Veja dicas de quem já viajou para ganhar e administrar dinheiro

Veja dicas de quem já viajou para ganhar e administrar dinheiro

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:32

Fazer uma viagem para o exterior, seja para estudar ou trabalhar, requer planejamento financeiro. Ainda no Brasil, o estudante precisa ter conhecimento de como se manterá no exterior. Listar os gastos fixos e excedentes ajuda a prever primeiro quanto terá de levar e segundo o quanto precisará para se manter ao longo do tempo. E no exterior, os imprevistos podem ser mais complicados, agravados pela diferença de língua e de hábitos. Quem já passou por isso, explica como administrar o dinheiro e quais as melhores opções de trabalho para fazer o dinheiro render.

A analista de marketing Kelly Boeger, 26 anos, considera o primeiro mês o mais difícil, tanto pela adaptação familiar quanto pela questão financeira. Ela ficou oito meses na cidade de Dublin, na Irlanda, para estudar e trabalhar. A princípio, Kelly ficaria hospedada na casa de família, porém a situação foi tão constrangedora que a ex-intercambista deixou o local. "Foram 30 dias com todas as despesas pagas. Alimentação, moradia e curso de inglês já estavam incluídos. Porém não dei sorte com a família. Até comida estragada me serviram. Além do mais, não tive muita assistência", explica Kelly.

Kelly enfrentou problemas para conseguir emprego

Se não bastasse os problemas com alimentação, Kelly não teve orientação financeira da família nem para poder pagar um ônibus. "Além de pegar a condução errada no primeiro dia de aula, apresentei uma nota de 50 euros para pagar a passagem. Na Irlanda só aceitam moedas contadas do valor e não notas", lembra ela. Mas dificuldades não pararam por aí. Ela conta que não foi tão fácil arranjar um emprego, nem mesmo alugar um apartamento para morar depois que deixou a casa da host family. "Demorei três meses para arrumar uma promoção num supermercado. O salário era em torno de 195 euros por semana, para uma carga de 20 horas de trabalho. Para alugar um imóvel é necessário ter um comprovante de trabalho, daí surge a burocracia", afirma ela.

Para ter um contrato assinado, também é preciso pagar um depósito adiantado. "O estudante deve pagar uma parcela extra de aluguel, que é considerado como depósito de segurança. No final do contrato, este dinheiro é devolvido", diz Kelly. O custo de vida em Dublin, segundo a ex-intercambista, é alto. O apartamento de dois quartos, que dividiu com mais três estudantes, era de 350 euros mensais por pessoa, entre os anos de 2006 e 2007. "Além do aluguel, que era o valor mais pesado, o gasto individual com alimentação era de 250 euros em média. Conta de energia e Internet ficava em torno de 35 euros e as despesas sazonais giravam em torno de 100 euros", revela. Fora as contas básicas, Kelly pagou R$10 mil com passagem aérea e o curso de inglês com duração de seis meses. "Meu salário pagava todas as despesas, exceto as roupas e alimentação que tirava do cartão internacional que levei. Aproximadamente 300 euros por mês".

Como estratégia para economizar com a viagem ao exterior, a consultora técnica Bruna Rezende Bowkunowicz, 21 anos, escolheu um destino onde o custo de vida fosse mais barato, além de ter dispensado a tradicional consultoria de uma agência de intercâmbio. A estudante embarcou sozinha para Toronto, no Canadá, e garante que sua decisão saiu bem mais em conta. "Para viajar sem esse apoio, só aconselho se houver algum conhecido no país. Fechei o curso de inglês por dois meses direto com a instituição, por exemplo", diz Bruna. Além do curso, inicialmente, Bruna alugou um quarto numa casa de família com uma colega, por US$ 350, sem refeição. "Tive ajuda de amigos e recebi indicações de lugares. Nesta casa permaneci por dois meses até encontrar uma outra para dividir com mais estudantes", lembra ela.

Bruna conseguiu dividir as despesas com mais três colegas numa casa com três quartos e cozinha. Ao contrário da Irlanda, a burocracia para estudantes estrangeiros alugarem um imóvel no Canadá não é tão grande. "Consegui fechar direto com o proprietário. Pagamos o valor da primeira e da última parcela do aluguel. Exigiram apenas o passaporte, RG e um telefone de contato. A prestação foi de US$ 700 ", conta.

Bruna conseguiu juntar R$ 10 mil com o trabalho no exterior

A facilidade para assinar o contrato do apartamento também se repetiu no procedimento para abertura de conta em um banco canadense. "Foi simples e fácil. Pedem passaporte e RG e quando voltar ao Brasil é só cancelar", diz Bruna. Na opinião dela, o Canadá se torna ainda mais atrativo por causa dos custos mais acessíveis. "O valor do aluguel já incluía gás, água e luz. Tinha um celular que pagava US$ 150 por mês e podia falar a vontade em certos períodos do dia", revela Bruna.

Assim como Kelly, Bruna também optou em seguir pelo caminho do trabalho para pagar as despesas da viagem. Após o curso de inglês, ela decidiu continuar no país. Sua jornada, que era de dois meses, se estendeu para quase dois anos. "Não tive dificuldade em arrumar emprego. O primeiro que consegui foi como faxineira de uma escola pública de Toronto. A carga horária era de meio período e ganhava US$ 8 por hora, o que me rendia US$ 240 por semana", explica Bruna. Esta quantia, segundo a estudante, era o suficiente para pagar contas e se manter no país. "Pagava aluguel, baladas de US$ 30 ou US$ 40, passe de metrô por um mês no valor de US$ 100 e mais US$ 20 de alimentação diária", diz Bruna.

Com o objetivo de garantir maior renda e juntar dinheiro, Bruna começou a trabalhar em bares como bar tender até voltar para o Brasil em 2007. "A vantagem do trabalho no bar são as gorjetas. A média diária variava de US$ 30 a US$ 50, mas na época da última Copa do Mundo, cheguei a faturar US$ 300 por dia", explica. Como prova de que é possível juntar dinheiro no exterior, a estudante conseguiu juntar R$ 10 mil só de gorjetas na época dos jogos. "Quem quer, consegue juntar uma quantia significativa", assegura.

Ao contrário de Bruna, Kelly não obteve muito sucesso financeiro como garçonete. "Mesmo que tenha ganhado gorjetas altas, em torno de 40 euros por cliente, não me adaptei ao trabalho. Derramei uma taça de vinho na cliente que começou a gritar. O dono do restaurante deu duas garrafas de vinho para ela e descobri que no final de tudo as gorjetas eram divididas entre todos os funcionários", conta Kelly que se demitiu depois do episódio. Na opinião da analista, as regras para os ganhos extras variam conforme cada estabelecimento, porém mesmo com as divisões o valor no final do mês continua representativo. "Conheço amigos que no natal ganham mais com as gorjetas do que com o salário", revela.

Opções de trabalho

Para quem tem o objetivo de estudar e trabalhar, seja simultaneamente ou não, deve atentar para a opção do visto e quais atividades vão querer exercer. Com Kelly, que não se deu bem como garçonete, a opção foi tentar a sorte como vendedora no comércio local, o mais difícil de conseguir, segundo ela. "Arranjei um emprego numa loja de roupas femininas e masculinas. Ganhava 9 euros por hora para 20 horas de trabalho semanal. No final do mês o rendimento era de aproximadamente 720 euros, mas se trabalhasse aos domingos, ganhava dobrado", afirma Kelly.  

Fernando conseguiu arrumar trabalho no mesmo segmento em eu atuava no Brasil

As opções mais comuns e que oferecem maior número de oportunidades na Irlanda, de acordo com avaliação da estudante, são para fazer faxina, trabalhar como garçom, parte operacional da cozinha e vendedor. "Tem opções para mão de obra especializada. Quem pretende trabalhar com tecnologia, por exemplo, consegue tirar 15 euros por hora. As exigências de inglês mudam e os candidatos precisam de maior preparo", ressalta Kelly.

Bruna, que trabalhou primeiramente como faxineira, destaca as atividades de limpeza, garçonete, bar tender e babá como as mais comuns. "Há muitas opções, algumas inclusive sem contrato de trabalho. Quem quer trabalhar ainda consegue bicos. Tive indicações para limpar casas de famílias e tirava US$ 70 para cada casa, até duas por dia", revela Bruna. Além destes empregos, a estudante garantiu participação em eventos por meio de indicações de amigos que fez no país. "Participei de um grupo de samba que se apresentava em casamentos, festas brasileiras e eventos. Esses bicos são mais comuns no verão", diz Bruna.

Mas as vagas no mercado internacional a brasileiros não se restringem apenas aos subempregos. O analista de comércio exterior Fernando Akeo, por exemplo, embarcou para Vancouver, no Canadá, para estudar e trabalhar na área em que atuava na época: marketing. Nos três primeiros meses do intercâmbio, ele ingressou numa vaga, já que os estudos ocupavam apenas meio período do seu dia. "Consegui um bico num supermercado. Preparava, lavava e empacotava as verduras e legumes, era um trabalho braçal, mas o que consegui na ocasião", diz.

Como empregado, Akeo faturava US$ 300 por mês. "Com esse dinheiro bancava as despesas essenciais como transporte e alimentação", relata. O que o impulsionou a aceitar o trabalho, porém, foi o contato com o inglês. Para garantir sua permanência no Canadá, o estudante vendeu o seu carro no Brasil, até mesmo para ter uma reserva em caso de eventuais emergências. "Levei US$ 500 iniciais e tirei mais três vezes essa quantia, que era o limite que o cartão internacional permitia", diz o estudante.

Os últimos três meses no exterior foram dedicados ao estágio no departamento de eventos de uma associação comercial na qual o estudante já havia planejado trabalhar antes de sair do Brasil. Embora o estudante já contasse com um trabalho, ele afirma que não foi fácil arranjar os chamados subempregos no país. "Tem de procurar e bater de porta em porta", alerta. No estágio o estudante recebia uma bolsa auxílio de US$ 200.

Planejamento minucioso

Depois de um planejamento financeiro minucioso, o designer Cesár Marchetti partiu para os Estados Unidos. Mas o objetivo de sua viagem não era apenas passar dois ou três meses em solo estadunidense. Sua intenção era ir para ficar. E os seus planos deram certo. Marchetti conseguiu um emprego numa das maiores agências de publicidade do mundo e completa dois anos de vivência em Nova York.  

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