O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retirou o Brasil da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA, na sigla em inglês), organização intergovernamental criada na década de 1990 para preservar a memória das vítimas do Holocausto e combater o antissemitismo.
O Brasil atuava como membro observador desde 2021. A decisão foi anunciada nesta quinta-feira (24) pelo Ministério das Relações Exteriores de Israel e confirmada pelos sites Poder360 e Metrópoles.
Apesar do impacto internacional da medida, o governo brasileiro não se pronunciou oficialmente sobre o caso até o momento. Segundo o Metrópoles, fontes ligadas à diplomacia israelense afirmaram que o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) já notificou a embaixada de Israel em Brasília sobre o processo de desligamento da entidade. Ainda segundo essas fontes, o governo brasileiro não informou os motivos da saída.
Em publicação na rede social X (antigo Twitter), o Ministério das Relações Exteriores de Israel classificou a medida como “imprudente e vergonhosa”.
“Em uma época em que Israel luta por sua própria existência, voltar-se contra o Estado judeu e abandonar o consenso global contra o antissemitismo é imprudente e vergonhoso”, afirmou a chancelaria israelense.
Brazil’s decision to join the legal offensive against Israel at the ICJ while withdrawing from the IHRA, is a demonstration of a profound moral failure.
— Israel Foreign Ministry (@IsraelMFA) July 24, 2025
At a time when Israel is fighting for its very existence, turning against the Jewish state and abandoning the global… pic.twitter.com/lfog0oeJF4
O governo israelense também associou a saída da IHRA à adesão do Brasil à ação judicial movida pela África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia. A ação, protocolada em janeiro de 2024, acusa Israel de promover uma “conduta genocida” e de realizar “assassinato em massa de civis” na Faixa de Gaza. Para o Ministério das Relações Exteriores de Israel, “a decisão do Brasil de se juntar à ofensiva jurídica contra Israel na CIJ, ao mesmo tempo em que se retira da IHRA, é uma demonstração de uma profunda falha moral”.
O Brasil oficializou sua entrada no processo na quarta-feira (23), conforme antecipado pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Em nota, o Itamaraty afirmou que a decisão está baseada na Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio, firmada pelos países-membros da ONU após a Segunda Guerra Mundial.
Segundo o Itamaraty, a adesão à ação judicial reflete “o dever dos Estados de cumprir com suas obrigações de Direito Internacional e de Direito Internacional Humanitário, frente à plausibilidade de que os direitos dos palestinos de proteção contra atos de genocídio estejam sendo irreversivelmente prejudicados”, conforme indicou a própria CIJ ao estabelecer medidas cautelares no início de 2024.
A tensão diplomática entre Brasil e Israel não é recente e vem se intensificando desde que Lula reassumiu a Presidência da República. Israel tem acusado o governo brasileiro de adotar posturas alinhadas ao Hamas, enquanto o presidente brasileiro tem criticado fortemente a atuação militar israelense na Faixa de Gaza.
O ápice da crise aconteceu em fevereiro de 2024, quando Lula comparou publicamente as ações de Israel em Gaza ao Holocausto sofrido pelos judeus durante a Segunda Guerra Mundial. A declaração gerou forte repercussão internacional e foi duramente rechaçada pelo governo israelense, que declarou o presidente brasileiro persona non grata no país. Em retaliação, Lula ordenou a retirada do embaixador brasileiro em Tel Aviv, reduzindo o nível de representação diplomática.
Outro ponto de atrito envolve a nomeação do novo embaixador de Israel para o Brasil. Há o temor, por parte do governo israelense, de que o país fique sem representação diplomática plena, já que o governo brasileiro ainda não aprovou o nome de Gali Dagan, indicado por Israel para chefiar a missão diplomática em Brasília.
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