Outro dia, estava fazendo um curso no centro da cidade e na procura de um estacionamento barato, acabei deixando meu carro num estacionamento na região chamada Cracolância. Ainda era de manhã e o comércio fervilhava, mas quando saÍ bem tarde da noite, comecei sentir o pavor de andar sozinha à noite naquela região.
Fiquei orando o tempo todo enquanto andava a passos largos direto para o meu destino. Como eu queria estar com o Virgílio naquela hora! Eu lembrei que semanas antes, o Virgílio, que é um educador de rua e um dos missionários mais experientes do JEAME, levou a mim e um grupo de americanos para andar e conhecer a região. Enquanto passávamos por entre os usuários de drogas, fiquei impressionada com a maneira que um homem pequeno e simples como ele mostrava autoridade.
O jeito amoroso e respeitoso como ele tratou os jovens moradores da rua foi contagiante e provou o poder do amor. Havia um grupo muito grande de usuários de drogas naquele quarteirão e o Virgílio perguntou se podíamos nos aproximar. Muitos estavam receptivos e nos receberam com atenção.
Ninguém nos desrespeitou, porque nós os respeitamos primeiro. No nosso grupo, havia uma senhora americana de uns oitenta e cinco anos cuja maneira carinhosa e espontânea com que ela se aproximava das pessoas na rua me emocionou. Ela não falava português, mas os seus olhos brilhavam o amor de Deus e ela não tinha medo de expressá-lo. Ela era a pessoa mais frágil do grupo, porém Deus a usou de uma maneira poderosa. Eu não resisti e brinquei com ela dizendo que quando eu crescer eu quero ser como ela.
Tenho tido envolvimento com o JEAME há uns 20 anos, mas à distância. Há alguns anos atrás, quando recebíamos pessoas de outros países, eu interpretava os missionários, ouvi histórias impressionantes de como Deus têm transformado a vida de pessoas que eram dadas como perdidas pela sociedade. Depois disso, nunca mais pude ficar de longe.
Depois que comecei a visitar a Fundação CASA (antiga FEBEM) e as ruas, a minha visão da realidade mudou radicalmente. Hoje sei que Deus tem poder para salvar o mais perdido dos perdidos; sei que Deus usa pessoas comuns e medrosas como eu para mostrar o Seu poder; sei que Ele pode fazer milagres com o pouco que eu ofereço; sei que fui contagiada pelo amor desses homens e mulheres do Ministério JEAME que são exemplo do poder transformador de Deus; sei que juntos poderemos mudar a Crocolândia, a cidade de São Paulo e o Brasil; sei que juntos faremos diferença.
Marli Marcandali é formada em teologia, professora de inglês, mestrando em Liderança Organizacional, líder de teatro e depto infantil da Igreja Batista do Morumbi, membro da Sampa Community Church, e membro da Diretoria do Ministério JEAME.
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