Detentas transformam lona em acessórios fashion em oficina de ONG

Detentas transformam lona em acessórios fashion em oficina de ONG

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:54

Numa sala de um prédio do Centro, Flávia transforma restos de lona em acessórios de moda, como bolsas, sacolas, nécessaires e mochilas. Ao mesmo tempo em que costura os pedaços de vinil colorido, tenta recompor sua vida, afastando-se da rotina cinzenta do Instituto Penal Oscar Stevenson, em Benfica. Flávia, de 33 anos, que pediu para ser identificada apenas pelo primeiro nome, cumpre pena de 18 anos e oito meses por homicídio, em regime semiaberto. Ela é uma das detentas selecionadas para trabalhar na oficina que a ONG Tem Quem Queira inaugurou, nesta segunda-feira, na Rua do Rosário 172, no coração do Rio.

O projeto é fruto de um convênio entre a ONG e a Fundação Santa Cabrini. O recursos vêm de um patrocinador privado, por meio da Lei estadual de Incentivo à Cultura. Para os detentos, o novo trabalho é mais do que uma chance de ressocialização. A cada três dias trabalhados, eles conseguem reduzir um dia da pena. Além disso, recebem salário mínimo, alimentação e transporte.

Marco Luna, diretor da ONG e um dos idealizadores do projeto, conta que o trabalho começou em 2008, com detentos da Penitenciária Vieira Ferreira Neto, em Niterói. A oficina, que sempre funcionou dentro do presídio, pela primeira vez ganhará as ruas.

- Nós tínhamos uma empresa de eventos. E queríamos dar um destino para o nosso lixo, formado por lonas, banners e fundos de palco. Então, decidimos reaproveitá-lo.

Cerca de 60 detentos já participaram do projeto. A cada mês são produzidas em média 700 peças, ou 8.400 por ano.

- A costura é uma terapia. Quando sento em frente à máquina, viajo - diz Flávia, que só poderá ser beneficiada pela liberdade condicional em 2017. - Quando cheguei ao sistema penal, tinha depressão todos os dias. Erros, todo mundo comete, mas recomeçar nem sempre é fácil. Agora, quero trabalhar, criar o meu filho de sete anos e tentar ser feliz.

A produção da ONG é vendida para uma carteira de clientes, mas, a partir de segunda, poderá ser comprada por qualquer pessoa, já que a oficina terá também um show room.

Por trás das máquinas de costura, as expectativas são parecidas. Mariana, de 28 anos, que cumpre pena de 24 anos por latrocínio no Oscar Stevenson, é outra que enxerga no trabalho na ONG uma oportunidade para refazer a vida.

- Costureira eu já sou. Agora vou aprender outros tipos de coisa, vou produzir moda. Quem vai dizer que da lona a gente conseguiu produzir uma bolsa? Cada dia a gente cria uma peça diferente - diz Mariana, que só poderá ter liberdade condicional em 2020.

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