A vontade de se vingar, como a que domina Norma, de Insensato Coração,(novela exibida pela Rede Globo) pode desencadear problemas físicos e emocionais Na prisão, o único pensamento que a motivava era o de vingança. E a mulher, antes honesta e trabalhadora, abriu mão de seus valores porque teve de matar, roubar, mentir e enganar para alimentar o seu plano. Finalmente, ela conseguiu dar o troco àquele que, segundo ela, arruinou a sua vida. Muitos telespectadores estão acompanhando esta trama na novela Insensato Coração, em que Norma Pimentel (Gloria Pires) conseguiu vingar-se do vilão Leo (Gabriel Braga Nunes). Há quem apóie a personagem por achar que ela busca a justiça. Outros, perdoam porque acreditam que o sofrimento a deixou amarga. Todos concordam que Leo merece uma lição. Mas até que ponto dar o troco é válido? Na vingança está embutido o sentimento de fazer o outro sofrer. Em geral, contém elementos de raiva, ódio e vergonha, analisa Luiz Cuschnir, psiquiatra do IPq Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clinicas de São Paulo. E isso é bem diferente de justiça. Ser justo é utilizar a sensatez como elemento de avaliação, acrescenta Cuschnir.
Mas então, o que faz com que as duas coisas acabem se confundindo? E por que alguns são mais vingativos do que outros?
Para o psiquiatra Isaac Efraim , de São Paulo, a mágoa é o maior combustível da vingança. E, movida por este sentimento qualquer pessoa pode chegar ao estado de depressão e obsessão, acrescenta. De acordo com Luiz Cuschnir, há vários combustíveis para a vingança. A animosidade, a hostilidade, a indignação e o rancor, se constantemente ativados, podem gerar pensamentos que desviam o indivíduo de um projeto de vida mais saudável emocionalmente, explica. No entanto, a vingança não é o melhor remédio. Seria como curar uma doença com outra.
De maneira geral, pessoas mais propensas aos sentimentos de vingança são aquelas com elevados níveis de estresse, rancor, frustração e que tenham dificuldade em perdoar. O sentimento de vingança faz parte da natureza do ser humano, mas para que ele seja desencadeado necessita de um estímulo e são poucos os que a assumem.
As pessoas não gostam de ser percebidas como frustradas ou rancorosas, considera Ricardo Monezi, pesquisador do Instituto de Medicina Comportamental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Afinal, a vingança tem um aspecto destrutivo. Ao contrário da justiça que visa o bem mesmo quando se manifesta em forma de punição, diz Marjorie.
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Pior para o vingador
Por isso, o sentimento de vingança é uma manifestação emocional que deve ser trabalhada, pois pode gerar disfunções emocionais e até físicas. Do ponto de vista emocional, a vingança pode provocar altos níveis de ansiedade, depressão, obsessão, compulsão e estresse. E do ponto de vista fisiológico, causar disfuncionalidades relacionadas à liberação dos hormônios do estresse (adrenalina e cortisol), que levam a problemas cardiovasculares e queda nos padrões de imunidade do corpo, alerta Ricardo Monezi, pesquisador do Instituto de Medicina Comportamental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Para Efraim, a melhor maneira de evitar tais problemas de saúde é incorporar o prejuízo e tocar em frente. A melhor maneira de lidar com este sentimento é não alimentando a memória da dor, afirma Efraim. Além disso, o ato de vingar-se pode se tornar um vício. Isso ocorre quando causa uma sensação de prazer ao vingador. Isso pode virar um transtorno quando se transforma em uma obsessão, completa Monezi.
Como evitar
E para que o problema não vire uma bola de neve, Monezi ensina que se colocar no lugar do outro, exercitar o perdão e a compaixão são ótimos exercícios. A vingança não traz o melhor remédio para as dores da alma. E, se a pessoa tem dificuldade em livrar-se deste sentimento sozinha, vale buscar ajuda de um profissional, sugere. Sem contar que, ao alimentar esse desejo, o vingador pode distanciar-se da sua própria índole como aconteceu na novela. Manter uma ideia fixa de vingança e ficar arquitetando um plano para prejudicar o outro é nada menos que uma pobreza de espírito, critica Efraim.
Este é o perigo da vingança, a vítima tornar-se igual ao criminoso, atenta Marjorie Vicente, psicóloga da Clinica Médica Wagner Montenegro, de São Paulo. E completa: A vingança não busca acordos ou reconciliações. Movida pela raiva, Norma não quer colocar Léo na cadeia, mas sim domá-lo e zerar a sua prepotência, arrogância e autoconfiança. O que acontece ali é um jogo psicológico em que os papéis de vítima e algoz se misturam, diz Marjorie.
Por isso, vale apostar neste exercício do perdão. Não é fácil, mas a melhor maneira de lidar com uma decepção é deixando para lá, diz Efraim. Para ele, buscar a vingança denuncia uma personalidade superficial. As pessoas mais tolerantes, maduras e espiritualizadas sempre conseguem afastar-se do desejo de se vingar, finaliza Cuschnir.
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