“É o Estado que enche seu bolso, não Deus”, diz regime comunista chinês a cristãos

Cristãos só poderão receber benefícios sociais se provarem que abandonaram sua fé.

Fonte: Guiame, com informações do Bitter WinterAtualizado: quarta-feira, 30 de janeiro de 2019 às 13:17
Cristã idosa chinesa ora em sua casa. (Foto: Reprodução/Bitter Winter)
Cristã idosa chinesa ora em sua casa. (Foto: Reprodução/Bitter Winter)

A mais recente ameaça do governo chinês é tirar os benefícios de bem-estar social daqueles que professam uma crença em Deus. O Partido Comunista Chinês (PCC) tem usado o argumento: “É o estado que enche seu bolso, não Deus, de modo que o louvor e a adoração pertencem ao Partido e a seus líderes”.

Desta forma, o regime comunista está dizendo aos crentes que precisam escolher entre manter o seu sustento ou manter a sua fé. “Se você acredita em Deus, não pode receber um subsídio de subsistência; se você receber um subsídio de subsistência, você não pode acreditar em Deus”, diz o Partido Comunista Chinês.

De acordo com a Bitter Winter, isto está acontecendo apesar de o Artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos afirmar que “todos têm direito a um padrão de vida adequado à saúde e ao bem-estar de si mesmo e de sua família, incluindo alimentação, vestuário, moradia e assistência médica, serviços sociais necessários”.

Alto custo

A escolha a ser feita pelos cristãos chineses deve ter um alto custo, literalmente, ameaçando o bem-estar e a saúde de muitos idosos que estão sendo perseguidos por sua fé e que dependem de subsídios governamentais para viver.

A idosa Song Lanying, que está na faixa dos 60 anos, e seu marido são cristãos da cidade de Weihui, na província central de Henan. Ambos estão com problemas de saúde, a filha sofre de depressão e a família conta com o subsídio mínimo que recebe do Estado para se sustentar.

Em dezembro de 2018, o vice-prefeito da cidade, o secretário do partido da aldeia e outros funcionários chegaram à casa de Song Lanying e exigiram que ela rasgasse um calendário de parede com símbolo cristão e um mural em forma de cruz, mas ela recusou, incorrendo na ira do governo.

“Você não acredita em Xi Jinping, mas acredita em Deus”, disse o vice-prefeito, repreendendo-a. “Seu subsídio mínimo de vida é dado pelo estado, então você deve acreditar no estado e pendurar retratos de Mao Zedong e Xi Jinping”, afirmou.

Depois disso, o vice-prefeito e outros oficiais decidiram destruir todos os símbolos cristãos na casa de Song Lanying, incluindo um trabalho de caligrafia com as palavras “Deus ama o mundo” e “Emanuel”, escritos nele.

Sobrevivência ou fé

Song Lanying diz que ter os retratos de Mao Zedong e Xi Jinping é equivalente à idolatria e traição de sua fé. Como ela se recusou terminantemente tê-los, o pessoal do governo continua indo em sua casa para intimidá-la e interrogá-la.

Wu Fengying, que mora no condado de Henan em Yanjin, também é cristã e depende de um subsídio mínimo para sobreviver devido a uma doença cardíaca congênita que a deixa incapaz de realizar trabalho físico. Em agosto, o diretor da associação de mulheres da vila informou a Wu Fengying que funcionários do governo descobriram e fotografaram Wu participando de cultos da igreja, e avisou-a para não acreditar em Deus ou então ter seu subsídio mínimo de vida seria revogado.

“Esta é uma diretriz da cidade. O estado está indo atrás da crença religiosa muito estritamente agora”, disse o diretor a ela.

Ao contrário de Song, no entanto, após ser repetidamente ameaçada pelo governo local, Wu Fengying parou de participar de reuniões da igreja. Ela lê a Bíblia secretamente e continua a adorar em casa.

A Bitter Winter tem relatado como as autoridades adotaram vários tipos de medidas para forçar os cristãos idosos, que dependem de subsídios do governo, a renunciarem à sua crença em Deus. Para os crentes, é uma escolha entre sobrevivência e fé.

No distrito de Yanjin, Zhao Shun, um cristão de quase 60 anos que mora com sua mãe que tem mais de 90, disse que o secretário do partido da aldeia esperou até que ele não estivesse em casa no dia 12 de dezembro para ir até lá e arrancar um dístico religioso.

Uma semana depois, o secretário o ameaçou dizendo que se algum símbolo religioso permanecesse em sua casa, seu subsídio mínimo de vida seria cancelado.

Quando Zhao disse que a constituição nacional prevê a liberdade de crença, o secretário do partido da aldeia respondeu que apenas os tolos acreditam nesta disposição.

* Todos os nomes usados ​​nesta matéria são fictícios.


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