‘Fui curado na hora que aceitei Jesus’, diz ex-muçulmano que se tornou missionário

Em entrevista exclusiva ao Guiame, Cássimo Armando compartilhou sua experiência de conversão, cura e atuação como missionário em Moçambique.

Fonte: Guiame, Adriana BernardoAtualizado: terça-feira, 15 de abril de 2025 às 17:33
Missionário Cássimo Armando: “Alcançar povos, tribos, raças e línguas”. (Foto: Guiame/Adriana Bernardo)
Missionário Cássimo Armando: “Alcançar povos, tribos, raças e línguas”. (Foto: Guiame/Adriana Bernardo)

A vida de Cássimo Armando, um moçambicano do sul do país, foi transformada radicalmente a partir de um convite que recebeu, quando tinha 17 anos, para ir a uma cruzada evangelística.

Em entrevista exclusiva ao Guiame, Cássimo contou que esteve pela primeira vez no Brasil – nas Igrejas Wesleyanas de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte – para compartilhar o avanço do trabalho missionário com as igrejas parceiras da missão em Moçambique.

Nascido em uma família muçulmana praticante, Cássimo chegou a estudar em uma madrassa – escola destinada ao ensino religioso islâmico –, onde aprendeu os fundamentos do Alcorão e os princípios da fé muçulmana.

Ele conta que, no sul de Moçambique, onde nasceu, a cultura local também está enraizada na figura dos curandeiros, que dentro de cada família, são responsáveis por proteger os membros e fazer rituais religiosos por cura, até mesmo em cemitérios, quando estão doentes.

Quando, aos 8 anos, Cássimo passou a sofrer com uma inflamação na barriga e na garganta que o impedia de falar, ele foi submetido a esses rituais dentro de sua própria família e depois com outros curandeiros – chegando a tomar banho com sangue de galinha como ritual de uma cura que nunca aconteceu.

“Lembro-me de ter sido colocado no chão, cercado por sacos e cinzas, que faziam parte de um tipo de tratamento. Alguns cortes no corpo. Minha mãe proferiu algumas palavras para que eu fosse curado, mas aquilo não resolveu. Depois, buscamos outros curandeiros", contou.

"Eu vivi nessa cultura sem perceber o que realmente era, mas hoje entendo que se tratava de feitiçaria, onde se invocavam divindades", disse Cássimo, que sofreu por dez anos com aquela enfermidade desconhecida.

Casado com Tina Grece, o missionário tem dois filhos, Alice e Calebe, e atua como diácono da Igreja Metodista Wesleyana de Nacala Porto, uma cidade portuária situada na província de Nampula, no norte do país, onde a população é predominantemente muçulmana.

Conhecendo Jesus e recebendo a cura

Com 17 anos, sofrendo há uma década com aquela enfermidade desconhecida, Cássimo recebeu o convite de um missionário brasileiro que estava em sua região, para participar de uma cruzada evangelística. Decidido a ir ao culto, ele teve sua primeira e mais forte experiência pessoal com Jesus naquela mesma noite.

“O pastor falava e parecia que ele conhecia toda a minha história e tudo o que eu estava passando”, lembra.

Missionário Cássimo Armando, na Igreja Wesleyana do Tatuapé (SP). (Foto: Guiame/Adriana Bernardo)

Cássimo conta que naquela mesma noite, ele entregou sua vida a Jesus: “Eu me lembro que estava no chão, chorando muito, e comecei a falar em novas línguas. Eu fui liberto totalmente e completamente. Fui curado, nunca mais tive problema de saúde.”

“Naquele dia, naquele encontro com Jesus, minha vida mudou radicalmente”, afirma.

Ele conta que sua conversão encontrou resistência dentro da família. Chegou a ser expulso de casa e a passar frio e fome. Uma dessas vezes aconteceu quando ele saiu de um culto.

“Eu via comida no lixo e por causa da fome pensava em comer aqueles restos”, diz.

Ele conta que não entendia direito ainda porque estava passando por aquela situação, mas, mesmo assim, agradecia a Deus.

Vida missionária

Algum tempo depois, Cássimo conheceu a base da Igreja Wesleyana em Nacala Porto, liderada pelo Pr. Marllon Santos, diretor da Missão em Moçambique, e que há dois anos coordena o Projeto Nacala.

A iniciativa busca fortalecer o avanço do Evangelho por meio da organização de igrejas remotas e da formação de obreiros locais. Foi ali que Cássimo começou a frequentar e, posteriormente, a visitar as 24 aldeias que têm igrejas plantadas pela missão.

Há 13 anos na denominação brasileira, junto com sua esposa e filhos, viu sua mãe e parte dos irmãos – eles são em 14 – também se converterem.

Hoje com 31 anos, Cássimo diz que seu chamado missionário é fruto de suas experiências com Jesus. Ele explica que não poderia deixar de compartilhar com seu povo aquilo que ele havia recebido de Cristo.

Perseguidos por radicais islâmicos

Moçambique é um país da África Central com cerca de 36 milhões de habitantes. A religião predominante é o Cristianismo – católicos e protestantes –, seguido por aproximadamente 56% da população. O Islã também tem uma presença significativa, representando cerca de 18% dos moçambicanos e, neste grupo, muitos radicais muçulmanos.

Durante a entrevista, que foi acompanhada pelo Pr. Estevan Bakos Ferreira, da IMW Parque Paulistano (SP), que hospedava o missionário em sua casa enquanto estava no Brasil, o pastor explicou que há muitos ataques de terroristas às aldeias.

Esses radicais frequentemente chegam nas aldeias e impõem uma onda de violência contra os cristãos, chegando a incendiar casas e locais de culto e a decapitar pessoas.

Cássimo conta que uma das experiências mais traumatizantes que teve, recentemente, foi com uma dessas investidas enquanto visitava uma das aldeias, lugares tão remotos que às vezes eles ficam dois ou três anos sem conseguir chegar.

Ele diz que ele e o pastor Marllon foram confundidos com terroristas e chegaram a ser presos pela polícia.

Foto tirada a 500m de onde em setembro de 2023 ocorreu um ataque islâmico, e a equipe foi confundida com os terroristas. (Foto: Arquivo pessoal)

“Foi uma luta, eu fiquei com muito medo naquele lugar. Um mês antes, terroristas haviam invadido. Lá não há energia, e dormimos ao ar livre”, explicou, apontando a vulnerabilidade da equipe no local.

“Eu pensava: eles podem chegar a qualquer momento. Você ouvir falar desse tipo de situação é uma coisa; viver aquilo é outra”.

“É doloroso ver o que eles fazem com as pessoas”, lamenta.

Felizmente, eles foram soltos pela polícia, após um líder comunitário cristão, explicar sobre quem eles eram. No fim, a própria polícia passou a acompanhá-los para proteger de eventuais ataques dos grupos terroristas.

Para Cássimo, esse foi um cuidado de Deus com a vida deles.

“Entramos em todas as aldeias, visitamos, pregamos a Palavra de Deus, entregamos cestas básicas, roupas e colheitas do plantio feito na base”, conta. Durante três dias que estiveram nessa missão, foram protegidos pelos policiais.

Além do assédio violento de radicais e extremistas religiosos, o país também sofre com desastres naturais, o que impede as visitas de serem mais regulares e menos espaçadas.

Recentemente, algumas regiões de Moçambique foram devastadas por três ciclones. Cássimo conta que muitas casas e igrejas foram destruídas, por serem construídas de forma rudimentar, com barro e palha.

Essas condições fazem com que “a gente deixe partes da Bíblia – destacamos as páginas e distribuímos para que eles possam meditar pelos meses que ficarão sem nossa visita para pregar.”

Quando conseguem chegar a alguma aldeia, eles levam roupas e alimentos, como parte do trabalho missionário.

Visita missionária, antes de partirem para outra aldeia. (Foto: Arquivo pessoal)

Ele conta que nessas situações extremas aprendeu o que é missão e o que é ser um missionário. E entendeu o que o apóstolo Paulo diz: “Viver é Cristo e morrer é lucro”.

Experiências marcantes

Cássimo também testemunha sobre o milagre que eles viveram com o plantio na base missionária, que abastece de alimentos as 24 aldeias. Mesmo sem chuva e sem condições para agricultura, eles decidiram semear na terra milho e gergelim.

Após o terceiro dia de oração, ele conta, “Deus mandou chuva e fez brotar as sementes. Não há nada impossível para Ele”.

Pastor Marllon Santos, Cássimo e irmã Mamá, que cuida da plantação de milho da base missionária em Nacala Porto. (Foto: Arquivo pessoal)

Outra experiência marcante aconteceu quando eles saíram com o carro que, sem que eles percebessem, estava com os parafusos da roda soltos e sem freio.

“Fomos para algumas aldeias distantes, sem freio e os parafusos soltos, visitamos as aldeias, trabalhamos e só fomos descobrir que estávamos sem os parafusos presos e sem freio quando estávamos em casa”.

“Eu vivi o milagre de Deus de muitas formas”, resume, relatando ainda que viu Deus, inclusive, multiplicar comida.

Em sua mensagem final, Cássimo diz que a oração é o que faz com portas e caminhos sem abram.

“Se eu não consigo ir, eu consigo dobrar os joelhos, os joelhos dobrados são o que nos dão forças”, diz o missionário. “Nunca podemos desistir do que Deus colocou em nós: alcançar povos, tribos, raças e línguas. Amar, servir e apresentar Cristo.”

Para ser parceiro ou apadrinhar crianças do Projeto Nacala, acesse as informações no site oficial da missão: https://missaomocambique.com/nacala/ ou pelo Pix: [email protected]

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