Síndrome de Pinóquio. Seu filho está fantasiando ou dizendo a verdade?

Síndrome de Pinóquio. Seu filho está fantasiando ou dizendo a verdade?

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:14

Ao contrário do que muita gente grande pensa, a fantasia não é o oposto da realidade. Ela é um jeito que a criança tem de conseguir dar forma a uma coisa que está ausente. É por isso que os pequenos inventam tantas histórias, contam casos imaginários, criam amigos que não existem.

 A criança aprende as coisas por meio de símbolos e essas representações são a verdade para ela – a mais pura verdade! As histórias inventivas de crianças até 6, 7 anos fazem parte de um pensamento infantil egocêntrico próprio dessa idade. Elas acreditam sinceramente que aquilo que imaginam é real. E que o mundo gira sempre em torno delas. O amadurecimento dos nossos filhos é um processo lento e gradual, que não deve ser atropelado por nossas inseguranças e ansiedades. A partir dos 2 anos, a criança começa a elaborar novas formas de pensar e, com o passar dos anos, a fase das invenções tende a diminuir naturalmente, embora elas ainda brinquem com a realidade e criem situações imaginárias.

Monstro no armário

 Até os 7 anos de idade, portanto, é muito comum confundir fantasia com realidade. "Os pais não precisam ficar aflitos quando uma criança de 4 anos jura que tem um monstro dentro do armário. E também não devem achar que, assim que ela completa 7 anos, precisa adquirir uma noção perfeita da realidade. Cada criança amadurece num ritmo, o papel dos pais é estar atento para perceber se, aos poucos, o filho começa a ter mais noção do que é de verdade e do que é faz-de-conta", explica a psicopedagoga e vice-presidente da Associação Brasileira de Psico-pedagogia (ABPp) Maria Irene Maluf, mãe de Maria Paula e Maria Fernanda.

Ninguém gosta de admitir que o filho mente. Ele pode ser criativo, inventivo, cheio de imaginação. Mas mentiroso não, isso nunca! E, dependendo da idade, realmente pode ser que ele esteja apenas representando as coisas à sua maneira, sem nenhum outro objetivo. "Se as mentiras do João Pedro, 3 anos, não fossem tão surreais, eu acreditaria nelas só pela convicção com que meu filho as conta. Quando ele não quer tomar uma sopa, por exemplo, diz, todo sério, que o dinossauro que mora no seu quarto avisou que a tal da sopa dá uma tremenda dor de barriga. Outras vezes, ele olha fixo para um ponto e conversa um tempão com seu amigo imaginário", conta Juliana Gama, de Extrema, Minas Gerais, mãe também de Tiago e Isabella.

O amigo imaginário costuma aparecer entre crianças de mais ou menos 3 anos. "Essa é uma brincadeira muito gostosa, os pais não têm com que se preocupar. É uma relação que ajuda a criança a elaborar as coisas. Ela tem o comando completo da situação, manda o amigo imaginário ir embora quando não quer mais brincar, bate nele quando tem vontade, reclama, conta as coisas boas que aconteceu. Com o tempo, a criança costuma deixá-lo para trás", diz Magdalena Ramos, mãe de Victoria e Carolina, psicóloga e terapeuta familiar.

Segundo os especialistas, não é preciso temer que uma criança que invente amigos deixe de ter amizades verdadeiras. Meninos e meninas que criam companheiros na verdade o fazem exatamente por serem muito sociáveis. A fantasia é muito importante na vida das crianças, faz parte do seu desenvolvimento e deve ser estimulada de maneira saudável. "Ler livros de fábulas, colocar a criança para fazer uma atividade artística, como tocar um instrumento, participar de um teatrinho, tudo isso ajuda a fazer da fantasia algo bom, bem canalizado", sugere Irene Maluf.

Dando o exemplo

Castigar a criança que mente, bater, ser extremamente duro e moralista não costuma adiantar, muito pelo contrário, só agrava a situação. Também não dá para sair correndo desesperado acreditando em tudo o que a criança diz. "Se tiver dúvidas de que ela esteja falando a verdade, peça para seu filho repetir a história mais tarde e de novo no dia seguinte. Se constatar que é mesmo uma mentira, converse com a criança com calma, chame a sua atenção mostrando para ela o valor da verdade e as conseqüências que uma mentira pode ter. É muito importante que os pais dêem o exemplo. Se a família toda mente, a criança também vai adquirir o hábito de mentir", finaliza Magdalena.  

Tipos de mentira

A psicopedagoga Maria Irene Maluf explica ainda que, clinicamente, costuma-se distinguir três tipos de mentira:

Utilitária: aquela em que a criança mente para tirar uma vantagem ou para evitar um castigo. É a famosa mentira de adulto, que aplicamos sempre que queremos escapar de um compromisso chato ou quando não queremos atender o telefone e mandamos dizer que não estamos em casa.

Compensatória: quando a criança mente porque sente falta de alguma coisa ou acha que tem menos do que os outros em algum sentido. É quando inventa que a família tem muito dinheiro, que foi o melhor da classe em tal lição, que tem vários irmãos e, na realidade, é filho único.

Mitomania: uma doença em que a criança passa a viver num mundo imaginário, no qual transforma o tempo todo suas mentiras em verdade e precisa de tratamento adequado.

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