Esperança no meio do caos atual

Esperança no meio do caos atual

Fonte: Atualizado: terça-feira, 1 de abril de 2014 às 03:49

Focar o mal leva ao desânimo e à acomodação, enquanto que olhar para Cristo gera uma esperança que nos arranca da passividade. O seu amor por cada um de nós, escancarado na cruz, e a sua vitória sobre o mal, manifesta na ressurreição, enchem-nos de fé e esperança e nos convocam a enfrentar o mal e ser carvalhos de justiça. Como pontuou tão bem Agostinho: "A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las". Viver com esperança é ter uma ação profética e transformadora, denunciando o mal e contribuindo ativamente para a manifestação da promessa.

Esperança no reino de Deus

Cristo nos deu o privilégio de ser o Corpo dele, expressão concreta da sua graça, co-participantes da implantação do seu reino e agentes de transformação social a partir daquilo que foi gerado em nós. Assim como fez com Maria, o Espírito Santo nos "engravida" de boas obras que sinalizam ao mundo o reino de Deus. É a experiência de ter sido reconciliados com Deus em Cristo que gera paz e nos motiva a ser instrumentos da paz. É a experiência de fazer parte do reino de Deus que nos capacita a enxergar e apontar os seus sinais. Vejo o reino quando um autor renomado, como Henri Nouwen, opta por deixar de ser um professor aclamado para cuidar de um deficiente numa casa de apoio. A ressurreição acontece quando uma família cujo pai abusava do fi lho consegue reconstruir laços de respeito, resgatando a dignidade de cada um, através de um processo profundo de quebrantamento e reparação. Toda manifestação de amor, perdão e reconciliação é expressão do reino de Deus.

Esperança imersa no amor do Pai

Jesus não realiza a sua vocação simplesmente fazendo coisas que o Pai lhe mandou fazer, mas também deixando que lhe fosse feito o que o Pai permitiu que lhe fizessem. A ressurreição acontece e Deus é e perdão àqueles que nos machucam, quando vencemos o mal com o bem, em vez de revidar e alimentar o círculo vicioso do desamor. Só conseguimos perdoar quando estamos imersos no amor incondicional do Pai que nos consola e nos renova. A esperança se nutre também da confirmação do outro, exemplificada de forma tão bela pelo abraço de Maria e Isabel. Podemos identificar e celebrar aquilo que Deus já está fazendo na nossa vida e na vida do nosso irmão. A comunidade cristã se torna o lugar onde mantemos a chama da esperança viva. É assim que podemos afirmar que Deus é amor, mesmo estando rodeados de rancor; proclamar que Deus é vida, mesmo atingidos por morte e destruição.

Esperança no rosto do irmão e da irmã

Um velho sábio perguntou a seus jovens discípulos: "Quando termina a noite e começa o dia?" Um deles respondeu: "Quando alguém pode ver a diferença entre uma ovelha e um tigre." "Não." Outro arriscou: "Quando alguém pode ver a diferença entre uma árvore e um homem." "Não." "Então nos diga, sábio". Ele respondeu: "A noite termina e o dia começa quando você pode ver Deus no rosto de um irmão e uma irmã". Como Jacó que, ao reencontrar Esaú, de quem ele tinha roubado a benção paterna, exclama: "vi o teu rosto como se tivesse contemplado o semblante de Deus". De fato, em vez de cobrar suas falhas, Esaú, da mesma forma que o pai do fi lho pródigo, "correu-lhe ao encontro e o abraçou" (Gn 33). Assim, a esperança se manifesta pela qualidade dos nossos relacionamentos, pela forma com que lidamos com o mal que nos fazem. Não se trata de negar este mal, mas de olhar para ele como um pedido de socorro de alguém ferido que fere a partir de suas feridas não curadas. Trata-se de voltar para a fonte de todo amor, que é Cristo, olhar para ele na cruz, e, compungidos, deixar que seu amor alcance outros através da nossa vida.

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