Ser mãe aos 20: "Primeiro os filhos, depois a vida profissional"

Ser mãe aos 20: "Primeiro os filhos, depois a vida profissional"

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:01

Engravidar aos 20 e poucos anos raramente é uma escolha das mulheres do século atual. Pelo contrário: com a procura feminina de se estabelecer na vida profissional antes da chegada dos filhos, a maternidade após os 40 anos se tornou mais comum ao longo das últimas décadas, mesmo com menores chances de ocorrer – pela diminuição da fertilidade dos óvulos e por outras dificuldades que podem surgir ao longo dos nove meses. Mas a fisioterapeuta Flávia Regina do Nascimento, de 34 anos, preferiu manter-se na linha das mães jovens: sua primeira gestação foi aos 21 – e planejada.

Determinada, Flávia afirma que a vontade de ter filhos cedo prevaleceu desde a adolescência. “Hoje em dia a gente vê que as mulheres focam muito mais o lado profissional antes de terem filhos, mas eu pensei o contrário: eu queria ter filhos primeiro porque queria crescer junto com eles”, diz. E tudo aconteceu como planejado: após decidir com o ex-marido que iria engravidar – mesmo quando ela ainda morava sob o mesmo teto que os pais –, aos 22 anos Flávia dava à luz um menino que se chamaria Alexandre. Mas não sem antes viver um período de conflito com os avós da criança.

“Meus pais nunca gostaram do meu ex-marido, que é 11 anos mais velho que eu. Por isso foi complicado quando conversamos sobre a minha gravidez. Mesmo assim, eles disseram que eu poderia continuar morando com eles, mas acabei indo morar com o pai do Alexandre mesmo”, conta. Ela, que acordou no dia após a comemoração do aniversário de 22 anos com a certeza de que estava grávida, teve a primeira gestação sem muitos percalços. Embora tenha engordado 20 quilos – “mas como eu estava bem magrinha na época, não teve problema” –, Flávia continuou sua rotina, acreditando que saberia cuidar de tudo quando o filho nascesse.

Mas tudo mudou quando Alexandre chegou. “Quando ele nasceu, fiquei uma semana na casa da minha mãe para que ela me ajudasse. Mas eu queria fazer tudo por ele”, explica ela. Dar banho, trocar a fralda, colocar para dormir: para tudo que Alexandre precisasse, Flávia estava ali ao lado, até por volta dos dois anos de idade dele. “Eu só me dedicava a ele na época, não trabalhava e tinha parado com a faculdade. Não é à toa que fomos e somos bem grudados”, afirma, contente. Tão contente que os planos maternos não pararam por aí: três anos depois, ela engravidava novamente, agora de Ana Júlia.

“Eu sempre quis ter um menino e uma menina que não tivessem uma diferença muito grande de idade e, embora eu já não estivesse muito bem com o pai deles, não desisti”, conta. Flávia assume que, na época com 25 anos, parou de tomar a pílula e seu ex-marido só ficou sabendo da decisão quando ela já estava grávida: “pensava que tinha que ser com o mesmo pai e, se não desse certo, depois eu decidia a minha vida”.

Após um período de muito enjoo e azias ocasionadas pela segunda gravidez – “a partir dos seis meses eu só dormia sentada por causa da azia que me dava” –, além de duas crises de ciatalgia, quando teve dor e imobilidade da coluna para baixo, Flávia deu à luz Ana Júlia. “Eu acabei até adiantando um pouco o parto porque eu não aguentava mais carregá-la”, explica. Um ano e meio depois do nascimento da filha, veio a separação do casal. “A partir daí era só eu e os dois, o tempo todo”.

Tudo sozinha

O começo da vida de solteira com dois filhos não foi tão fácil. “Como eu fazia tudo sozinha, já que ele nunca trocou uma fralda ou acordou de madrugada para vê-los, a parte financeira foi a que me pesou mesmo”, lembra. Naquele momento, além de assumir todas as tarefas relativas às crianças, ela teria que sustentá-los. E sustentar a si mesma, claro. No entanto, Flávia contou com a ajuda dos pais para se estabilizar nesta nova fase. “Sempre contei com eles, então não tive tanto medo”, afirma.

Quando se separou, em 2003, Flávia já estava prestes a terminar a segunda faculdade e continuava trabalhando a partir de casa, cumprindo também o papel de dona de casa e mãe. “Antes deles eu sempre trabalhei na área comercial, então voltei à ativa: fiz um monte cursos, uma pós-graduação, mas tudo já sozinha com eles”, conta. Neste novo início, Flávia completava 27 anos e já estava acompanhada de duas crianças – o que para muitas jovens de hoje parece um cenário impossível de acontecer.

“Por ter engravidado na idade em que engravidei, eu acabei me formando somente aos 26 anos – o que poderia ter feito aos 22 – e deixei de fazer muita coisa que via meus amigos fazendo: enquanto eles estavam viajando juntos e saindo para as baladas, eu estava em casa tomando conta dos filhos. Minha mãe nunca fez isso por mim, só se fosse de extrema necessidade”, lembra Flávia. Para ela, essa passagem da vida não é algo ruim, e sim exatamente o que ela queria ter feito. “Eu consegui me dedicar inteiramente a eles e hoje, além de fazer tudo que eu poderia e gostaria de ter feito com 20 e poucos anos, eu os tenho como companheiros e os levo junto para onde for, de viagens a passeios”, diz.

Satisfeita com as opções que fez aos vinte e poucos anos, Flávia afirma que engrenar na vida profissional depois de ter Alexandre e Ana Júlia mais crescidos foi mais propício do que ter que parar tudo o que estava fazendo para ficar ao lado deles. “Hoje eles são maiores e já sabem o que acontece, então eu consigo focar no lado profissional. Como eu teria filho agora, se trabalho das sete da manhã às 10 da noite? Como eu amamentaria?”, questiona. Ela também acredita que não teria mais a mesma paciência e disposição que teve. “Se eu tivesse filho agora, com 30 e poucos anos, eu ficaria pensando que iria perder meu lugar no mercado ao largar tudo para cuidar dele”, explica.

Arrependimento zero

Em nenhum momento Flávia se arrependeu do que fez. “Nem quando me separei e a situação ficou bem difícil. Muito pelo contrário: amadureci”, garante. Segura de que fez exatamente o que havia planejado, ela conta que faria tudo de novo se fosse preciso. “Agora é a minha irmã que teve bebê com 31 anos, e a família está passando por todo esse contentamento novamente, depois de oito anos”.

“O Alexandre é um menino de 11 anos que conversa sobre tudo comigo. Outro dia me contou que beijou uma menina, e a gente conversa sem nenhum preconceito, sem nenhuma vergonha”, conta, orgulhosa. Por fazer com que ele e Ana Júlia participem completamente da vida dela, Flávia espera que eles levem isso como um exemplo a ser seguido no futuro. “O que eu espero é que eles sejam jovens e adultos bacanas, que sejam honestos e que corram atrás do que querem – assim como eu fiz”.

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