Três filhos em três anos

Três filhos em três anos

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:23

Quando Nina nasceu, já reinavam na casa Olivia, com 2 anos e meio, e Thomas, com 1 ano e 5 meses. Três bebês ao mesmo tempo? Sim, e os sorrisos da foto ao lado não são raridade.

Foram quatro meses até eu tomar coragem de sair sozinha com os três. Era uma simples questão logística: tendo apenas duas mãos, como vou conseguir segurar meus três filhos, todos ainda pequenos demais para andar livremente pelo supermercado? Com o Thomas na cestinha do carrinho e a Nina no "canguru", convenci a Olivia a andar sempre do meu lado para me "ajudar" a colocar as compras no carrinho. Deu certo!

Tenho um estilo de vida bem diferente da maioria das brasileiras. Há seis anos, enquanto trabalhava para uma multinacional farmacêutica, fui transferida para os Estados Unidos, onde acabei me casando e tendo meus três filhos. Aqui, não tenho nenhum tipo de ajuda para cuidar da casa ou das crianças: não tenho empregada, não tenho babá nem tenho minha família por perto para pedir ajuda de vez em quando. Por isso, quando descobri que estava grávida do Thomas (na mesma semana em que voltava a trabalhar depois da licença-maternidade), optei por interromper minha carreira temporariamente e me dedicar à criação dos meus filhos. Era uma decisão que fazia sentido econômica, logística e emocionalmente.

Olivia completou 3 anos, Thomas está prestes a fazer 2 e Nina está com seis meses. Hoje em dia, desde aquela primeira ida ao supermercado, aonde quer que eu tenha que ir, vamos todos juntos. Descobri que, com um pouco de estratégia, muita paciência e uma dose de bom humor poderíamos encarar qualquer situação.

Claudia e o marido, Ken Gustavsen, estão sempre em busca de fazer o dia a dia com as crianças momentos marcantes e divertidos

Prática é tudo!

Os últimos três anos - e, especialmente, os seis meses passados desde que a Nina nasceu - temos vivido um grande laboratório experimental. Muita coisa dá errado e, nesses casos, o único consolo é saber que temos conteúdo para muita lembrança e risada no futuro. Mas às vezes acertamos e, então, repetimos a fórmula muitas e muitas vezes, até o momento em que tudo o que funcionava deixa de funcionar e temos que recomeçar do zero. Das lições que aprendi até hoje, algumas se tornaram fundamentais para o funcionamento da minha casa.

Rotina não é tédio

Quando me perguntam como consigo cuidar de três crianças pequenas, lavar, passar, limpar, cozinhar, e ainda ter tempo para um jantar diário a dois com meu marido (não abrimos mão!) e um bom livro no final do dia, minha resposta é sempre a mesma: nós temos uma rotina que funciona. Temos hora para comer, para dormir, para um pouco de TV, para arrumar a cama, para brincar lá fora. Tudo bem orquestrado para garantir a harmonia deste lar.

A maioria dos especialistas concorda em afirmar que a rotina não é apenas necessária para o desenvolvimento saudável das crianças: ela promove um ambiente emocionalmente mais seguro e alegre. É interessante ver, por exemplo, como a Olivia quer sempre saber "o que vem depois". Saber a "agenda" do dia significa, para ela, ter um pouco de controle sobre os acontecimentos. Assim, tomamos café da manhã juntos, almoçamos juntos e comemos o lanche da tarde sempre juntos, sempre no mesmo horário. Hora de dormir não tem negociação: aqui, todos dormem das 12h30 às 14h30 (e eu ganho duas horas diárias para pôr a vida em dia). Às 19h30, todos na cama novamente. Nem todos dormem ao mesmo tempo, claro. E nem todos acordam ao mesmo tempo, claro... Precisei ter três filhos para aprender o truque: o Thomas acordava 5h30 quando era pequeno e eu levantava com ele e o nosso dia já começava! A Nina faz o mesmo, mas, por recomendação da pediatra, comecei a colocá-la de volta no berço e, batata! A fofa volta a dormir (às vezes leva uma meia hora cantando, mas sempre dorme). Então, ela e o Thomas acordam juntos por volta das 7h. Olivia algumas vezes acorda com eles, e outras chega ir até às 8h15!

É claro que, em muitos casos, temos que ser flexíveis e nos adaptar a situações específicas. Por exemplo, a soneca da manhã da Nina coincide com o horário de deixar a Olivia na escola. Não há outro jeito: a pequena tem que dormir no carro e dividir a soneca em dois. Quando um compromisso coincide com a soneca da tarde, planejamos para que as crianças durmam pelo menos 30 minutos e encerramos o dia mais cedo. O importante é que isso é a exceção.

Um viva à independência

Quando a Olivia, com 1 ano e meio, decidiu que não precisava mais da minha ajuda, descobri que precisaria de uma dose de paciência que não me parecia possível adquirir. Reclamei com a pediatra: "Ela quer fazer tudo sozinha, e tudo acaba levando duas vezes mais tempo para ser feito!" Ela me garantiu que jamais me arrependeria, no futuro, se decidisse apostar nesse senso de independência da Olivia – e eu só conseguia pensar que, nessa velocidade, o futuro demoraria uma eternidade para chegar. Mas a pediatra tinha razão: muito antes que eu pudesse imaginar, minha vida havia se tornado bem mais simples, graças à independência dos meus filhos.

Olivia passou a comer sozinha com essa idade e Thomas, inspirado pela irmã mais velha, já recusava minhas colheradas com 1 ano e 2 meses. Não digo que foi fácil: no começo, parecia haver mais comida no chão e na cara do Thomas do que em seu estômago. Mas agora vejo como isso valeu a pena, assim como ensiná-los a escovar os dentes sozinhos (com supervisão, é claro), a subir no carro e sentar na cadeirinha sozinhos, a calçar os sapatos, lavar as mãos, tirar os casacos, e até a brincar sozinhos. A vida se tornou bem mais fácil e as crianças ainda contam com um reforço diário no seu senso de autorrealização.

Escolha suas batalhas

É, criar filhos é realmente uma luta diária, e em meus momentos mais zen, penso duas vezes antes de "comprar uma briga". Mas de onde sai tanta teimosia?

crianças crescem unidas e aprendem a brincar na companhia dos irmãos, o que facilita muito a vida dos pais

Há coisas de que não abro mão. Quando se trata de segurança, por exemplo, nem adianta brigar: para andar de carro, só sentando na cadeirinha. Na rua ou em estacionamentos, sempre se segura na mão de um adulto. Desrespeito aos irmãos também não deixo passar. Mas há momentos em que prefiro respirar fundo e evitar o confronto. Outro dia, por exemplo, a Olivia teimou em ir ao supermercado vestindo meia e chinelo. Para mim, o estresse da discussão não valeria a pena. O Thomas passou um mês saindo de casa com um chapéu de elefante, pois meu sensato pedido não era suficiente para convencê-lo a deixar o acessório em casa. Não há tempo para entrar em todas as batalhas.

Trabalho em equipe

Um sábio amigo me disse uma vez que criar filhos é como uma estratégia de jogo de basquete: filho único requer marcação por zona; com a chegada do segundo passa-se à marcação homem-a-homem; com três filhos voltamos à marcação por zona (com a diferença de que, dessa vez, levamos uma visível desvantagem). Ótima maneira de ilustrar minha vida! Tenho sorte de ter um marido excepcional, daqueles que arregaçam as mangas e participam de tudo. Isso me faz ver a importância de dividir com alguém todo esse trabalho de educação das crianças: não dá nem para fingir que conseguiria carregar todo esse peso sozinha.

Reconheçamos: todos nós precisamos de ajuda. Seja o marido, a família, um amigo, a colega de trabalho, é bom ter alguém para dividir se não o trabalho físico, pelo menos o peso emocional de acompanhar o crescimento dos filhos. É uma experiência mágica e deliciosa, mas com sua enorme dose de inseguranças, medos e frustrações. Ter alguém com quem dividir o bom e o mau dessa vivência me parece fundamental.

Aproveitar cada minuto, sim!

Não sei contar quantas vezes escutei de amigos ou de estranhos a famosa frase : "Aproveita, pois as crianças crescem rápido demais". Confesso que algumas vezes cheguei a duvidar da sanidade de quem quer que fizesse uma afirmação dessas. Afinal, quem consegue pensar no futuro quando se chega a trocar quase 20 fraldas por dia? Mas a verdade é que o tempo passa mesmo rápido demais. E naqueles dias intermináveis, quando a mais simples das tarefas (como tirar o pijama das crianças ou fazê-las sentar à mesa para o almoço) parece uma missão impossível, às vezes é melhor jogar uma toalha no chão da sala para um piquenique, ou levar todos para um banho de banheira, ou sair ao jardim para caçar formigas. Quando esse tal de futuro chegar, tenho certeza de que são essas as lembranças que ficarão na memória.

Por: Fátima Santos

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