Um liquidificador quebrado aqui, uma cama com cupins e muita dor de cabeça para quem sobrevive de doações. Até 40% do que é ganho mensalmente pelas entidades assistenciais de Itatiba é puro lixo. É com essa realidade que convive boa parte delas, que recebem a doação de material inservível com uma frequência maior do que sua capacidade de absorção.
Num misto de ingenuidade e de falta de bom senso, muita gente doa o resultante de limpezas domésticas. E nessa lista entra até roupa íntima suja, reclamação frequente entre todas as entidades ouvidas pelo BOM DIA, que, em comum, têm a necessidade de doações e a manutenção de bazares para complementar sua renda.
Todos os administradores concordam que não se pode negar doações, mas na hora de ir retirá-las a surpresa nem sempre é agradável. Trazemos assim mesmo para a nossa sede, mas vai direto para sucata ou para a reciclagem, diz Ivany Arruda, tesoureira da Rede Feminina de Combate ao Câncer.
A equipe dispõe de uma Kombi própria e da ajuda de uma voluntária que cede um caminhão com funcionário próprio para retirada de doações pesadas como móveis. Todo dia chega doação, de sapato novo a panelas. Tudo que é aproveitável vai para o bazar fixo que temos [em frente à Santa Casa], para o mensal [na frente do Mercado Municipal] e para uso da Rede. Mas ainda assim cerca de 15% do que ganhamos não serve para nada, diz. As doações representam metade da renda mensal da Rede, que reverte o dinheiro para compra de medicamentos.
Tentamos filtrar ao máximo pelo telefone, mas nem sempre funciona diz a administradora da Apae Itatiba Ana Lúcia Rosa Moraes. Mesmo que o doador more em bairro afastado a doação é aceita. É complicado dizer não, pois vivemos de doações, embora nem todo mundo doe algo bom, diz, lembrando que a Apae já recebeu uma cabeceira de cama sem as demais peças. Acharam que podíamos combinar com outras peças e montar um novo móvel, mas é difícil, diz Ana Lúcia.
O espaço para armazenar os donativos que precisam de conserto ocupa o que hoje podia ser aproveitado como uma nova sala de aula, por exemplo. Isso porque temos uma equipe que faz uma triagem bem detalhada. Eletrodomésticos queimados e similares respondem por 40% do que recebem por mês. Uma Kombi da entidade é responsável por levar o desmonte, como plástico, madeira e ferro, para sucata o que nem sempre paga o custo do transporte.
Sem par
O Lar Itatibense da Criança já chegou a receber coleções de livros e revistas cheias de cupins e só um pé de sapato. Tratamos de dar um fim naquilo que não tem serventia para que não prejudique o que já temos aqui dentro, conta o presidente Sebastião Vendramini. Semanalmente uma equipe de até cinco funcionários é remanejada de suas funções apenas para fazer triagem de doações.
A entidade mantém um depósito e tem serviço de frete, pago por mês, para busca de doações. É um custo razoável, por isso a necessidade de quem doa ter consciência, diz, contando que 10% dos recursos obtidos pelo Lar em 2009 vieram de doações.
Construção
Para aumentar o que ganha, o Asilo São Vicente de Paulo achou uma saída: oferece em seu bazar permanente até material de construção. Antes de enviar o motorista procuramos saber o que será doado e avisamos a pessoa que ele está autorizado a carregar somente o que pode ser utilizado pelos moradores e também ser vendido em nosso bazar diz o diretor Carlos Alberto Iervolino. Alimentos, roupas e calçados em bom estado e remédios doados vão direto para uso interno. Todo o restante pode virar item de venda no bazar.
Na Sibes, a principal carência é de voluntários
Na contramão das doações, a Sibes (Sociedade Itatibense para o Bem Estar Social) preciso também de voluntários. Aqui vivemos a não doação, diz a coordenadora técnica Isabel Buonna Branco. A primeira necessidade da instituição, que apoia 60 menores em situação de risco ou infratores, é conseguir voluntários.
Claro que precisamos de alimentos e produtos de limpeza, mas conseguir quem doe tempo é fundamental, diz Isabel, que busca professores de inglês, dança e informática. A grade de aula é feita de acordo com o tempo do voluntário.
As outras doações vão para uma espécie de mercado que a entidade monta uma vez por mês às famílias dos atendidos. Gêneros de primeira necessidade são vendidos a centavos. Damos ao atendido a noção de cidadania de não ganhar nada, de valorizar o seu dinheiro, mesmo que seja pouco, além dele ter o direito de escolha.
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