Um olho no futuro e outro no relógio

Um olho no futuro e outro no relógio

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:42

Postergar, atrasar, demorar, adiar, delongar. São muitos os sinônimos para a palavra procrastinar. O termo não é tão comum quanto o ato em si, pois procrastinação faz lembrar aquela dieta que “começa na segunda-feira sem falta”, o exame médico sempre adiado, o armário, gavetas ou mesa de trabalho que precisam ser arrumados, enfim: algo que deve ser feito, mas é adiado, normalmente porque a pessoa tem opções mais prazerosas e coisas a fazer. “Esse comportamento é mais corriqueiro do que se pensa e muito prejudicial, seja em que segmento for: no meio acadêmico, no mercado de trabalho, na vida privada etc.”, afirma o psicólogo Jaime Cantalli.“Enquanto trabalhava no setor psicossocial da faculdade, um dos maiores problemas para os estudantes que buscavam auxílio ali era o de ‘gestão do tempo’, ao ponto de realizarmos oficinas para ensinar técnicas de gestão tempo e ensinar o conceito de procrastinação”, diz o psicólogo.“Muitas vezes, a pessoa chega com essa demanda de ansiedade e com o pensamento de não ter tempo para nada, em uma situação de desequilíbrio entre a vida pessoal e a acadêmica ou de trabalho”, relata Cantalli.De acordo com ele, durante as oficinas, os participantes eram convidados, em um primeiro momento, a listar suas atividades diárias no papel. “Muitas pessoas afirmam categoricamente que não têm tempo para nada, mas quando contabilizam o tempo gasto em banalidades, não têm mais desculpa”, diz ele, continuando: “Por meio de questionamentos como ‘o que você está fazendo que não precisa ser feito?’ e ‘o que você está fazendo que pode ser feito por outra pessoa?’, os participantes foram incentivados a refletir sobre como equilibram o tempo para cumprir seus sonhos e metas e o quanto investem em cada área da vida, como família e amigos”.O psicólogo diz ainda que há algo que não se costuma adiar: o ato de adiar. “Não só tarefas são adiadas, mas aquela visita aos amigos, o cinema do fim de semana. Até o lazer é deixado de lado para quando houver tempo. Procrastinar não tem a ver com preguiça, é a falta de empenho em realizar uma tarefa específica”.   Segundo Cantalli, dois tipos de pessoas podem ser identificados quando se fala em tempo: os ligados a prazos e os ligados às relações sociais.“Quem investe mais tempo nas relações costuma deixar o trabalho para depois. Isso gera angústia e ansiedade por não poder cumprir as demandas”, expõe o psicólogo, dizendo que o grupo ligado a prazos, acaba procrastinando a vida social: “As pessoas têm uma tendência, devido à competitividade do mundo, a querer montar o melhor currículo e por isso muitos nunca negam atividades ao custo da qualidade de vida.”“É preciso delegar, saber dizer não, abrir mão e saber que nem por isso as metas não serão atingidas. O trabalho vai ganhar qualidade, porque será feito com menos cansaço e estresse”, continua Jaime, dizendo que saber separar os assuntos em importantes e urgentes é outra maneira de utilizar melhor o tempo. “Ter vida social, ir ao cinema, encontrar amigos, tudo isso é importante. Cumprir metas, entregar um trabalho é urgente, não pode deixar de ser feito. O problema é quando o importante toma o lugar do urgente e vice-versa”.O psicólogo diz ainda que o adiamento de uma atividade pode trazer uma sensação de que tudo se resolverá como mágica. “Esse sentimento de alívio é apenas temporário. Com a rotina tomada por pequenos atos inúteis aparentemente inocentes, o procrastinador acumula noites mal dormidas, ansiedade, sentimento de culpa que refletem fisicamente com dores de cabeça, nas costas e no estômago, por exemplo. O problema não resolvido não é esquecido e a cabeça só se distrai temporariamente e logo a necessidade de fazer o adiado volta e volta dobrada”.A receita para acabar com a procrastinação parece fácil: ‘pare de enrolar e faça’. Mas, de acordo com o psicólogo, não é assim tão simples, ou não teriam tantas pessoas se identificando com as situações de procrastinação. “É preciso fazer uma autoanálise para descobrir a melhor maneira de se organizar. Primeiro é preciso reconhecer onde estão as falhas, depois as forças e depois fazer um planejamento”, explica ele. “Delimitar horários é o principal a ser cumprido no cotidiano e estimar o tempo necessário para executar as tarefas sempre pensando que imprevistos acontecem”, continua Cantalli, dizendo que o maior problema do procrastinador é de não colocar suas tarefas no papel para vislumbrar o que deve ser feito. “É preciso escrever, porque se o procrastinador só faz isso no plano imaginário, vai ser bem mais difícil perceber onde está pecando”, conclui ele.    

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