Sou pai: e agora?

Sou pai: e agora?

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 3:26

O que passa na cabeça dos homens quando se tornam pais? Na rotina estressante dos primeiros meses da chegada do bebê é quase que uma coisa só: dúvidas

Se a paternidade nos dias de hoje pudesse ser resumida em apenas uma frase, ela seria: "Sim, querida!" Tá certo, a colocação pode parecer piada de mesa de bar (talvez até seja de fato), mas não seria exagero dizer que ela reflete o sentimento de muitos homens quando encaram os primeiros meses da vida do bebê.

Pais modernos fazem questão de participar da vida dos filhos, mas a experiência da paternidade de primeira viagem pode ser um pouco frustrante. Após nove longos meses de espera, os homens estão ansiosos por ter alguns momentos exclusivos com o filho - até o nascimento, o contato vivenciado com o bebê se resume a muitos beijinhos, carinhos e conversas coladas à barriga da esposa. E, quando finalmente o rebento chega, a rotina caótica de mamadas, choros na madrugada, cólicas e pedidos de apoio por parte da companheira pode levar muitos homens a questionar o papel de pai.

No banco de reservas?

Por mais que a situação seja cômica, a verdade é que poucos homens refletem sobre a paternidade antes dela acontecer. "As meninas passam a vida treinando para ser mães. Brincam de casinha, dão mamadeira para a boneca, fantasiam com filhos o tempo todo. A maioria dos homens não faz idéia do que é ser pai. Essa é uma tarefa que vai se concretizando aos poucos", diz Miguel Perosa, psicólogo.

Mas não é só a relação com a criança que mexe com a cabeça dos homens quando se tornam pais. O casamento também passa por muitos questionamentos. O nascimento do bebê impõe uma nova realidade para a vida do casal e, em geral, o homem sente que está perdendo lugar para a criança. "Quando o bebê invade a vida do casal o homem é destituído do trono. As atenções da mãe se voltam exclusivamente para a criança numa relação bastante simbiótica. Isso gera muita insegurança e até a revolta do homem", explica Miguel Perosa. De fato, as mudanças são tantas que há até casos de depressão pós-parto masculina. Uma pesquisa realizada pela Universidade Católica de Pelotas mostrou que 4,1% dos 386 homens entrevistados apresentaram um quadro de depressão de moderada a grave, o mesmo fenômeno que afeta a vida de muitas mulheres.

Casamento redesenhado

A falta de sexo, aliás, é um dos temas que mais incomodam os homens com a chegada do bebê. Durante muito tempo as mulheres simplesmente não querem saber de transar. Em parte por causa da rotina agitada (nos momentos livres, as mulheres preferem descansar a viver momentos tórridos de paixão), em parte pelas modificações no corpo durante o período do puerpério, em parte graças à prolactina: o mesmo hormônio que incentiva a amamentação inibe o desejo sexual. Qualquer que seja a justificativa, a verdade é que os homens ficam extremamente incomodados com a diminuição da vida sexual do casal.

Umas escapadas também ajudam - e não estamos falando de sexo fora do casamento. Praticar atividades que não envolvam a criança pode ser importante para restabelecer a vida a dois. Um chope com os amigos, uma viagem a sós com a mulher, um café na padaria e até conversas que não girem em torno de cocô, mamadas, regurgitadas, leite, sono, chupeta, dor de barriga ou coisa que o valha resultam reconfortantes.

Mas se todas essas questões levam os homens a questionar a paternidade, dificilmente elas são suficientes para fazê-los desistir dela. Em geral, essas dúvidas costumam desaparecer no primeiro sorriso dos filhos ou na emoção única de ouvi-los balbuciar pela primeira vez uma palavra que muda para sempre a vida de um homem: papai.

Por Ricardo Ferraz

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