Chakalis: Saiba mais sobre este povo e um breve histórico

Chakalis: Saiba mais sobre este povo e um breve histórico

Fonte: Atualizado: terça-feira, 1 de abril de 2014 às 03:49

Os Chakalis habitam uma vasta área o noroeste de Gana na região de Wa. Falam uma só lingua também chamada chakali e não passam de 10.000 pessoas divididas em 19 pequenas aldeias. A principal delas é a de Dussê onde encontramos os principais anciãos e chefe da etnia.

Vivem basicamente da caça e cultivam algumas lavouras de inhame e mandioca. A água não é abundante e a região rica em caça.

A expressão "Chakali" significa ''fazedores de fetiche'' por ser uma tribo com forte ênfase fetichista a qual os vende para tribos vizinhas. São animistas e, além do chefe da tribo e das aldeias, os feiticeiros concentram maior poder politico. A influência do Islamismo é pequena mas nociva pelo sincretismo que gera.

Houve uma tentativa conhecida de alcançá-los por iniciativa das Missões metodistas em 1966 mas culminou em uma recepção pouco amistosa impedindo o missionário a entrar na região tribal.

Primeiros passos em direção ao povo Chakali

Em maio de 2000 iniciamos um primeiro contato com os Chakalis onde chegamos até a aldeia de Dussê acompanhados por um guia Vagla. A recepção não foi calorosa mas sem grandes problemas. Acampamos ali por alguns dias e iniciamos o projeto de colheta de dados fonéticos para o aprendizado da lingua.

Grafia da língua

Até o fim de 2000 Conseguimos grafar a língua e inciamos o preparo das cartilhas de alfabetização. É com certeza uma porta aberta para o Evangelho pois introduzimos ali a pessoa de ''Kosoa'', Deus Criador, e o conceito da salvação através de Jesus Cristo. O termo 'perdão' foi o nosso maior desafio pois não o encontrávamos na língua Chakali.

Após algum tempo finalmente percebemos que ''perdão'' na cultura não era um termo mas sim um ato. Quando alguém pecava era punido pela comunidade. Algum tempo depois, após comprovado arrependimento, o ancião enchia uma cabaça com água, levava-a para fora da aldeia e a quebrava sobre uma pedra simbolizando que o pecado havia sido tratado, quebrado e esquecido. Deste momento em diante a ninguém seria permitido novamente tocar naquele assunto, mas se isto acontecesse o ancião prontamente afirmaria : "Tiwii akan" - A cabaça foi quebrada. Já não me lembro mais.

Preparo das cartilhas

Nas últimas semanas de 2000 o Senhor nos abençoou e conseguimos completar a segunda cartilha e testá-las com dois rapazes que tem nos acompanhado desde o início : Kanganu e Amiu.

Quando fomos apresentá-las ao povo na aldeia de Dusse todos ficaram impressionados como aqueles estranhos rabiscos no quadro representavam a língua Chakali, e que era possível tanto escrever o que se falava quanto também ler logo após. Para uma prova cabal de que a grafia era possível pedi um ancião para narrar-nos pausadamente uma história enquanto a escrevia. Logo depois a li. Os mais idosos riam largamente como se estivessem assistindo uma comédia teatral e os mais jovens faziam muitas perguntas em um mixto de curiosidade e desconfiança. Ao fim do dia não havia dúvidas de que a tribo aceitara bem a grafia e também ficaram mais simpáticos a nós.

Concluimos o estudo da primeira cartilha de alfabetização com Kanganu e Amiu, que já estão lendo bem, e em breve terminaremos a segunda treinando-os assim para alfabetizar outros. Fotocopiamos e encardenamos 40 exemplares destas cartilhas que serão usadas nos próximos 12 meses para alfabetização dos adultos durante as noites.

Kosoa - O nome de Deus

Além dos termos ''perdão'' e ''pecado'' começamos o estudo do nome de Deus. Ouvimos muitas histórias, lendas e provérbios . Até então conhecíamos 'Wusa', nome para uma divindade adorada pela tribo mas que referia-se também ao sol. Repentinamente saltou um nome das histórias : Kosoa. Passamos a nos concentrar neste nome e entrevistando os mais idosos vimos que eles definiam Kosoa como :

1. ''Deus do mundo'' (pois criou todos os povos e não apenas os Chakalis) ;

2. ''Deus dos antepassados'' (com o qual os ancestrais um dia conversaram) ;

3. ''Deus de Wusa'', (ou seja, o que é maior que o sol).

A partir daí seguimos adiante e encontramos uma ótima expressão para ''pecado'' : ynun ling (literalmente ''sair do caminho'') que é reservada para um ato abertamente reprovado na tribo. ''Perdão'' veio em consequência. Vimos que quando aqueles que ''saíam do caminho'' se arrependiam, antes de serem novamente aceitos pela família o pai enchia uma cabaça com água e a quebrava fora da aldeia significando que ''está esquecido''. A partir daquele momento, se alguém levantasse o assunto o patriarca repetia ''derramei toda a água da cabaça'', ou seja, ''já não me lembro mais''.

Primeira apresentação do evangelho

Colocamos todas as peças do quebra cabeças sobre a mesa durante vários dias tentando produzir uma comunicação simples e responsável do evangelho. Quando tínhamos o suficiente em mãos chegou o momento de testar a comunicabilidade do plano de salvação.

Tivemos um encontro abençoado com cerca de 20 pessoas e, demoradamente, lhes falamos sobre a Palavra que Kosoa deixou para nós apresentado-lhes a Bíblia. Falamos então da criação, do pecado e do perdão através de Yesu. Falamos sobre céu e inferno, o diabo e os anjos, mas principalmente sobre Jesus. Depois de uma pausa voltamos e expomos sobre a Igreja e o Espírito Santo. Estávamos curiosos sobre qual seria a reação, mas todos ficaram calados. No dia seguinte, entretanto, quatro pessoas nos procuraram dizendo que gostariam de seguir a Jesus. Perguntamos o que entendiam por seguir a Jesus e Kanganu resumiu assim : ''Não é uma opção. Quando ouvimos sobre Kosoa encontramos Deus e Ele olhou para nós''. Aleluia. Outros 20 estão interessados em ouvir mais, entretanto nos concentraremos agora nestes 4 até termos certeza que entenderam de forma clara e culturalmente aplicada a mensagem de salvação. Deus é tremendamente bom!

Estratégia de avanço

Planejamos utilizar as cartilhas de alfabetização durante 12 a 18 meses através de Kanganu e Amiu. Possivelmente entre 50 a 80 pessoas serão alfabetizadas e receberão também assim uma introdução sobre Kosoa (Deus) e principais expressões necessaries à comunicação do evangelho.

Após este tempo de amadurecimento cremos que as portas estarão abertas para um programa de plantio de igrejas entre os Chakalis e nossa expectativa é vê-los reconhecendo a salvação de Jesus em suas vidas, a começar de Dussê.

Escrito por Ronaldo Lidório - Missionário

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