Nesta terça-feira (7), o Senado Federal realizou uma sessão solene em memória aos 2 anos do ataque do Hamas contra a população civil de Israel em 7 de outubro de 2023.
A iniciativa, organizada pelo senador Sergio Moro (União Brasil), teve o objetivo de honrar as 1.200 vítimas do atentado terrorista, apelar pela libertação dos 48 reféns que ainda estão em cativeiro e reconhecer o direito de existência de Israel.
A sessão especial também teve o propósito de condenar o antissemitismo e se manifestar a favor da paz no Oriente Médio.
Moro, que dirigiu a sessão, defendeu o direito de autodefesa de Israel garantido na Carta das Nações Unidas “perante um ataque armado por uma organização que sequer reconhece o direito de existência do Estado de Israel”.
“Esse é um direito fundamental de qualquer Estado soberano, o exercício do direito de defesa, reconhecido pela comunidade internacional. Nenhuma nação pode ser obrigada a permanecer inerte enquanto seus cidadãos são massacrados, sequestrados e brutalizados. O antissemitismo não é apenas uma questão histórica, ele permanece vivo, foi alimentado por esse atentado terrorista e por suas repercussões”, declarou.
O evento no plenário do Senado contou com a presença de organizações judaicas brasileiras, como a Confederação Israelita do Brasil (Conib).
Confederação Israelita critica posição do governo Lula
Claudio Lottenberg, presidente da Conib. (Foto: Reprodução/YouTube/TV Senado).
Em discurso na sessão, Claudio Lottenberg, presidente da Conib, criticou o posicionamento do governo Lula sobre a guerra na Faixa de Gaza.
“Dois anos desde que Israel foi atacado covardemente por um grupo terrorista. Não foi uma guerra convencional. Não foi, muito menos, uma disputa política. Foi, para quem quer ver e também para quem não quer ver, puro terrorismo”, iniciou Lottenberg.
Segundo ele, a diplomacia do Brasil, que antes era conhecida por defender a vida e a paz, tomou rumos diferentes.
“Estamos vendo um Brasil diferente. Um Brasil que desde o primeiro dia recusou-se a chamar esta guerra pelo nome certo: guerra contra o terrorismo. Um Brasil que preferiu patrocinar narrativas ideológicas dentro de uma perspectiva diplomática que não é a tradicional, que se colocou sistematicamente contra Israel”, denunciou.
E continuou: “E lamentavelmente, alimentando o antissemitismo dentro deste país. Que fechou as portas para a comunidade judaica brasileira, que procurou e quis estar junto ao governo brasileiro para poder dialogar. Que infelizmente distorceu fatos, que vinha repetindo números falsos, conceitos impróprios e que infelizmente ignora sistematicamente os reféns”.
Claudio Lottenberg classificou a posição do governo Lula contra Israel como “uma vergonha nacional”.
“O Brasil precisa e tem que voltar a ser respeitado. Precisa reencontrar a sua tradição de equilíbrio, de dignidade e de coragem”, defendeu o presidente.
Genocídio
Ele rejeitou a acusação de Israel cometer genocídio na Faixa de Gaza e relembrou a verdadeira definição de genocídio.
“Falo principalmente em nome de 6 milhões de judeus que sucumbiram na Segunda Guerra Mundial. Aquilo sim foi um verdadeiro genocídio. E basta conhecer a etimologia e um pouco de antropologia para entender a definição legal do que é um genocídio, e não como muitos querem no fundo tentar macular a imagem daquilo que o Estado faz ao se defender de um ataque terrorista”, pontuou Lottenberg.
O presidente da Conib classificou o ataque do Hamas como um ato de genocídio, porque havia a “intenção pura de matar toda e qualquer pessoa que ali estivesse presente, levando-se em consideração que seriam judeus”.
Ele criticou os países que passaram a tratar o Hamas “como se fosse um ator político legítimo”.
“O Hamas não é política, o Hamas representa o terror, um braço estendido do governo do Irã, que patrocina não somente o Hamas, mas o Hezbollah, o Houthis, que usa aquilo que há de pior em termos de interlocução: o terrorismo, a violência deliberada”, afirmou.
Aumento do antissemitismo no Brasil
Já o secretário-geral da Conib, Rony Vainzof, citou o aumento do antissemitismo no Brasil após o ataque de 7 de outubro.
Segundo ele, a Conib registrou 222 menções antissemitas on-line nas redes sociais e recebeu mais de 2,3 mil denúncias de antissemitismo no país.
“É assombroso testemunhar esse ódio descarado contra os judeus. Todo o processo que desencadeou o holocausto são lembranças imprescindíveis para que algo do gênero jamais ocorra novamente”, disse Vainzof.
Ele ainda sugeriu que o Senado crie uma política nacional de combate ao antissemitismo no Brasil.
A encarregada de Negócios da Embaixada de Israel no Brasil, a diplomata Rasha Athamni, também discursou na sessão, lembrando que mais 250 israelenses foram sequestrados durante o ataque do Hamas, incluindo mães e filhos, e muitos ainda estão no cativeiro.
“Dois anos se passaram, mas as feridas ainda estão abertas. Não foi a primeira vez e não será a última que Israel vai enfrentar essas dificuldades. A verdadeira verdade é que o povo judeu tem o direito de existir, de estar em paz, em segurança e de prosperar. Por Deus, nós somos contra toda forma de ódio e somos a favor da dignidade humana”, enfatizou Athamni.
O coordenador-geral do Museu do Holocausto de Curitiba, Carlos Reiss, lamentou que a barbárie contra o povo israelense em 7 de outubro tem sido negada por muitos.
“Num contexto em que empatia tem cedido espaço à polarização e à violência, e que a morte de inocentes tem sido negada e relativizada, é natural que o Museu do Holocausto cumpra o papel de dialogar com a sociedade”, observou.
“A barbárie não pode encontrar o conforto da neutralidade, a cumplicidade do silêncio, nem a desculpa da distância. A indiferença e a omissão contribuíram para o crescimento do antissemitismo e do extermínio de seis milhões de judeus durante o Holocausto”, refletiu.
Sobrevivente brasileiro
Rafael Zimerman. (Foto: Reprodução/YouTube/TV Senado).
A sessão solene ainda contou com a presença de Rafael Zimerman, um brasileiro que sobreviveu ao ataque do Hamas durante o festival Nova, em Israel.
Rafael relatou os momentos de terror que viveu naquele dia. Mesmo dentro de um abrigo, ele e outras vítimas foram atacadas com um gás que “claramente tinha o propósito de matar a todos asfixiados”.
“Depois vieram as explosões, gritos, execuções, tinha certeza de que ia morrer. Tinham cadáveres ao meu lado e em cima de mim. Do lado de fora, terroristas queimavam corpos e o cheiro chegava até nós. Nunca vou esquecer a risada deles enquanto cometiam as atrocidades”, contou Zimerman, que se fingiu de morto para escapar dos terroristas.
O sobrevivente acrescentou que "as feridas do corpo, os médicos curam, mas não as da alma".
“O terrorismo não escolhe a vítima. Não é uma causa. É terrorismo! Todos nós, árabes e judeus, queremos que a guerra acabe. Muita gente fala sobre israelenses e palestinos, mas nunca falou com nenhum dos dois. Hoje estamos esperançosos, a paz por fim parece possível”, concluiu.
Na sessão do Senado, os hinos de Israel e do Brasil foram executados e os convidados homenagearam os reféns que ainda estão em cativeiro com a exibição de suas fotos e com um minuto de silêncio.
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