Coluna - Cláudio e Rosana Pita - Das ruas para o lar

Coluna - Cláudio e Rosana Pita - Das ruas para o lar

Fonte: Atualizado: terça-feira, 1 de abril de 2014 às 03:49

Coluna - Cláudio e Rosana Pita

Das ruas para o lar

Praça cheia de gente que corre, que anda, que passeia, admirando as estruturas históricas da catedral da Sé. Ao redor, homens e mulheres de rua brigando, xingando-se com palavras absurdas, vivendo em situação precária e esperando receber algo de alguém para saciar sua fome e sede de justiça. São mais de 500 crianças e adolescentes vagando pela praça. Nas ruas do centro de São Paulo, é comum encontrar garotos e garotas correndo de um lado para o outro, meio que sem destino certo, mal vestidos, sujos, alguns andando como se estivessem bêbados e alguns realmente embriagados. Muitas pessoas nem param mais para olhar, mas no meio desse tumulto há crianças em tenra idade, com três, quatro, no máximo seis anos, vendo a vida passar assim, dia-a-dia vivendo por viver. Olhando a movimentação à distância, esses jovens, adolescentes e crianças mais parecem um bocado de formigas andando desordenadamente.

Foi exatamente diante de um cenário como esse, de manhã bem cedo, num dia de 1993, que iniciamos nossos trabalhos missionários com os "meninos de rua". Ninguém agüentava mais a situação, os comerciantes estavam perturbados com o jeito das crianças ameaçarem seus comércios. Chegamos a ouvir alguns lojistas oferecerem cola de sapateiro para um grupo de garotos, só para que eles não ficassem durante o dia ali nas portas de suas lojas atrapalhando. Os mais cruéis pagavam para alguns "justiceiros" acabarem de vez com o problema, dando um sumiço naqueles que perturbavam a paz das ruas e espantavam os clientes.

Naquele tempo, apenas observávamos os movimentos destes protagonistas e tentávamos encontrar uma brecha para poder fazer algo que realmente poderia mudar a vida dessas crianças e adolescentes.

Íamos sempre com uma mochila nas costas, carregada com lanches e outros materiais didáticos, inclusive um violão. Ao encontrar uma rodinha, pedíamos licença, sentávamos com eles e começávamos a cantar algumas músicas contextualizadas para aquela realidade. Por menos de cinco minutos conseguíamos a atenção de quase todos os meninos e meninas. Era o tempo que tínhamos entre a ação dos traficantes, da polícia e daqueles que haviam sido vítimas de algum roubo ou furto efetuado por alguém daquele grupo. Era o tempo que tínhamos para mostrar para os "meninos de rua" que Deus tinha algo melhor para suas vidas.

Naquela época, tivemos a oportunidade de montar vários projetos de ação contra as drogas e criamos condições de encaminhar as crianças e os adolescentes para casas de recuperação em São Paulo e em outros Estados. Para nossa alegria, tivemos êxito na recuperação de cerca de 90% dos que foram encaminhados.

Após 10 anos de trabalho com as "crianças de rua", eu e minha esposa percebemos que Deus estava querendo algo mais de nós. Então começamos a orar e a trabalhar num projeto que fosse mais ousado e que atuasse com as crianças e com suas famílias antes que essas decidissem ir para as ruas. Sentimos na pele a responsabilidade e as dificuldades de realizar um projeto dessa magnitude totalmente pela fé. Alugamos uma casa confortável para que as crianças se sentissem em um ambiente seguro e limpo. Queríamos que o nosso lar causasse um impacto na vida não somente das crianças, mas também de seus familiares. Conseguimos doações de móveis e outros objetos necessários para a casa. Alimentos, roupas, calçados, materiais escolares, brinquedos e artigos de higiene pessoal também foram doados.

No início, contávamos apenas com duas igrejas evangélicas e um grupo de amigos que faziam o possível para nos ajudar a manter o lar em bom funcionamento. Quando começamos, tínhamos uma despesa mensal de R$ 1.800,00 para atender cerca de 10 crianças 24 horas por dia e suas famílias. Hoje, após cinco anos de trabalho, o Lar Nefesh atende cerca de 20 crianças por semestre, 24 horas por dia, e tem um gasto médio de R$ 10.000,00 por mês, sendo sustentado totalmente pela fé com as doações de algumas igrejas, empresas e pessoas. Quem que vem aqui e conhece de perto o nosso trabalho reconhece a importância desse projeto para a comunidade local, principalmente para as crianças vítimas de maus-tratos, e para a reestruturação de suas famílias que são orientadas, tratadas, evangelizadas e transformadas pelo poder do Senhor Jesus Cristo.

Diante de tudo o que temos visto e vivido, só podemos dizer: Vale a pena!

Cláudio Pita é missionário ex-interno da Febem, Bacharel em Teologia pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo, diretor presidente e fundador do Lar Nefesh.

www.larnefesh.org.br.

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