade para dominar ninguém. Devemos ser cautelosos na maneira de exortar e disciplinar.

b. O servo infiel passou também a comer e beber com ébrios. Este servo tornou-se mundano. Ao se tornar mundano ele passou a se alimentar do lixo do mundo. Consequentemente, ele não alimentava direito o filho.

Uma coisa terrível é alguém ébrio. Eu me lembro que meu pai era alcoólatra. Minha mãe saía ao trabalho e o deixava encarregado às vezes de comprar alguma coisa. Você acha que ele comprava? Nem lembrava. Ia para o bar e se esquecia da vida. O ébrio não dá conta de cuidar nem de si mesmo. Assim acontece na igreja: quando ficamos embriagados com dinheiro, com as coisas do mundo e seus prazeres, para Deus, isso é comer e beber com beberrões. O homem do mundo está embriagado pelo pecado.

Algum irmão pode dizer: "Pastor, isso quer dizer que eu tenho que ficar em função da igreja? Eu não posso mais trabalhar, ter um emprego secular?" É claro que as pessoas podem e devem trabalhar. Mas trabalhe como se não trabalhasse, ou seja, tenha consciência que você está neste lugar porque Deus lhe colocou para ser luz em meio às trevas. Trabalhe como se trabalhasse para o próprio Senhor. Onde você estiver, esteja com Deus. Você não tem que ficar o dia todo no prédio da igreja e nem tampouco estar envolvido em algum cargo da organização da igreja. Deus lhe colocou no seu trabalho, faculdade, escola para que você seja um ministro dele naquele lugar.

Temos que estar envolvidos em todo o tempo com o Senhor Jesus. Onde estamos, falamos do seu maravilhoso Evangelho, da sua graça e amor. Eu não me esqueço de quem eu sou e nem a quem eu sirvo. Quando esquecemos quem somos, estamos embriagados. Este é o ébrio; alguém que nem sabe quem ele é.

Qualquer pessoa que não acredita na volta iminente do Senhor é um servo infiel. A razão desse servo ter se tornado infiel é porque o seu senhor estava demorando. Se o senhor tivesse voltado mais cedo, ele teria sido encontrado fiel. O teste foi a demora. O tempo é um tremendo teste para nós em todos os aspectos: quando esperamos receber algo de Deus, como um teste de fé; mas também quando já julgamos haver recebido algo do Senhor. Todo homem tende ao comodismo, a se conformar com o que alcançou e, desta forma, muitos perdem o foco, o padrão de Deus. Foi isso o que aconteceu com esse servo, ele se embriagou com as coisas desta vida. Certa vez eu afirmei a uma irmã: "Pode ser que o Senhor volte e você nem tenha casado ainda". Ela respondeu: "Misericórdia, pastor. Eu quero casar primeiro". Coitada dessa irmã! Ela está completamente fora do padrão, está pensando que casamento é melhor do que a volta de Jesus. Que Deus possa focá-la no reino do Senhor.

Devemos estar entre aqueles que amam a vinda do Senhor (2Tm 4.8), que a cada dia renovam-se no Espírito, aumentando a paixão, o encargo e o zelo pela edificação da sua noiva, a Igreja gloriosa.

Postado por: Felipe Pinheiro

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