Quando começamos o Rio de Paz em 2007, logo após a manifestação das cruzes, na praia de Copacabana, um correspondente de famosa revista americana me procurou para que lhe concedesse entrevista, ao término da qual lhe perguntei: "o que você acha que falta aos movimentos sociais no Brasil?" Sua resposta marcou a história do nosso trabalho. "O problema é que vocês fazem manifestação e depois somem das ruas".
Os problemas sociais que enfrentamos no Brasil, como todos sabem, são gravíssimos. Sonhamos com a difícil harmonia entre desenvolvimento econômico, liberdade, respeito aos direitos humanos, melhoria dos serviços públicos e combate à desigualdade social. Espasmo cívico não mudará essa realidade.
Precisamos de algo mais. Nossas ações carecem de continuidade. Perseverança. O fato de não termos visto mudanças significativas no país, como resposta do poder público às manifestações do ano passado, não pode nos abalar. Não se muda problemas político-sociais crônicos e endêmicos da noite para o dia. O Brasil não se tornará país no qual -a vida humana seja respeitada- sem pressão popular. Precisamos, contudo, associar à insistência o senso de oportunidade histórica. Há momentos nos quais ir para as ruas é garantia de sucesso na empreitada, esperança de repercussão e certeza de pressão real sobre quem governa.
Ocorre um caso emblemático, que expõe as mazelas do poder público, é nosso dever retornar às ruas. Oportunismo? Não. Trata-se de velejar com o vento. Gritar com a possibilidade de ser ouvido.
A Copa do Mundo é oportunidade rara de chamarmos a atenção para problemas sociais que enfrentamos há séculos. Os olhos do mundo estão voltados para o Brasil. Governo e Fifa erraram a rodo. Ambos estão diante de perguntas irrespondíveis, nesta competição na qual empresários, políticos e Fifa vão sair ganhando, enquanto o povo vê seu dinheiro sendo usado numa festa para a qual não foi convidado.
Voltemos às ruas. Se mascarados aparecerem para quebrar, saquear, agredir policiais e repórteres, queimar; sentemos no chão. Deixemo-os sós. Não vamos deixar o sonho de junho de 2013 morrer. O sonho de vermos o país passar por reforma histórica. Ele precisa. Os sintomas da doença estão aí. Essa Copa, conforme foi organizada, é um deles. O outro, o fato de sermos a sétima economia do mundo e 85º em Índice de Desenvolvimento Humano. O que é isso? O que se faz com o dinheiro desse país?
Milhões vivem muito mal no Brasil. Não precisa ser assim. Basta que voltemos às ruas, sem sair delas até vermos o sol da justiça brilhar.
- Antônio Carlos Costa
Rio de Paz
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