18 de julho: Como o “Grande Incêndio de Roma” marcou um dia sombrio na história cristã

No ano de 64 d.C., o “Grande Incêndio de Roma” devastou dois terços da capital do Império Romano, enquanto Nero culpava os cristãos pelo desastre.

Fonte: Guiame, com informações do BreakpointAtualizado: quinta-feira, 18 de julho de 2024 às 12:26
O incêndio de Roma, 18 de julho de 64, óleo de Hubert Robert, no Museu de Arte Moderna André Malraux, em Le Havre. (Foto: Wikipedia)
O incêndio de Roma, 18 de julho de 64, óleo de Hubert Robert, no Museu de Arte Moderna André Malraux, em Le Havre. (Foto: Wikipedia)

O dia 18 de julho de 64 d.C. foi uma data emblemática para a história, especialmente para os cristãos: o imperador romano Nero incendiou Roma colocando a culpa pela tragédia nos seguidores de Jesus.

O "Grande Incêndio de Roma" (em latim, "Magnus Incendium Romae"), como ficou conhecido, marcou profundamente a história cristã ao atribuir falsamente aos crentes comportamentos violentos e criminosos.

O desastre devastador consumiu dois terços da chamada “Cidade Eterna” (em latim, "Urbs Aeterna"), devido à sua importância histórica, cultural e religiosa como a capital do Império Romano e, posteriormente, como um centro vital da cultura ocidental.

De acordo com o historiador romano Tácito, o fogo começou em uma parte densamente povoada da cidade, onde havia muitos materiais inflamáveis. Rapidamente propagado por ventos fortes, o incêndio continuou a queimar ao longo da semana e meia seguinte.

Nero foi acusado de iniciar o incêndio para abrir espaço para seus projetos de construção, embora essa acusação seja contestada por alguns historiadores modernos. O incêndio teve um impacto profundo não apenas em termos de destruição física, mas também na política e na percepção pública do governo de Nero.

Tácito escreveu:

“O fogo, em sua fúria, primeiro se espalhou pelas partes planas da cidade, depois subiu pelas colinas, devastando novamente todas as áreas abaixo delas. Ultrapassou todas as medidas preventivas, tão rápida era a calamidade e tão completamente à sua mercê estava a cidade, com aquelas passagens estreitas e ruas irregulares que caracterizavam a antiga Roma.”

O historiador continuou descrevendo mulheres gritando, crianças indefesas e multidões em pânico, pisoteando tudo que viam pela frente. 

Nero, o imperador cruel e tirânico

Nero é frequentemente retratado por historiadores como um imperador cruel e tirânico, devido às suas ações, incluindo o ódio e perseguição aos cristãos, além do assassinato de membros de sua própria família, incluindo sua mãe.

Também famoso por sua imoralidade, Nero tornou-se alvo de questionamentos após a tragédia, com muitos romanos acusando o imperador de ter iniciado o incêndio em Roma.

A desconfiança iniciou pela maneira como Nero remodelou a cidade carbonizada à sua própria imagem e ainda pelos rumores de que ele "tocava violino enquanto Roma queimava". 

No artigo "Como os cristãos devem responder à culpa injusta? Lições de Nero e o Grande Incêndio de Roma", John Stonestreet, Presidente do Colson Center, e o teólogo Timothy D. Padgett dizem que Nero colocou a culpa nos cristãos para evitar aqueles sussurros dos romanos sobre ele, usando os seguidores de Jesus como pessoas diferentes fazendo com que seus acusadores acreditassem nele.

“E por que não [os cristãos]? Os cristãos eram estranhos. Eles falavam sobre comer carne e beber sangue. [As mulheres] chamavam seus maridos de ‘irmão’ e [os homens] suas esposas de ‘irmã’. Eles negavam os deuses, como os ateus. Eles achavam que um homem morto havia voltado à vida e que retornaria um dia em glória e, mais pertinente, em vingança”, escreveram Stonestreet e Padgett.

Os autores dizem que até então, os crentes tinham sido deixados em paz pelas autoridades romanas, mas Nero descobriu que eles eram fáceis de pegar. “Nos dias que se seguiram, os apóstolos Pedro e Paulo encontraram seus destinos, junto com um número desconhecido, mas grande, de outros cristãos”, relataram.

Cristãos como bodes expiatórios

A acusação gerou uma onda de perseguições generalizadas contra os seguidores de Jesus. Eles foram considerados bodes expiatórios convenientes e sujeitos a severas medidas repressivas. Isso incluiu tortura, execuções públicas e outras formas de violência, conforme registrado por historiadores da época como Tácito.

Essa perseguição marcou o início de uma série de desafios para os cristãos dentro do Império Romano.

Stonestreet e Padgett disseram que se aquela havia sido a primeira vez que os cristãos foram criticados por um desastre público, certamente não seria a última.

“Os cristãos se tornaram uma minoria impopular em muitos cenários culturais e foram consistentemente culpados por vários desastres em várias sociedades”, disseram.

“Um século e meio após os ataques de Nero, Tertuliano, um escritor cristão norte-africano, brincou morbidamente: ‘Se o Tibre sobe muito alto, ou o Nilo muito baixo, o remédio é sempre alimentar os cristãos com os leões’. Em 410, escritores pagãos sugeriram que o saque de Roma por tribos germânicas não teria acontecido se Roma não tivesse abandonado seus deuses por um Cristianismo supostamente imoral. Essa acusação levou Agostinho de Hipona a responder com sua magnum opus, ‘A Cidade de Deus’”. 

Stonestreet e Padgett relembram que “A Cidade de Deus” é uma das obras mais importantes da história da civilização ocidental, que ainda é lida, séculos depois, por pastores, filósofos e historiadores.

“Nela, Agostinho forneceu uma defesa completa a um tropo superficial levantado contra os cristãos. Ele ofereceu uma ladainha de desastres naturais e militares e falhas morais grosseiras do passado supostamente mais puro e pagão de Roma. Com esses exemplos, ele desfez a crítica de que os cristãos de alguma forma pioraram a vida. Na verdade, a influência dos ideais bíblicos tornou as coisas melhores”.

Os escritores afirmam que os cristãos hoje enfrentam acusações análogas.

“Não estamos sendo lançados aos leões (pelo menos não aqui no Ocidente, de qualquer forma), mas há uma clara e crescente corrente oculta de hostilidade em relação aos cristãos que muitas vezes se assemelha aos tropos usados ​​nos tempos antigos”, dizem.

“Os cristãos têm sido culpados pela prevalência da pobreza, por desastres naturais devido às mudanças climáticas, degradação da ciência e tecnologia e todos os tipos de opressão social e política”, relacionam. 

O Cristianismo melhorou a vida

“Nossa resposta pode ser muito parecida com a de Agostinho. Opressão, pobreza, desastres militares e naturais são o destino comum da humanidade. Eles são comuns em tempos e lugares onde o Evangelho nunca foi. No entanto, naqueles lugares onde o Cristianismo foi, há hospitais, universidades, inovação tecnológica, liberdade e uma insistência incomum na dignidade humana”.

Stonestreet e Padgett explicam que muitos autores, inclusive não cristãos, escrevem sobre essa realidade:

“Recentemente, o bem que o Cristianismo trouxe ao mundo foi descrito em livros como Dominion, do historiador (ainda!) não cristão, Tom Holland, e o mais novo ‘The Air We Breathe’ (O Ar que Respiramos, em tradução livre), do evangelista anglicano Glen Scrivener”.

E continuam: “Essas obras nos lembram o quão ruim o mundo era antes da vinda de Cristo, e o quanto do que consideramos bom e valioso veio, não apesar do Cristianismo, mas por causa dele. Qualquer cristão que enfrenta uma acusação injusta hoje deve ler esses livros e ser encorajado. O Cristianismo é tão verdadeiro e bom hoje, como era então”. 

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