Relatório: 1 em cada 8 cristãos no mundo é perseguido "por causa da fé em Jesus"

O Índice Global de Perseguição 2025 apontou cerca de 300 milhões de cristãos perseguidos no ano passado.

Fonte: Guiame, com informações do The Washington StandAtualizado: segunda-feira, 13 de janeiro de 2025 às 17:44
Membros da Igreja Morning Dove em Manila, Filipinas. (Foto: IMB)
Membros da Igreja Morning Dove em Manila, Filipinas. (Foto: IMB)

De acordo com um novo relatório, um em cada oito cristãos em todo o mundo enfrenta perseguição religiosa, que varia desde prisão e censura até martírio extrajudicial e sancionado pelo governo.

"A cada ano, cerca de 300 milhões de cristãos ao redor do mundo são perseguidos por sua fé em Jesus. Nossos irmãos e irmãs em Cristo são espancados, presos e até mortos por sua fé", afirmou o Índice Global de Perseguição 2025 da International Christian Concern (ICC), divulgado na última sexta-feira (10/01).

O documento de 59 páginas registra casos de governos negando direitos a uma parte dos aproximadamente 2,38 bilhões de cristãos no mundo. "Em muitos países, é ilegal para eles compartilharem o Evangelho."

"Os detalhes da perseguição que vocês lerão em nosso relatório não são incidentes isolados", esclareceu o presidente da ICC, Jeff King. Esses atos repressivos representam a realidade de "cristãos em todo o mundo que enfrentam ameaças diárias às suas vidas e à liberdade religiosa."

Anteriormente conhecido como o relatório "Perseguidores do Ano", o índice classificou 20 países conforme o nível de perigo que representam para suas populações cristãs: vermelho (onde os cristãos são regularmente torturados ou mortos por sua fé), laranja (onde as nações "oprimem severamente" os cristãos) e amarelo (onde "infrações menores" sujeitam os cristãos a prisões, ataques ou opressão).

"2024 foi um ano angustiante para um grande número de cristãos em todo o mundo", disse o relatório da ICC, "de igrejas domésticas subterrâneas na China a aldeias remotas na Nigéria."

As conclusões da ICC coincidem com a "Lista Vermelha do GCR de 2025" da Global Christian Relief, que documenta as 25 piores nações em termos de perseguição cristã, classificadas em cinco categorias distintas.

Nações perigosas

Quatro das cinco nações mais perigosas para os cristãos estão na África Subsaariana, de acordo com o GCR: Nigéria, República Democrática do Congo, Moçambique e Etiópia.

A lista vermelha do relatório da ICC também incluiu Somália e Eritreia, a ditadura marxista da Coreia do Norte, além de Paquistão e Afeganistão, agora sob o domínio do Talibã (mas excluiu a Etiópia).

As duas nações mais populosas do mundo, China e Índia, estão logo abaixo do nível mais alto de perseguição, entrando na lista laranja do ICC, junto com Irã e Arábia Saudita. A lista amarela do ICC inclui Azerbaijão, Egito, Indonésia, Malásia, Mianmar, Nicarágua, Rússia e Vietnã.

Retrato de uma mulher na vila histórica de Shaxi, no Condado de Jianchuan, província de Yunnan, China. (Foto: IMB)

Ambos os relatórios concordam que os cristãos enfrentam a maior perseguição na região do Sahel, na África, abrangendo países como Burkina Faso, Camarões, Chade, Gâmbia, Guiné, Mauritânia, Mali, Níger, Nigéria e Senegal.

O lugar mais perigoso

A Nigéria se tornou a nação mais mortal do mundo para os cristãos após o recuo das críticas por parte do presidente americano Joe Biden, que havia anteriormente abordado a crescente violência e perseguição religiosa no país.

"A Nigéria é o lugar mais perigoso do mundo para os cristãos, onde eles enfrentam a violência mais intensa", disse Isaac Six, diretor sênior de defesa da Global Christian Relief, no programa "Washington Watch" na quarta-feira.

"Documentamos 9.814 assassinatos em um período de dois anos." A Nigéria também lidera a lista do GCR de sequestros e agressões contra cristãos, com 9.311 casos.

A segurança dos cristãos na Nigéria só piorou desde que Biden retirou a designação de País de Preocupação Particular (CPC), uma medida aplicada pela primeira vez pelo presidente Donald Trump.

A falta de eletricidade não impede as mulheres desta igreja de Nairóbi, Quênia, de se aprofundarem na Palavra de Deus. (Foto: IMB)

"Nós estávamos indo em uma direção positiva durante o último governo Trump, e tudo isso foi perdido", lamentou o presidente do Family Research Council, Tony Perkins.

Em vez disso, o governo Biden-Harris utilizou o poder dos EUA para tentar convencer países como Serra Leoa a liberalizar suas leis sobre aborto e impôs um boicote econômico com o objetivo de forçar Uganda a revogar uma lei que proíbe o abuso sexual infantil por homossexuais, a prática de sexo consciente com outras pessoas enquanto portador do vírus da AIDS e o ato de drogar ou coagir indivíduos vulneráveis a praticar sexo gay não consensual – condutas que o projeto de lei classifica como "homossexualidade agravada".

Enquanto isso, a população cristã da Nigéria continua a testemunhar sua fé, mesmo diante da morte.

"As histórias que estão surgindo da Nigéria são quase inimagináveis. E eu acho que, se a igreja americana ouvisse algumas dessas histórias regularmente, ficaria chocada", disse Six. Ele destacou a história de uma mulher nigeriana sequestrada pelo grupo terrorista fundamentalista islâmico Boko Haram.

"Quatro de seus filhos foram executados na frente dela assim que ela foi capturada. Depois, ela passou mais um ano e meio em cativeiro [antes de finalmente escapar e não ter nada], disse Six. "Um dos pastores que apoiamos lá a encontrou. Conseguimos proporcionar uma nova casa para ela, para que pudesse se reunir com seus filhos. A ajudamos a começar um novo negócio e, basicamente, a recomeçar sua vida e se reerguer."

Índia e “supressão em massa da Igreja”

Os crimes contra a propriedade são uma preocupação central na Índia, que liderou a lista do GCR em ataques a propriedades cristãs, com 4.949 incidentes registrados. A antiga comunidade cristã na região de Kerala acredita que o apóstolo Tomé introduziu a fé cristã durante seu ministério no primeiro século. No entanto, hoje, tanto a Igreja Ortodoxa Malankara quanto a Igreja Católica Siro-Malabar estão sendo alvo de ataques direcionados.

 "Isso não é apenas violência aleatória. Os perseguidores utilizam a violência para expulsar os cristãos, visando tomar o controle e capturar a cultura em alguns desses países", afirmou Six.

"Esta é uma década de ocupação sistemática, planejada e organizada de algumas áreas cristãs. E agora chegou ao ponto em que cada degrau da sociedade civil e do governo está armado contra as comunidades cristãs empobrecidas," que "não têm a quem recorrer."

Um homem indiano segura uma Bíblia nova. (Foto: IMB)

A Índia está envolvida em uma "supressão em massa da igreja", ou seja, o país prática sistemática e abrangente de repressão e restrição às atividades religiosas, especialmente aquelas realizadas por comunidades cristãs, observou Six. No entanto, Perkins afirmou que a Índia está "recebendo um passe livre de muitos no Ocidente, devido ao seu crescente poder econômico".

Ditaduras comunistas e extremismo islâmico

A perseguição aos cristãos também tem sido impulsionada por ditaduras comunistas e pelo extremismo islâmico.

"Da China, que refinou e exportou essa crença para o mundo, até a Nicarágua, onde a igreja católica é vista como um inimigo político do estado, ditadores em todos os lugares parecem estar intensificando seu foco no controle da religião ou na eliminação do cristianismo por completo", observou o relatório da ICC.

Um busto dourado abaixo de ícones comunistas no Museu de História Militar de Hanói, Vietnã.(Foto: IMB)

Na Nicarágua, o governo "comunista" dos sandinistas monitora, detém e força líderes cristãos ao exílio. As nações comunistas de preocupação para a ICC incluem China, Coreia do Norte, Nicarágua e Vietnã.

A perseguição islâmica inclui ataques mortais realizados pelo Estado Islâmico (ISIS), al-Qaeda, al-Shabab na Somália e Boko Haram na Nigéria.

"O crescimento das insurgências radicais islâmicas na África Subsaariana, no Sahel e agora no sul e sudeste da África está desestabilizando a região. Moçambique é um dos vários lugares onde houve um deslocamento em massa de cristãos", disse Six a Perkins.

"Esses são lugares onde, há apenas 10 anos, cristãos e muçulmanos conviviam pacificamente. Não havia tanta dissensão. E todo esse cenário está mudando."

A Eritreia está na encruzilhada entre o extremismo islâmico e a perseguição socialista. A Frente Popular pela Democracia e Justiça (PFDJ) do presidente Isaias Afwerki "representa uma ideologia nacionalista radical de esquerda, totalmente contrária às liberdades civis e aos direitos políticos", afirmou o relatório da ICC.

Prisão Eritreia. (Foto: Unsplash/Larry Farr).

"Ideologicamente, a Eritreia segue muitos dos padrões observados na China Comunista. O presidente Afwerki até viajou para a China na década de 1960 para estudar o maoísmo, retornando inspirado e pronto para implementar políticas maoístas em seu país."

Embora os cristãos eritreus representem entre 47% e 63% da população, "[o]s oficiais impõem limites rigorosos ao culto aprovado pelo estado, com severas penalidades, incluindo tortura, prisão e até morte", afirmou o relatório.

Em 2022, o líder da Igreja Ortodoxa Tewahedo da Eritreia, Patriarca Antonios, morreu após 16 anos de prisão domiciliar por resistir à intervenção do governo nos assuntos da igreja.

A perseguição aos cristãos recomeça ou se intensifica em regiões de conflito político, econômico ou étnico. A África Subsaariana possui "uma imensa riqueza mineral", afirmou Six. Ele estimou que cerca de 70% da produção global de cobalto, usado em baterias, ocorre na República Democrática do Congo.

A situação pode se agravar na Síria, após a queda da ditadura familiar do regime de Assad em dezembro, causada pela Hayat Tahrir al-Sham (HTS), uma "antiga" afiliada da Al-Qaeda que, segundo especialistas, continua a manter uma visão jihadista.

"Essas áreas estão divididas por esse conflito, então isso terá efeitos em todo o mundo. E é por isso que precisamos que as pessoas na igreja na América se envolvam, porque elas podem nos ajudar a resistir a essa maré", pediu Six.

Assassinatos e deslocamentos

Após a Nigéria, a República Democrática do Congo registrou 390 assassinatos confirmados de cristãos, seguida de Moçambique (262) e Etiópia (181).

A Rússia ficou em quinto lugar, após ataques de fundamentalistas islâmicos a membros da Igreja Ortodoxa Oriental no verão passado.

"Muitos dos números que verificamos são resultado de uma insurgência islâmica no Norte do Cáucaso, em uma região chamada Daguestão, que faz fronteira com o Azerbaijão, a Geórgia e o Mar Cáspio. E assim, vemos cristãos ortodoxos russos e outros sendo alvo de violência islâmica", disse Six a Perkins.

Membros do grupo terrorista ISIS-K mataram 20 pessoas, incluindo um padre de 66 anos, e feriram 46 em ataques coordenados a igrejas ortodoxas russas e a uma sinagoga no Daguestão, durante o feriado ortodoxo de Pentecostes.

Os cristãos armênios sofreram mais deslocamentos do que qualquer outra nação, devido à invasão de um vizinho de maioria muçulmana.

Crianças armênias estão sem os pais, por causa dos bloqueios. (Captura de tela/YouTube/Radio Free Europe/Radio Liberty)

"O Azerbaijão expulsou 120.000 cristãos no final de 2023. Eles eliminaram 1.700 anos de presença cristã em uma área chamada Nagorno-Karabakh", explicou Six.

Os historiadores acreditam que a Armênia pode ter se tornado a primeira nação cristã do mundo, quando São Gregório, o Iluminador, introduziu o cristianismo no país em 301 d.C. A Igreja Apostólica Armênia, integrante da comunhão ortodoxa oriental, representa aproximadamente 92% da população.

Esse conflito ocasionalmente se estendeu para os EUA. Como documentado pela acadêmica do Family Research Council, Arielle Del Turco, em um relatório abrangente, em 2023 vândalos profanaram uma igreja armênia em Massachusetts com a mensagem:

"Artsakh está morto, Karabakh é o Azerbaijão". Six espera que os líderes dos EUA comecem a "pressionar o Azerbaijão a reabrir esse corredor, garantindo a essas pessoas o direito de retornar para casa — mesmo que não abram mão do território".

A China prendeu 1.559 cristãos no ano passado, mais do que qualquer outro país, de acordo com o GCR.

'O Sangue dos Mártires é a Semente da Igreja'

Apesar da forte perseguição, "o cristianismo é a religião que mais cresce na Ásia e parece estar florescendo, de certa forma, até mesmo em áreas onde governantes despotas trabalham incansavelmente para eliminá-lo. Na teocracia islâmica clerical do Irã, o cristianismo está crescendo a uma taxa tão rápida que alguns estimam que a igreja iraniana pode ser a que mais cresce no mundo", observou o relatório da ICC com otimismo.

O relatório parece confirmar a paráfrase do escritor da igreja primitiva Tertuliano, um defensor da liberdade religiosa, que escreveu: “O sangue dos mártires é a semente da Igreja”.

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