Mais de 700 cristãos (300 pessoalmente e 400 de modo virtual) participaram da “primeira convocação” da Associação Missionária Mundial da Coreia (KWMF, na sigla em inglês), que foi realizada na Coreia do Sul, no mês de julho, na cidade portuária de Pohang.
O encontro que acontece a cada quatro anos, entre missionários e voluntários, e que reúne cerca de 75 nações, chegou a ser cancelado por conta das restrições da pandemia. Mais de 20 mil missionários pertencem à KWMF.
O evento, que durou três dias, contou com vários workshops sobre missões coreanas, reuniões e cultos de adoração. Entre os principais temas estavam a Coreia do Norte, a transição geracional e o ministério educacional.
De acordo com o Christianity Today, havia um tom de urgência entre os missionários seniores quando falaram sobre o declínio do movimento missionário coreano, que antes era o segundo país a enviar o maior número de missionários pelo mundo, ficando atrás somente dos EUA.
“Precisamos ver nossa missão com uma nova perspectiva e temos que nos envolver neste trabalho com abordagens mais diversas”, disse o presidente da KWMF, Choi Keun-bong, que trabalhou como missionário no Quirguistão por 28 anos.
“Se não fizermos, podemos entrar num tempo que será difícil para as missões sobreviverem”, alertou.
Missionários mantidos em cativeiro
Pela primeira vez em sua história, a KWMF publicou um código de ética para missionários e uma chamada pública para trazer de volta da Coreia do Norte seis cristãos sul-coreanos atualmente mantidos em cativeiro.
“Pedimos a proteção e a libertação dos missionários cristãos que foram indevidamente detidos na Coreia do Norte e, declaramos como missionários coreanos, que temos o dever e o chamado de levar adiante a reconciliação e a evangelização na península coreana”, afirmou o grupo.
Embora Pyongyang — antes chamada de Jerusalém do Oriente — pareça impenetrável para os estrangeiros, Handong concedeu um doutorado a um empresário egípcio, que é cristão copta, durante o evento de convocação, para que ele possa ajudar a libertar os cristãos detidos.
O CEO da Orascom, Naguib Sawiris, citou Romanos 8.31: “Se Deus é por nós, quem será contra nós”). O bilionário investiu 250 milhões de dólares na Coreia do Norte, para fornecer serviços de telecomunicações a seus seis milhões de cidadãos.
“Minha fé em Deus é a fonte da minha coragem”, disse ele à comunidade de Handong em entrevista, se comprometendo a lutar pela libertação dos seis cristãos detidos.
O outro destinatário de um doutorado, através do do evento KWMF, foi Reuben Torrey IV, reconhecido por quatro gerações pelo serviço missionário prestado por sua família americana, no Leste Asiático.
“Oramos por mais missionários”
“A maioria dos missionários coreanos está na casa dos 50 e 60 anos agora, e o número de missionários com menos de 40 anos está diminuindo. Eles estão orando não apenas por seus filhos, mas pela próxima geração de missionários”, disse Won Jae-chun, professor de direito em Handong e organizador da convocação.
Durante a última década, o número de missionários coreanos foi ultrapassado por nações maiores, como Brasil e China. A convocação do KWMF regularmente discute sobre esse ponto na história da missão coreana.
“Handong tem mil filhos de missionários como alunos. Esperamos que os jovens ganhem um novo coração para a missão após esta convocação”, disse o presidente da universidade, Chang Soon-heung.
O encontro ofereceu uma oportunidade para os alunos de Handong e outros voluntários, aprenderem com os missionários participantes. Todos eles serviram por pelo menos cinco anos.
“Durante a adoração da última noite, senti a presença do Espírito Santo e sei que Deus vai usar essa convocação para uma nova era de missão”, disse Jang Ho-jin, um estudante graduado da Handong International Law School.
Missionários esgotados
Durante quatro meses antes da convocação, Handong entrevistou missionários coreanos para saber mais sobre os desafios enfrentados. Cerca de 60% dos 300 entrevistados afirmaram que precisam de psicoterapia ou aconselhamento.
Além disso, a pesquisa mostrou que 70% por cento teve problemas legais em seu campo missionário e 90% não tinham plano de aposentadoria. Em resposta, Handong ofereceu aconselhamento e suporte jurídico durante a convocação e anunciou um plano para construir uma comunidade residencial para missionários aposentados próximo ao campus.
“Acredito que o trabalho missionário não diminuirá depois da pandemia”, disse o pastor sênior da Igreja Onnuri, Lee Jae-hoon, cuja igreja veio em socorro de Handong quando a universidade, fundada em 1994, enfrentou desafios financeiros durante seus primeiros anos.
“Com a sabedoria de Deus além da nossa imaginação, estaremos melhor equipados para a comissão de testemunhar o Evangelho”, disse Jae-hoon. Para os organizadores, a convocação será relevante não apenas para a missão coreana, mas também para a missão mundial.
Seis cristãos sul-coreanos que continuam detidos na Coreia do Norte (citados no início da matéria) e que são defendidos pelo KWMF:
1) Kim Kook-kie: Pastor detido desde outubro de 2014, por realizar um ministério de ajuda aos norte-coreanos kotjebi (crianças de rua norte-coreanas) e coreano-chineses, com vários suprimentos médicos, roupas e máquinas agrícolas desde 2003.
2) Choi Chun-kil: Pastor preso e detido desde dezembro de 2014 e condenado a “trabalho compulsório indefinido”, em junho de 2015. O motivo legal de sua detenção é “atividades de espionagem anti-RPDC sob a manipulação dos EUA e fantoche da Coreia do Sul”.
3) Kim, Jung-wook: Pastor preso e detido desde outubro de 2013 e condenado à prisão perpétua em 2014, por estabelecer uma empresa de macarrão que administrava projetos de ajuda humanitária e um ministério norte-coreano em Dandung, China, que oferecia comida, remédios e abrigo.
4) Ko Hyon-chol: Preso em maio de 2016 enquanto cruzava o rio Amnok para ajudar meninas órfãs a fugir da Coreia do Norte para uma ilha perto do rio. Status atual desconhecido.
5) Kim Won-ho: sequestrado no lado chinês da fronteira em março de 2016. Status atual desconhecido.
6) Ham Jin-woo: O repórter foi sequestrado em maio de 2017, enquanto fazia uma reportagem no lado chinês da fronteira entre a China e a Coreia do Norte, entre Sanhe e Longjin. Antes de fugir da Coreia do Norte, ele trabalhou gerenciando operações de inteligência visando a Coreia do Sul e o Japão. Ele obteve a cidadania sul-coreana em 2011 e trabalhou como repórter no Daily NK, um veículo de comunicação sul-coreano especializado em notícias norte-coreanas. Ele também ajudou missionários que colaboraram com o povo norte-coreano. Status atual desconhecido.
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