Revisitando o Haiti

Revisitando o Haiti

Fonte: Atualizado: terça-feira, 1 de abril de 2014 às 03:49

Muitos têm acompanhado minhas idas e vindas ao Haiti desde Janeiro deste ano, logo após o terremoto que dizimou, segundo a mídia, o número aproximado de 230 mil mortos. Milhares de casas caíram, e mais de 2 milhões de pessoas preenchem os registros dos desabrigados.

Eu nunca tinha ido ao Haiti antes da catástrofe. Meu coração pesa por isso. Sempre fui envolvido na obra de apoio à igreja sofredora, de algum modo. Morei na China e percorri o Oriente Médio. Mas nunca tinha atentado para a realidade de um país tão pobre e sofrido e Deus precisou se utilizar de uma catástrofe para abrir meus olhos. Portanto, não me considero um expert nos assuntos referentes ao Haiti. Fui lá duas vezes, e pretendo estabelecer outras incursões durante este ano de 2010. Criamos a M.A.I.S. (Missão em Apoio à Igreja Sofredora), visando catalisar recursos para ajudar as igrejas do país. Ainda assim, humildemente, declaro não ser um especialista.

Porém, tenho estado indignado com a postura de algumas pessoas, instituições e principalmente dos meios de comunicação acerca do Haiti pós-terremoto. Não sou especialista, repito. Mas estou vendo. Tenho ido, levando grupos para distribuição de alimento, atendimento médico, instalação de água potável e encorajamento de pastores e igrejas. Essas entradas me permitem ver uma realidade que não condiz com a reação que tenho presenciado. O assunto esfriou. Age-se como se o problema já não estivesse mais lá. E o problema pode estar apenas começando.

Portanto, esse artigo visa denunciar algumas das coisas que notoacerca da real condição do país caribenho. A necessidade de envolvimento da igreja brasileira ainda é total. Se assimilarmos as distorções da mídia acerca da situação, não agiremos adequadamente perante o problema. Portanto seguem algumas das inverdades que tenho notado, ouvido e lido acerca do Haiti e sua situação após o desastre. Algumas dessas constatações são de ordem logística, organizacional ou mesmo estatística. Outros equívocos que delibero aqui são referentes às necessidades de auxílio. Por último, estabeleço uma breve consideração bíblico-teológica. Todos os pontos que se seguem, afirmo, são fruto da minha opinião considerando meu limitado conhecimento do país, minha caminhada como pastor-missionário e minha leitura dos fatos. Não são, portanto, normativos e podem ser debatidos.

Equívocos acerca da logística e da estrutura:

1) ''Foram 230 mil mortos na catástrofe''

Os haitianos não têm informações sólidas acerca do número de mortos. Perguntei a um professor universitário quantos haitianos tinham morrido em 12 de Janeiro, ao que ele respondeu: ''Uns 30 mil''. Um psiquiatra me falou em mais de 500 mil. Na verdade, há dois problemas: o acesso à informação e o procedimento de contagem.

Não há mídia disponível, não há eletricidade, os prédios de edição de jornais e revistas também foram derribados. O governo pouco funciona, e não parece ter interesse em preocupar-se com o número exato de mortos. Quem tem feito a contagem, em geral, é o exército americano. Na maioria dos prédios no centro de Porto Príncipe, há um círculo enorme no chão, feito a giz, constando do número de pessoas que havia dentro de cada prédio, quantas morreram e quantas ficaram feridas. Os escombros ainda estão lá, portanto pode haver mais corpos. Quem assina por esses círculos são os militares americanos, e eles efetuaram essa contagem somente em Porto Príncipe.

Cidades da grande Porto Príncipe, como Delmas, Tabarre, Carrefour, entre outras, foram tão afetadas quanto a capital. Mas a contagem não chegou até lá (nem as ajudas, como mencionarei adiante).

Preguei em uma igreja a 10 quilômetros de Porto Príncipe, que reúne hoje aproximadamente 1500 pessoas no meio da rua. A reunião ocorre em frente ao seu templo, que caiu. O pastor levou-me aos escombros do prédio logo após o culto, e da porta pude ver o estrago. Os blocos de concreto eram enormes. Perguntei se alguém tinha morrido, ele me disse que havia uma reunião na hora do terremoto. Perguntei o número de mortos. Ele replicou: ''Seis pessoas foram vistas entrando. Mas na reunião deveria haver aproximadamente 50 pessoas. Algumas dessas estão vivas, e testemunham que se atrasaram para a reunião. Portanto, estimamos entre 10 e 30 corpos embaixo desses escombros''. Quantos outros prédios, principalmente fora da capital, possuem corpos não contados?

2) ''Não há mais tremores''

Há tremores quase todos os dias, desde a catástrofe. Não tenho a formação técnica acerca de catástrofes e acidentes geológicos, mas tenho ouvido ser esse um fenômeno normal. Nos primeiros sete dias após 12 de Janeiro, houve aproximadamente 50 réplicas (aftershocks). Note que muitas estruturas não caíram, mas ficaram comprometidas, e caem com esses tremores menores.

Por isso, muitos não têm voltado para suas casas. Há prédios comerciais que não estão sendo usados, apesar de não terem ruído. Outros são usados como depósito, mas as mercadorias são expostas para venda no meio da rua. Ninguém sente segurança nos ambientes fechados e entre paredes.

O país é um grande assentamento, são barracas de todos os tipos e por todos os lados. Delmas 48, o maior camp que visitei, possui 62 mil barracas – número estimado de 170 mil moradores. Muitos deles ainda têm suas casas, mas por causa de algumas rachaduras não sentem segurança para voltar. Moram favelizados no acampamento, sem banheiro, sem água, sem estrutura. Não o fariam se os tremores tivessem encerrado.

3) ''Porto Príncipe foi o epicentro da calamidade''

Embora seja difícil comparar o Haiti com o Brasil em qualquer escala, uma pequena ilustração aqui pode ser útil. Se um terremoto de proporções semelhantes tivesse atingido uma cidadezinha a 60 quilômetros de São Paulo capital, o mundo nem ouviria o nome da cidade foco. São Paulo seria o assunto. Por mais que se tratasse de um foco secundário, é lá que moram milhões de pessoas, lá estão grandes construções, portanto lá uma catástrofe nesses moldes se faria sentir. Já na cidadezinha, provavelmente não haveria grandes prédios, nem grande densidade demográfica. Seria trágico, mas não tanto quanto na capital.

Outras cidades foram mais afetadas pelo terremoto que a capital Porto Príncipe. A maioria dessas está a oeste da capital – Leogane, Petit Goave, entre outras. O que havia de alvenaria caiu. Mas as construções já eram precárias, as casas pequenas, e os habitantes eram poucos. São cidades interioranas. Houve menos mortes. Mas foi nessas áreas que vi o asfalto aberto, como naqueles filmes apocalípticos.

Essas cidades já eram pobres, como todo o Haiti. Mas o acesso dessas regiões a água e comida, por exemplo, sempre foi mais restrito. Agora, esse acesso simplesmente não existe. Toda a ajuda se concentrou onde a população maior se encontra, até com certa lógica. Mas esses locais também devastados, e já anteriormente privados, foram simplesmente descartados. A geografia das ajudas internacionais precisa ser revista.

4) ''As ajudas internacionais estão sendo recebidas e bem administradas pelo governo haitiano''

Essa frase acima é de um embaixador haitiano. Bem, quando cheguei ao Haiti, perguntei a um dos líderes das igrejas locais como estava sendo administrada a ajuda brasileira. Trata-se de um professor universitário, líder influente entre os cristãos locais, e ele nem tinha ouvido falar nisso. Quando eu falei em US$ 15 milhões, total divulgado em 23/01 pelo ministro Celso Amorim, ele riu, e disparou: ''A América deve ter dado mais que isso. Mas não veremos esse dinheiro nunca. Esse investimento é para a movimentação dos próprios 20 mil soldados que eles trouxeram dos Estados Unidos. Esses soldados jogam alimentos sobre a população sem qualquer humanidade, tratam-nos como porcos. Fazem as mulheres carregarem sacas de 60 kg de açúcar, sem permitir que os homens se aproximem dos caminhões de distribuição. O dinheiro mesmo, a população não vê. E se for mesmo repassado ao governo Haitiano, vai sumir na corrupção''.

Não é coerente que haja um investimento tão alto sem um plano de ação. As tropas brasileiras têm executado um trabalho positivo no país, e muito anterior à catástrofe. Gozam de uma reputação favorável entre os haitianos. Mas os militares tupiniquins não têm qualquer envolvimento com essas proporções monetárias de auxílio, nem tampouco acreditam que o recurso será utilizado em prol do povo haitiano.

A verdade, portanto, é que desse dinheiro ninguém sabe. Essa ajuda, ninguém vê.

Equívocos referentes às necessidades de auxílio:

5) ''É fácil ajudar, o país está aberto e as ajudas vêm de todos os lados''

Em nossa viagem de Janeiro, levamos aproximadamente 20 toneladas de alimento, além de ajuda em dinheiro para algumas igrejas haitianas. Foram investidos US$ 29.612, contribuições de várias igrejas do Brasil. E tudo foi tranqüilo mesmo, pela graça de Deus! Entramos pela República Dominicana, fretamos um micro-ônibus desde Santo Domingo, dois caminhões de alimento, e não fomos sequer incomodados na fronteira. A imprensa estava a todo vapor, as tropas da ONU supervisionavam as aduanas e toda ajuda era bem-vinda.

Agora, um mês depois (início de março), a história mudou. Nunca imaginei que pudéssemos ter tantos problemas. A corrupção por parte da polícia de fronteira, na República Dominicana, é grave. Tornou-se quase impossível atravessar sem subornar. O lado haitiano quer a ajuda, portanto coopera. O lado dominicano não parece ter nada a ver com isso.

A ajuda não vem de todos os lados. Pelo contrário - o inimigo mora ao lado. Várias ONGs estão antecipando sua saída da região por não tolerarem a corrupção de fronteira. A corrupção interna, embora velada, também existe. Os preços de frete de caminhão e aluguel de transporte tornaram-se proibitivos. Para ajudar, não somos ajudados. Na verdade, para prestar auxílio, é preciso comprar uma grande briga.

6) ''A vida já normalizou''

Um amigo me contou de uma entrevista que ouviu na rádio CBN. Uma médica brasileira estava chegando do Haiti, e noticiava que a vida já está normal. Ela viu o comércio funcionar, viu todos trabalhando. A pobreza que ela constatou era aquela normal do país, sem relação com a catástrofe. Portanto, resolveu voltar, e nitidamente desencorajou grandes esforços na direção do Haiti de agora em diante.

Quando perguntada acerca da região onde estava, revelou: ''Eu estava na área chamada Fond Parisien''. É uma região de fronteira, onde há um lago salubre, mas onde os tremores não causaram danos. É possível caminhar até a República Dominicana. Mas pela estrada, só se vê os estragos cerca de 40 quilômetros depois dessa região, na direção de Porto Príncipe.

A vida não normalizou. As pessoas não moram em suas casas, mesmo as que ficaram em pé. Os prédios de governo, prédios comerciais e quase todas as instituições de trabalho também ruíram. Vê-se pessoas perambulando. Num calor impraticável, o lugar mais movimentado durante as 24 horas do dia é o acampamento. É lá que as pessoas ficam, elas não têm outro lugar para ir. Assim, não está nada normal, e não deve normalizar por algum tempo.

7) ''O país já está em processo de reconstrução''

Outro mito. Sempre me perguntam minha opinião acerca da possibilidade de reconstrução do Haiti. Tento me esquivar. Elucubrações não ajudam nessa hora. Mas se for para reconstruir, não vai ser agora. Isso é possível afirmar. Por uma razão simples: para que haja reconstrução, é preciso limpar os escombros. É assim na vida, e é assim num país pós-terremoto. E essa limpeza vai demorar muito tempo.

Alguns especialistas têm estimado que a limpeza haverá de demorar entre 12 e 18 meses. Eu concordo. Aliás, é uma perspectiva otimista. Já notei alguma limpeza entre o fim de janeiro e o início de março. Mas pouca. A quantidade de máquinas é pequena. Não há estrutura para que se trabalhe mais rápido que isso. Nunca vimos no Brasil uma catástrofe similar, portanto não se tem noção acerca do problema dos escombros. É muita pedra. E creia: estão trabalhando duro! Visitei Porto Príncipe (escoltado por polícia) nessa última viagem, após as 23 horas, plena noite de domingo. Vi a falta de energia elétrica, a prostituição, os perigos, os temores. Mas havia máquinas trabalhando. Apesar disso, a reconstrução demora. Se há dinheiro sendo arrecadado para reconstrução, penso honestamente que haja prioridades alimentares, por exemplo, as quais precisariam ser consideradas. Penso que a educação deveria ser um investimento anterior à reconstrução.

Vale dizer que o sistema de construção do Haiti era precário. Refiro-me à engenharia e ao material empregado. O terremoto foi assombroso; mas ficou provado que o Chile possuía construções mais resistentes. Na última viagem, instalamos caixas d’água com sistema potável em 30 igrejas. Usávamos os blocos dos próprios escombros para construir suportes de um metro de altura onde depositávamos os tanques. Constatamos que os blocos são de um material ruim: eles esfarelam! Não entendo disso, mas parece pouco cimento. Nossos blocos no Brasil são mais confiáveis. Para reconstruir, é preciso trabalhar até mesmo essas questões fundamentais.

8) ''Há água potável''

Convidei uma pessoa especializada na questão da escavação de poços para me acompanhar em uma das viagens. Ele decidiu que vai comigo. Mas confessou que quase foi desencorajado por diretores de uma outra organização (muito séria, por sinal), que havia lhe dito que não há mais problema de água no Haiti, pois a distribuição de água potável tem sido suficiente.

Essa visão pode ser coerente com a situação da capital. As ajudas chegaram em massa a Porto Príncipe. Várias ONGs internacionais especializadas em fornecimento de água potável atenderam a região. Além disso, em Porto Príncipe custa 40 dólares uma quantidade de 15 mil galões de água não potável, mas limpa (mais de 50 mil litros), provenientes de caminhões-pipa. São estocadas em cisternas. Podem ser purificadas com as pílulas químicas que temos levado do Brasil, o que as torna potáveis.

No entanto, regiões como Petit Goave e Bainet já tinham dificuldade em ter acesso à água. Agora, toda a água doada ou comercializada concentra-se em Porto Príncipe, onde não há eletricidade para o abastecimento por bomba, por exemplo. Quem está fora da capital não tem água, ponto final. Dizer que o problema da água foi sanado indica que só se foi a Porto Príncipe.

9) ''As ajudas já foram suficientes, as ONGs já cumpriram seu papel''

Creio que esse mito já tenha sido dissolvido nos pontos anteriores. Ainda assim insisto em pontuar: o problema maior começa agora. Com a saída da mídia, ficou claro que infelizmente muitas ONGs trabalham em contextos de catástrofe visando a auto-promoção. Saiu a TV, saíram as ajudas.

Não há monitoramento dos esforços, portanto alguns pólos foram muito assistidos, outros não foram lembrados. Organizações chegavam distribuindo comida, aleatoriamente, em locais que já haviam sido contemplados por distribuição de alimentos dois ou três dias antes. As pessoas colhiam as doações, mas dessa vez para comercializar. E áreas não contempladas continuavam sem assistência. Ainda é assim. Vi uma ONG distribuir garrafas d’água, quantidade colossal, num camp onde moram 2000 pessoas. Lindo! Só tinha um problema: já há um poço artesiano nesse camp! Os moradores têm acesso a uma qualidade de água melhor do que a que eu bebo no Brasil. Eles pegaram as doações para conservar a garrafa. Em outros camps, vimos pessoas bebendo água do esgoto.

Outro problema vigente diz respeito à segurança. As tropas da ONU também começam a afrouxar sua participação. Eis a razão pela qual a corrupção de fronteira acontece com naturalidade. No país, o trânsito está mais caótico, e o número de assaltos e seqüestros (a estrangeiros!) é alarmante. O policiamento está cessando. Os Estados Unidos já declararam, em nota oficial, que retiram do Haiti metade de sua força militar até o meio do ano.

O equívoco teológico

10) ''O terremoto do Haiti é um castigo divino em função de seu sincretismo religioso''

Por último, vejo que a igreja brasileira tem afrouxado as mãos no auxílio ao Haiti movida por um problema teológico ou doutrinário. Alguns crêem veementemente que Deus está castigando os haitianos por sua instabilidade espiritual, e mais diretamente pela religião vodu.

Não consigo concordar com isso. Considero-me muito mais um obreiro hiper-pragmático do que um pensador teológico, mas há elementos que vêm à minha mente toda vez que escuto alguma menção dessa teoria do castigo. Seguem alguns dos meus insights:

a.) O Haiti está situado em região propensa a catástrofes e incidentes tropicais - A dimensão espiritual dos acontecimento não anula a lógica e a naturalidade dos fatos. Geograficamente, algumas das tragédias que têm ocorrido no Haiti ao longo dos anos são explicáveis. Sem contar que não há infra-estrutura, considerando a vulnerabilidade natural da região. O país está numa região tropical propensa a ventos, chuvas, enchentes e tremores, e não possui estruturação física compatível com isso.

Na mesma ilha está República Dominicana. O país é marcado por corrupção, conflitos políticos pesados na história recente, e por um catolicismo romano idólatra e enraizado - a igreja mais antiga das Américas está em Santo Domingo. A turma da “Batalha Espiritual” certamente veria potestades em cada esquina do país. Mas os prédios são robustos, construções semelhantes às de uma grande capital brasileira. Houve tremores fortíssimos em 12 de Janeiro – mas sem mortes.

b.) Pessoas boas e pessoas ruins foram afetadas - No terremoto de 12 de Janeiro, morreram sacerdotes vodus, pastores evangélicos, padres católicos. Morreram prostitutas, professores universitários, mães de família. Morreram jovens, idosos, crianças. Gente de bem ficou presa; presidiários aproveitaram o incidente para fugir das celas.

Não deveria o castigo afetar somente bandidos e vodus?

c.) A perspectiva punitiva da tragédia não é neo-testamentária - Sempre questionei qualquer divórcio abusivo entre a era da Lei e a era da Graça. Mas, de fato, no Antigo Testamento vemos a ira de Deus consumir povos, grupos, famílias, de maneira a modelar a atitude de uma nação. Na minha compreensão, esse castigo apontava para Cristo. Tudo isso é registrado para que fique claro que, mesmo mediante a punição que mereceríamos, fomos poupados pelo Cordeiro que foi morto.

Se Deus começar a punir com tragédia a desespiritualide do mundo, a Europa acaba. Se a feitiçaria for a razão da catástrofe do Haiti, por favor, esvaziem ainda hoje o estado da Bahia!

d.) Um grande despertamento missionário ocorre no mundo - Desde que me preparava para ser pastor, nos anos 90, tenho envolvimento com a igreja sofredora. Passei 3 anos na China, filiado à JOCUM, e viajei regiões de perseguição religiosa no Golfo Pérsico e em outras partes do Oriente Médio, incluindo o Norte da África. Preguei e aprendi; dei e recebi. Em todas essas empreitadas, tive o apoio da igreja brasileira. Mas nunca num grau parecido com esse, nesses tempos de Haiti.

Pastores me telefonam de diversas partes do Brasil, querendo se envolver no projeto. Líderes dos quais eu só ouvia falar querem sentar e discutir como suas igrejas podem participar. Vários desses têm enviado alguns de seus líderes de confiança comigo nas viagens, para que suas comunidades se envolvam ainda mais. Alguns pastores com quem tenho trabalhado estão mais envolvidos que eu no projeto. Aleluia! Deus usou uma catátrofe para fazer um terremoto missionário no Brasil. O que levamos de ajuda até agora, mais de US$ 65 mil, é relevante! E temos mais, muito mais pra levar! Deus tem aberto portas, despertado gente. Fora as outras organizações e iniciativas. Glória a Deus!

Esse despertamento acontece nas igrejas americanas, canadenses, européias, coreanas. É grande a mobilização em torno do Haiti. Tem a ver com o apelo da mídia? Sim, sem dúvida. Mas esse tipo de ajuda está indo embora junto com as câmeras. Só quem ficou é quem está disposto a comprometer-se com a real e possível reconstrução do país. E as igrejas do mundo vão sendo juntamente reconstruídas.

e.) Um avivamento sem precedentes ocorre no Haiti - O mais lindo de tudo, porém, é ver a reação da igreja haitiana. Não trabalho com a igreja sofredora porque eles precisam de mim. Quem precisa deles sou eu. Os testemunhos que ouvi no Haiti eu jamais teria acesso na igreja ocidental. Uma mulher disse: ''A melhor coisa que me aconteceu foi o terremoto, pois agora eu conheci Jesus''. Ela perdeu familiares.

Edmond e sua família moravam na parte superior de um sobrado. Na parte de baixo moravam sua irmã, esposo e filhos. Com o terremoto, Edmond, sua mulher e as duas filhas caíram por cima da laje, compactando seus familiares na casa de baixo. Seis mortes. Edmond, sua esposa e suas filhas sobreviveram.

Em meio a tudo isso, ele registra: ''Eu pensei que minha vida tinha acabado quando vi minha irmã e sobrinhos morrerem. Aí vocês vieram. Vocês, e gente do mundo todo. Deus mandou o terremoto para dizer à igreja do Haiti que não estamos sozinhos''.

A adoração dessas pessoas é ímpar. Eles verdadeiramente adentram a presença de Deus. O altar é a casa deles. A única que eles têm nessa hora.

Conclusão

O Haiti está lá. O problema continua. Na verdade, as coisas tendem a piorar com o esquecimento internacional. Que nós, como igreja brasileira, não caiamos nesse erro. Que Deus nos abençoe, limpe nossos escombros e reconstrua nossas vidas. Amém!

Por Mário Freitas

Mário Freitas é pastor, missiólogo e ex-missionário na China. Tem servido a iMário Freitas é pastor, missiólogo e ex-missionário na China. Tem servido a igreja sofredora do Haiti desde 12 de Janeiro de 2010. Reside em Belo Horizonte, MG. Casado com Giovana, pai de Pietragreja sofredora do Haiti desde 12 de Janeiro de 2010. Reside em Belo Horizonte, MG. Casado com Giovana, pai de Pietra

Blog: http://igrejasofredora.wordpress.com/2010/03/26/revisitando-o-haiti

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