Profissão: Mãe social

Profissão: Mãe social

Fonte: Atualizado: terça-feira, 1 de abril de 2014 às 03:49

Márcia ficou aflita quando soube que era uma entrevista. Mal pegou o telefone, disse:

"É muito bom! Eu gosto muito, a gente tem que gostar do que faz. Fica bem mais fácil quando a gente gosta!"

Márcia Aparecida Calixto é mãe social de oito crianças que têm entre 4 e 15 anos, em uma casa-lar, no Sítio Shalom, em Pequeri, MG. Apenas quando chegou ao sítio é que preencheu seu currículo e outros papéis. Conversou com a psicóloga, fez uma entrevista com a coordenadora do sítio e, nas palavras dela: "Eu demorei um pouquinho para entrar [na organização]. Insisti. A Adriana [coordenadora do sítio na época] gostou de mim e me chamou".

Em março de 2009, a Associação Refúgio dos Meninos e Meninas de Rua ( REMER ) comemorou 20 anos de trabalho, que começou na estação ferroviária Central do Brasil, no Rio de Janeiro, onde sempre havia crianças em situação de rua e, muitas delas, usuárias de drogas. Hoje, além da Casa Betânia, que serve de apoio ao trabalho de abordagem nas ruas, no Rio de Janeiro, RJ, a REMER trabalha com casas-lares: a Casa Nova Esperança, no Rio de Janeiro, e outras no sítio Shalom. Possui também uma Casa de Estudantes, em Juiz de Fora, MG, para adolescentes bolsistas em uma escola da cidade. Realiza também atividades com crianças pequenas das comunidades próximas aos projetos.

Desde o final de 2007, a REMER tem trabalhado para reestruturar o processo de contratação e acompanhamento de pessoal. Janine Smits, uma das fundadoras, assumiu a recém-criada área de captação de recursos humanos, justamente para fortalecer o que eles têm de melhor: seus funcionários.

O que para Márcia significou "demorar um pouquinho para entrar", para a organização foi um bom processo de seleção: além da clareza na descrição do cargo, a REMER avalia o currículo e um questionário sobre diversas áreas da vida e liga para as pessoas indicadas para darem referências.

Apenas depois disso, o candidato passa pela entrevista com o psicólogo e com o coordenador do projeto. No caso de mãe social, ainda há um período no qual é avaliada pela antiga mãe (ou pais) social, pelo coordenador e, claro, pelas crianças. O que para Márcia foi apenas "Adriana gostou de mim e me chamou", significa que o processo de seleção mostrou que Márcia atendeu a vários pré-requisitos.

Aptidão: segundo Janine, visão, chamado, e boas referências nem sempre são suficientes para a pessoa desempenhar bem o seu papel. É necessária aptidão específica para funções específicas.

Visão: não é apenas um emprego. A organização percebeu que Márcia se identificou com os valores, a visão e a missão da organização;

Promoção dos direitos da criança: Janine acrescenta que é preciso "ter motivação para participar da promoção da criança e [a pessoa] tem que ter isso já no coração, não dá para a gente estimular isso depois que ela chega aqui". Era necessário saber que Márcia seria uma promotora da criança e valorizaria os princípios do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a proteção à criança.

"Uma vez eu achei que não iria conseguir, eu pensei em ir embora, mas tive a força do pessoal do escritório. Hoje as crianças me respeitam muito."

As palavras de Márcia reforçam a necessidade da segunda parte do trabalho da Janine: cuidar dos que cuidam. "Eu entrei [na captação de RH] para prevenir que esse educador que se envolve se desgaste, saia da organização ou seja vítima de burnout. Saber se o salário está adequado, das condições de trabalho, se está se cuidando...Enfim, cuidar desses educadores, mas também estimulá-los a se cuidarem."

A cada 15 dias os coordenadores fazem uma reunião de cuidado integral com os agentes que trabalham diretamente com as crianças para ouvi-los. Nessa ocasião, eles avaliam o trabalho, compartilham o que acontece com as crianças e recebem orientações, dão sugestões e propõem mudanças. Parte do tempo é dedicado a um pastor, que os ajuda a pensar sua missão, seu trabalho, a partir do coração de Deus.

No meio da entrevista com Márcia, Thiago Barroso, auxiliar administrativo do sítio Shalom, pegou o telefone e pediu licença:

"Eu queria dizer que no dia de folga, ela pega os meninos e leva pra casa dela. A Márcia gosta tanto dos meninos... e não é a única aqui não".

Excelência no cuidado da criança e do adolescente é fruto de pessoas com paixão pela causa. E essa paixão acontece quando a pessoa certa está na função certa e quando os agentes são ouvidos e cuidados, permanecendo apaixonados. (T.M.)

Postado por: Felipe Pinheiro

Este conteúdo foi útil para você?

Sua avaliação é importante para entregarmos a melhor notícia

Siga-nos

Mais do Guiame

O Guiame utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência acordo com a nossa Politica de privacidade e, ao continuar navegando você concorda com essas condições