Até onde nossa indignação ao genocídio de cristãos e à perseguição religiosa em todo o mundo deve nos levar? Seria correto orar para que Deus pese sua mão poderosa sobre homens maus, como por exemplos os terroristas do Estado Islâmico? Segundo o pastor e missionário Nik Ripken, a decisão do cristão diante deste cenário não é nada fácil, mas precisa ser primeiramente a do perdão.
Segundo o líder cristão, a perseguição religiosa tem sido uma das "provas de fogo" para os cristãos neste sentido.
"Como seguidores de Jesus, escolhemos o lado do bem em vez do mal. Em nenhum lugar isto é mais claro do que em regiões do mundo onde a perseguição religiosa é o preço caro que os cristãos pagam por proclamar a morte e a ressurreição de Jesus Cristo - lugares, por exemplo, onde o Estado Islâmico executa impiedosamente nossos irmãos e irmãs na fé", afirmou o missionário em um artigo recente para o site "Desiring God", comandado pelo pastor John Piper.
Ripken alertou que a intolerância religiosa transcende o âmbito político, ativista e as mobilizações internacionais: ela marca uma guerra de fato espiritual.
"Embora a batalha contra o mal tenha certamente manifestações físicas, a guerra mais profunda e mais importante é espiritual e interna. Quando o mal ataca, nós clamamos em oração para Deus nos ajudar. E o que pedimos a Deus nos diz muito sobre o que realmente queremos e sobre o que esperamos", disse.
O missionário lembrou que clamar a Deus e expressar aflição diante da perseguição (e possível morte) é completamente natural, até mesmo para os cristãos de grande maturidade na fé, considerando que até mesmo Jesus expressou tal sensação a Deus, pouco antes da crucificação.
"Deus, salve-me!' É uma resposta muito normal e compreensível ao mal da perseguição. Nós ouvimos orações como essa dos salmistas e na primeira metade da oração de Jesus no jardim antes de sua crucificação", lembrou.
"Se minha família ou eu estivéssemos na prisão, iríamos querer que pessoas fossem fizessem esta oração em nosso nome. Eu certamente faria essa oração. No entanto, precisamos lembrar a prece 'Pai, afasta de mim este cálice' é apenas metade do que Jesus orou em Mateus 26:39. Se não nos lembrarmos disso, podemos rapidamente mudar para a oração 'Deus, peço o que os puna!' com relação aos nossos perseguidores", acrescentou. "Deus, peço que os puna' também é uma resposta comum ao mal da perseguição".
O missionário reconheceu que a perseguição religiosa tem sido razão de grande preocupação, mobilização e também indignação no Ocidente, porém ele também lembrou que nestes contextos o Evangelho se propaga de forma surpreendentemente forte.
"Nós, no Ocidente, tendemos a ver a perseguição como uma violação de nossos direitos humanos, e esperamos e exigimos de Deus e dos governos, tanto o resgate quanto a retribuição de algo que Deus realmente esteja usando para a Sua glória, nosso crescimento espiritual e a propagação do Evangelho. Em outras palavras, José precisou ir para a prisão do faraó para a que houvesse a posterior salvação dos judeus no Egito", destacou.
"É aí que devemos fazer a segunda metade da oração de Jesus no jardim: 'Não como eu quero, mas como o Senhor quiser' (Mateus 26:39). Isso é importante, porque pedir a Deus para punir nossos inimigos pode facilmente significar o nosso fracasso em amá-los como Cristo nos amou", explicou.
Ripken lembrou que por mais difícil que seja, os cristãos devem ter uma atitude semelhante a que Jesus e Estêvão tiveram diante daqueles que os perseguiam, chegando a matá-los.
"Os seguidores de Jesus devem perseverar e ir além além dessas duas primeiras respostas de oração diante do mal e se juntar a Jesus e Estêvão, fazendo as mesmas orações que eles fizeram: 'Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem'. (Lucas 23:34) e '[...] Senhor, não lhes imputes este pecado [...]' (Atos 7:60)", citou.
"A prece 'Pai, perdoa-os' reconhece que os seguidores de Jesus se vêem como alvos do ataque satânico, mas ainda assim permencem vitoriosos em seu Salvador. Tanto Jesus, enquanto estava sendo crucificado, como Estêvão, enquanto sendo apedrejado, consideravam seus perseguidores como pessoas que precisavam do perdão de Deus, justamente porque eram indivíduos responsáveis por suas ações pecaminosas", acrescentou. "Esta resposta não é fácil, todos sabemos. Procurar perdão para os inimigos é contra-intuitivo, impopular e muitas vezes visto como fraqueza, às vezes até mesmo pelos cristãos".
O missionário destacou que o perdão e estas orações são - espiritualmente falando - a resposta correta à perseguição religiosa, por mais que elas possam ir na contramão do que a sociedade atual talvez pregue.
"O ato de responder ao mal com orações como as de Jesus e de Estêvão requer uma devoção ao desenvolvimento de 'uma nação melhor' (Hebreus 11:16) e uma fé enraizada na promessa de que nem mesmo a pior perseguição poderia tocar nossas vidas indestrutíveis (Lucas 21: 16-19; João 11: 25-26)", lembrou.
"Perdoar nossos inimigos mostra o amor de Cristo em um mundo vingativo. E quanto mais crescemos em fé e amor de Cristo, mais faremos esta oração 'perigosa': 'Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como perdoamos os nossos devedores' (Mateus 6:12)", salientou. "Foi assim que Jesus ensinou seus discípulos a orar. Existe uma oração mais 'perigosa' para a nossa alma?".
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