Quero ser uma igreja missionária - parte 1 - Coluna Sérgio Dias

Quero ser uma igreja missionária - parte 1 - Coluna Sérgio Dias

Fonte: Atualizado: terça-feira, 1 de abril de 2014 às 03:49

Desconstruindo o conceito: "arrecadar fundos é ser missionária"

Na série de textos que passo a abordar agora, quero começar a refletir sobre o foco, a vida, a razão de existir dos crentes e da igreja: a obra missionária. Essa razão está, aos poucos, sendo deixada de lado. Parece-me que as igrejas evangélicas brasileiras, leia-se seus líderes, esqueceram-se que ser missionária é a razão de existir da igreja. A mensagem central passou a ser o crescimento, as melhorias, o templo mais belo, o melhor louvor, em detrimento da obra missionária. Em troca de "mimos", ou presentes, que são os poucos reais arrecadados em cultos que em nada são missionários, as igrejas passaram a ver a obra de missões como um "acessório" e não o objetivo central, primordial, essencial da vida cristã.

Primeiro: O afastamento do ardor por missões se dá na liderança que, consequentemente, contagia a igreja. Exemplo: basta perguntar a um crente de alguma igreja "nova", que acaba de ser "aberta", o que significa a palavra Missões. Com base em estudos já feitos, a proporção é de 3 a cada 10 pessoas que afirmam conhecer algo (eu disse conhecer "algo", bem superficial...) sobre missões. Em geral, as pessoas entrevistadas afirmam ler sobre a obra missionária em sites na internet. Aliás, sobre este assunto falarei em outro artigo. Atualmente existem agências missionárias que só trazem informações sobre sofrimento ou perseguições aos crentes, como se a obra missionária fosse uma fábrica de mártires. Essa política de divulgação de sofrimentos só faz aumentar a "mística" de que missionário sofre mesmo...

Então, como a liderança não tem compromisso na formação de uma base teológico-missionária (base essa que veremos nos próximos artigos), não há consciência missionária entre os fiéis e, consequentemente, entende-se Missões como um objeto estranho à vida da igreja. Formam-se gerações de crentes que acreditam, de fato, que a obra missionária é meramente um acessório da igreja, pois não se fala do tema nos cultos!

Segundo: O que se fala de Missões, e quando se fala (fato comprovado pelas pesquisas), gira em torno da arrecadação de ofertas nas igrejas para enviar às agências. De um certo ponto de vista, a arrecadação de ofertas é uma forma de fazer missões. Entretanto, jamais será indício de que a igreja é, de fato, uma ativa participante da obra missionária. As igrejas passaram a incentivar essa atitude como uma forma de "limpar a barra" e compensar a falha (desculpem a redundância) em não viver uma vida de fato missionária. Ainda no campo das estatísticas é possível comprovar, sem muito esforço numérico, apenas na observação "ao vivo", que as igrejas evangélicas brasileiras mal sabem como levantar recursos, sustentar missionários ou ainda como são aplicadas as ofertas arrecadadas. É preciso mais que as ofertas financeiras. É necessário que vidas sejam ofertadas no altar em prol dessa obra. E a principal delas é a vida da liderança. Sem o apoio do líder máximo da igreja, a obra missionário fica esquecida ou limita-se aos poucos evangelismos (em todas as suas características). Trataremos disso em outro texto.

Terceiro: Sobre a oferta de vidas para a obra missionária, é preciso frisar que a ordenança de Jesus em Mateus 28.19 foi deixada para todos os cristãos! Não há exceções. Ser missionário (ou seja, viver missões) é a razão de sermos cristãos! Somos gratos pela salvação, mas nos fechamos nisso, por vários motivos distintos, e não queremos compartilhar do mesmo Evangelho que nos alcançou! É mais fácil falar da mística cristã, com frases de efeito (duvidoso), e suas visões e milagres (igualmente duvidosos) do que pregar a Palavra pura e simples. Porém, parte dessa culpa é da liderança. Como ela não conhece nada (ou muito pouco) sobre a obra missionária (viver e fazer missões), não há como ensinar algo aos fiéis - não sei se por ignorância sobre o assunto ou por  interesses sórdidos. Esses, por sua vez, apenas repetem (sim, repetem!) o que esses líderes dizem - geralmente mensagens de bem-estar, saúde eterna, vitórias e "prosperidade" etc. Bitolam suas mentes e esquecem de levar adiante a mensagem - a mesma que os salvou.

Neste breve quadro, podemos notar como a igreja de hoje sofreu (e ainda sofre) o esvaziamento de sua própria essência (ser missionária) e passou a adotar um paliativo como forma de "fazer missões": arrecadar fundos para dar a uma agência.

Desculpem a franqueza, mas a realidade é esta! Salvo algumas exceções, resguardada às denominações tradicionais (talvez esta constatação seja um "mistério" para os crentes mais "cheios de poder"), a igreja evangélica brasileira, em sua multiforme apresentação denominacional, não sabe, não conhece e não vive missões!

Mas, qual a solução, então, para reverter este quadro atual? Como é possível uma igreja ser missionária, abandonando o "quero ser" que leva à lugar nenhum? Proponho um retorno às Escrituras. E isso veremos nos próximos textos.

Sergio Dias é jornalista, bacharelando em Teologia pelo Seminário Betel (RJ). Atua no mercado de comunicação evangélico há 11 anos. Trabalhou nas rádios Melodia FM e Nossa Rádio FM, nos jornais Palavra e Sports (RJ), em programas de televisão, e atualmente coordena o conteúdo do Portal e da Redação da Junta de Missões Mundiais da CBB.

Para conhecer o blog de Sérgio Dias, CLIQUE AQUI

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