Ética no trabalho social cristão

Ética no trabalho social cristão

Fonte: Atualizado: terça-feira, 1 de abril de 2014 às 3:49

No title A ética nos ensina a valorizar regras que nos orientarão em nossos relacionamentos. Regras restringem os nossos movimentos, como então podemos dizer que a ética promove a liberdade? Passe um tempo em um ambiente opressor onde não há ética e logo você verá. Sem a ética, apenas o mais forte consegue exercer sua liberdade. É assim nos pátios das escolas, é assim nos morros controlados pelo crime organizado, é assim nos lares onde a vontade de um adulto "mais forte" se sobrepõe aos direitos de todos os outros membros da família. Onde não há ética, a criança é sempre a primeira a perder sua liberdade e dignidade. O caminho da opressão é muito mais trilhado do que o caminho da liberdade em nossas comunidades. O trabalho social não é construção, é reconstrução. Não partimos do começo e sim do meio. Na primeira parte da história, muita coisa errada já aconteceu, está claro que temos adversários! É possível até que algum desses inimigos esteja dentro de nós.

História antiga, soluções atuais

Os livros de Neemias e Esdras ilustram bem esse princípio. Eles relatam a longa e difícil obra de restauração de Jerusalém, começando pelo templo de Salomão. A opressão babilônica, seguida de invasão e eventual aniquilação de Judá, levou 21 anos. As histórias de horror desse período se equiparam aos campos de concentração de Hitler, ao horror da guerra em Camboja, ao genocídio de Ruanda, ou à destruição do Iraque nos nossos dias. Mas as práticas do povo de Judá que precederam a sua queda parecem muito com o completo desrespeito e manipulação do pobre, do órfão e da viúva praticados aqui, em nossas ruas e cidades, neste grande país que se chama Brasil!

A queda de Jerusalém foi rápida e cruel, a restauração levou mais de cem anos! Antes da queda, os sete pecados sociais descritos nos nossos dias por Gandhi — política sem princípio, riqueza sem trabalho, comércio sem moralidade, prazer sem consciência, conhecimento sem caráter, ciência sem humanidade e devoção sem sacrifício — foram denunciados inúmeras vezes por profetas como Isaías e Jeremias. O povo não os ouviu. Qual desses pecados nós, povo brasileiro, não cometemos uns contra os outros? 

Avaliando os alicerces: Onde erramos?

O ponto de partida para uma ética cristã nas organizações sociais é a contrição, algo muito presente nos dois relatos de Esdras e Neemias. Há um profundo pesar e reconhecimento de que a ruína foi causada pelos pecados do povo e, portanto, não há outro lugar para se recomeçar a não ser pelo arrependimento, confissão e restituição.

Não estou falando de um processo de conversão, pois eles já eram o povo da Aliança. Nem estou dizendo que Esdras e Neemias achavam que os mais atingidos pela desgraça precisavam de uma dose maior de arrependimento, como se o fato de estarem em situação inferior implicasse mais culpa. Não, eles entendiam que os pecados comunitários e sistêmicos de todo um povo, começando pela nobreza, tinham ocasionado a devassa de toda uma geração. O individualismo, tão presente na mensagem evangélica de nossos dias, não fazia sentido algum para eles.

Assim como Neemias e Esdras, precisamos da convicção de que a comunidade na qual queremos ver transformação social foi privada de muitas oportunidades e ainda é vítima de muitas injustiças sociais. Há muitos de nós trabalhando a partir de uma visão equivocada: nós os justos, ajudando eles, os ímpios. Se começarmos a partir da contrição, vamos desenvolver, assim como Neemias e Esdras, uma admirável preocupação com a integridade e a ética.

Fazendo a obra: Como evitar mais erros?

Integridade nessa reconstrução será para nós a prevenção ou a garantia de que Deus nos acompanhará até o fim. Para que o povo de Deus vivesse de acordo com os padrões estabelecidos pela Aliança, era necessário combater a invasão de padrões éticos praticados pelos povos vizinhos. Neemias não se conformou com a forma como os judeus mais abastados continuavam a oprimir seus conterrâneos tomando os filhos dos endividados como escravos e, pior, vendendo-os para as nações vizinhas. Antes de terminar a reforma do muro, foi necessário fazer uma limpeza na casa!

Impressiona-me ver iniciativas na área de ação social que usam o fato de serem uma filantropia como desculpa para o desleixo, para o trabalho malfeito, para prometer e não cumprir ou intervir na vida das pessoas de forma inconseqüente. Conduzem uma obra de reconstrução sem o rigor que essa empreitada exige, e o resultado mais cedo ou mais tarde será um só: desastre.

Fechando as brechas: Estamos protegidos?

Precisamos ouvir Esdras e Neemias hoje. Talvez eles nos ajudem a realizar o trabalho no mesmo espírito com que fizeram as reformas sociais e reconstruíram o muro de Jerusalém, com uma ética calcada na lei de um Deus soberano, compassivo e justo. Eles ensinaram todos a praticar a vigilância e a responsabilidade individual. Enquanto um trabalhador erguia o muro, o outro montava guarda, e depois revezavam. Sabiam que o que estava em jogo era o futuro dos seus filhos: seriam livres ou voltariam ao cativeiro?

Pensar e agir de forma ética dentro de nossas organizações é ao mesmo tempo lança e escudo. A prática irrepreensível fecha as brechas pelas quais nossos inimigos buscam entrar para nos derrotar e depois zombar. Temos de montar a guarda. Que brechas precisam ser fechadas no seu trabalho ou organização? Quais são os seus inimigos? (E.G.)

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