Sacerdote do próprio lar

Sacerdote do próprio lar

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 3:29

Creio que uma das situações que mais orgulha um pai ou uma mãe é quando um filho tenta imitá-los. Um pai pega martelo e pregos, e o filho faz a mesma coisa. Uma mãe troca a fralda do neném, e a filha troca a fralda da boneca. Neste processo, de vez em quando os filhos também envergonham os pais, como aconteceu quando uma mãe pediu que sua filhinha orasse antes de uma refeição com várias visitas em casa. "Mas não sei o que orar, mamãe!" Sua mãe disse: "Diga o que você ouve mamãe falando para o Papai do Céu". Então a filha orou: "Meu Deus, por que eu convidei tanta gente para almoçar aqui em casa hoje?"

Apesar da vergonha que às vezes passamos, pais cristãos realmente têm a responsabilidade de formar seus filhos à imagem de Cristo Jesus (Romanos 8.29). Assim como o apóstolo Paulo declarou em I Coríntios 11.1: "Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo." O pai deve ser um modelo de Cristo para o filho, para que ele siga seus passos.

Podemos, então, traçar um paralelo entre o pastor de uma igreja e um pai de família. A responsabilidade de imitar Jesus é requerida por Deus tanto aos líderes espirituais quanto aos pais.

Pense no que diz I Timóteo 3.4-5, quando lista as qualificações de um pastor-presbítero: "... e que governe bem a sua própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo respeito, pois se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?" A pessoa escolhida para liderar o rebanho de Deus adquire experiência, autoridade e credibilidade exercendo o pastoreio junto ao pequeno rebanho que Deus lhe concedeu: sua família.

Creio que podemos dizer que todo pai é um pastor do rebanho que Deus lhe concedeu (e que toda mãe tem a responsabilidade de cuidar das almas daqueles pequeninos que Deus colocou em seu aprisco). É interessante traçar o paralelo entre os papéis do pastor e do pai. Vamos ver pelo menos três responsabilidades paralelas entre os dois:

Intercessão

Segundo Atos 6.2 e 4, uma das primeiras grandes responsabilidades do líder espiritual é a oração. O grande patriarca Jó era um pai-pastor. No primeiro capítulo do livro, Jó é descrito como um homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal (1.1). A Bíblia destaca a maneira como Jó demonstrava sua piedade: ele intercedia por seus dez filhos. Ele ficava preocupado com o bem-estar espiritual deles, especialmente depois das festas e banquetes que realizavam. Lemos o seguinte: "Decorrido o turno de dias de seus banquetes, chamava Jó a seus filhos e os santificava; levantava-se de madrugada e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles, pois dizia: "Talvez tenham pecado os meus filhos, e blasfemado contra Deus em seu coração". Assim o fazia Jó continuamente" (Jó 1.4,5).

"Os pais intercessores erguem paredes de proteção ao redor de seus filhos, preocupando-se com seu bem-estar e com seu relacionamento com o Senhor".

Cada vez que leio este texto, lembro-me de meu avô paterno. Uma das minhas primeiras lembranças é a do vovô ajoelhado ao lado do sofá, de madrugada, intercedendo pela família. Aquilo deixou uma profunda marca em minha vida, e certamente explica uma das razões por que vários de seus netos são hoje ativos no ministério. Os pais que oram por seus filhos devem interceder para que eles não sejam enredados pelas armadilhas do pecado. Os pais intercessores erguem paredes de proteção ao redor de seus filhos, preocupando-se com seu bem-estar e com seu relacionamento com o Senhor.

Assim como uma vítima da Aids não tem defesa imunológica contra doenças, o pai que não intercede por seus filhos os expõe aos perigos do pecado. Não creio que isto seja uma defesa mística, muito menos uma fórmula mágica, mas uma expressão paterna de dependência de Deus e clamor por sua graça.

O pai que ora continuamente por seus filhos certamente também agirá para protegê-los contra o pecado.

Mas como orar pelos filhos? Tenho seis filhos e oro direto por eles. Gostaria, então, de compartilhar a forma que utilizo como guia em minhas orações por eles. Como eu, um pai pode orar:

Pelo caráter dos filhos: que o fruto do Espírito desenvolva-se neles (Gálatas 5.22) junto com a compreensão de sua identidade pessoal como filhos de Deus, em Cristo (Efésios 1.15-23; 3.14-21);

Pela carreira que deverão escolher: que os filhos sejam usados para expandir o Reino de Deus no mundo, na profissão que abraçarem (Lucas 10.2);

Pelo casamento deles: que Deus direcione os filhos aos cônjuges com quem compartilharão a chamada que receberam, pelo resto de suas vidas.

Continuando o paralelo entre o pastor e o pai, podemos dizer que o mesmo pastor que se dedica à oração também exerce o ministério da Palavra. O pai-pastor também se preocupa com o ensino de seus filhos.

"O pai que realmente ama seu filho precisa intervir quando ele deixa o caminho da instrução"

Instrução

Os pais estão sempre ensinando seus filhos através de palavras, ações e atitudes. É impossível escapar do olhar destas pequenas ovelhas que admiram tanto seus pastores. Sempre estamos transmitindo o que somos para elas. Com o tempo, os filhos tornam-se o que os pais são. Por isso, o pai-pastor tem que reconhecer que também é um pai-professor, sempre instruindo seus filhos e vacinando-os contra a amnésia espiritual.

Amnésia espiritual é a doença que aflige os filhos cujos pais não se esforçam em transmitir sua fé para a próxima geração. A memória de Deus pode ser apagada da vida de um filho pela negligência dos pais. Esta doença atingiu uma geração inteira do povo de Israel depois do Êxodo, quando "outra geração se levantou, que não conhecia ao Senhor, nem tão pouco as obras que fizera a Israel" (Juízes 2.10). Isto porque os pais que haviam experimentado tantos milagres e a presença do Senhor não levaram a sério o conselho dado por Moisés em Deuteronômio 6.6-9: "Estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas."

Conforme esses versículos, o pai-professor deve aproveitar toda oportunidade para ensinar a seus filhos os valores e os princípios bíblicos transmitidos pelo Supremo Pastor. A Palavra deve ser ensinada pelo pai-professor formalmente e informalmente, propositadamente e espontaneamente, em todo lugar e em qualquer lugar, em todo tempo e o tempo todo. Isto não é fanatismo, nem hipocrisia, mas um estilo de vida exemplificado, que avalia a inteireza da vida por uma perspectiva bíblica. "O pai que ama a Deus de todo coração transmite sua fé à outra geração!"

Intervenção (correção)

A última responsabilidade do pai-pastor segue-se naturalmente às duas primeiras. Provérbios 22.6 convoca o pai para "ensinar a criança no caminho em que deve andar, e ainda quando for velha, não se desviará dele". Junto com este texto, Efésios 6.4 alerta os pais (o termo "pais", neste trecho, refere-se especificamente aos homens) a "não provocar seus filhos à ira, mas criá-los na admoestação e na disciplina do Senhor".

Assim como o pastor do rebanho vai atrás das ovelhas desgarradas e, às vezes, precisa discipliná-las para evitar perigos maiores longe do aprisco, os pais precisam intervir na vida dos seus filhos com uma disciplina equilibrada.

O equilíbrio entre a instrução e a intervenção, ou seja, disciplina, pode ser entendida por meio de uma analogia. O pai vai à frente do seu filho para cavar uma trilha ou valeta em que o filho possa caminhar. No início, a valeta é rasa, e o filho sai dela com facilidade.

Quando isto acontece, o pai coloca o filho de volta na trilha cavada com firmeza e amor. Com o passar de tempo, a valeta vai ficando cada vez mais funda, e o filho só poderá escapar dela com grande esforço. Quando isto acontece, o pai torna a colocá-lo no caminho. Após os 18 anos, a trilha deverá ser tão profunda que, se o filho quiser sair do caminho do Senhor, só poderá fazê-lo se chamar o Corpo de Bombeiros ou utilizar uma escada. É possível, mas não muito provável.

O pai que realmente ama seu filho precisa intervir quando ele deixa o caminho da instrução. O livro de Provérbios recomenda o uso da vara, uma conseqüência artificial, mas estruturada pelos pais, para desviar os filhos do pecado. Deve ser aplicada com força suficiente para arder, mas nunca ferir a criança. Assim, o pai ajuda o filho a associar o erro com a dor, evitando conseqüências piores no futuro, trazidas pela própria vida.

Anos atrás, vi algo que me ajudou a entender o papel dos pais na disciplina dos filhos. Naquela ocasião, eu estava na África com um time de futebol, jogando em várias aldeias, procurando construir pontes de amizade entre os missionários e o povo. Num domingo, tive a oportunidade de pregar em uma colônia de pessoas leprosas. Aprendi muito sobre aquela doença, que faz com que as pessoas percam dedos, mãos, orelhas e outros membros de seus corpos.

Descobri que o problema da lepra não é que a doença em si ataca as extremidades do corpo, mas que tira a sensibilidade dos nervos. A pessoa atingida perde a sensação de dor e, por isso, torna-se insensível a machucados, que acabam destruindo o próprio corpo. Da mesma foram, os pais que se recusam a disciplinar seus filhos podem condená-los à lepra espiritual. A dor artificial proporcionada pela vara cria nervos espirituais pelos quais o filho aprende a evitar o pecado.

Se não forem corrigidos no presente, a falta de sensibilidade espiritual pode, no futuro, levar o filho a receber os açoites da vida, e o perigo será bem maior.

Relembrando: pela intercessão, o pai-pastor protege seus filhos contra a Aids espiritual; pela instrução, contra a amnésia espiritual; e pela aplicação da disciplina equilibrada, os protege contra a lepra espiritual. Realmente, é uma responsabilidade que abrange 24 horas do dia. Alguém, certa vez, comentou acertadamente sobre a responsabilidade de se criar filhos:

"Qualquer um pode gerar um filho; mas, para ser pai, é necessário ser especial." Que Deus nos dê a graça para, apesar das nossas muitas falhas, sermos pais-pastores para nossos filhos!

Escrito por: David J. Merkh - professor do Seminário Bíblico Palavra da Vida, em Atibaia (SP), mestre em teologia pelo Seminário Teológico de Dallas (EUA) e trabalha nos ministérios de casais e jovens da Primeira Igreja Batista de Atibaia. Casado com Carol Sue, tem seis filhos de 7 a 17 anos de idade.

Sugestão de leitura O poder dos pais que oram, de Stormie Omartian (Mundo Cristão)

Este conteúdo foi útil para você?

Sua avaliação é importante para entregarmos a melhor notícia

Siga-nos

Mais do Guiame

O Guiame utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência acordo com a nossa Politica de privacidade e, ao continuar navegando você concorda com essas condições