" A bíblia é um manual para relacionamentos" diz Pr. Silvio Galli

" A bíblia é um manual para relacionamentos" diz Pr. Silvio Galli

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:31

Que tipo de relacionamento Jesus criou com seus discípulos? Que tipo de relacionamento você tem criado com seus liderados? Os seus relacionamentos são (des) humanos? São verdadeiros e profundos?

Como viver em uma cultura que gera relacionamentos superficiais, sabendo que fomos feitos para relacionamentos profundos e verdadeiros? Não há relacionamentos verdadeiros sem um preço a ser pago. Há sempre um custo!

Qual o papel do discipulado para a construção destes relacionamentos?

Para falar sobre estas e outras questões, entrevistamos o Pr. Silvio Galli. Graduado em Teologia pela Faculdade Batista do ABC e pastor presidente da Igreja Batista Água Viva (Mauá-SP) há mais de 10 anos. Sendo que neste tempo a igreja cresceu de 600 para 3500 membros. 

Relacionar-se é estar "ligado", "conectado". Qual o padrão de Cristo para os relacionamentos? Para esta ligação? O que dizer de 1º Coríntios 12:12-27?

Silvio - O texto de I Coríntios, fala de como nós podemos nos conectar como Igreja. Cabe a igreja, encontrar o papel de cada membro no Corpo, muitas pessoas estão na igreja, no Corpo de Cristo, mas ainda não encontraram a sua função. Paulo diz que todos tem a sua importância, por isso precisamos criar o modelo certo de igreja, para que todos possam encontrar o seu lugar, fora da igreja todos encontram uma função, todos encontram um lugar pra exercer o seu dom, habilidade e talento. Mas infelizmente quando chegam na igreja a maioria das pessoas não encontram seu lugar. Acredito piamente, que cabe a liderança descobrir o potencial de cada um e encontrar um lugar para encaixar essa pessoa. Em I Pedro é mencionado um modelo de igreja em que "todos nós podemos ser ministros", há um lugar que podemos agregar aquilo que Deus tem falado ao nosso coração, que são as igrejas que tem grupos familiares, células, grupos de comunhão, pois levam uma grande vantagem para poder inserir essas pessoas no Corpo de Cristo. A igreja de Corinto não era uma igreja no templo, era uma reunião num grupo familiar, onde todos poderiam se encaixar, onde todos eram importantes.

A Bíblia está repleta de relatos de amizades, por exemplo: Noemi e Rute, Davi e Jonâtas. Qual é, em sua opinião, a chave para um relacionamento profundo e verdadeiro? O que havia em comum nestas e em outras amizades verdadeiras citadas na Bíblia? Silvio - Observando esses pares em minha opinião o primeiro aspecto é ter prazer em estar juntos, não há como ter um bom relacionamento se não houver prazer em estar juntos. Um exemplo disso é o casamento, o marido e a mulher presumem-se se amar e querem estar juntos. Então tanto para esses relacionamentos bíblicos como para outros é preciso ter o prazer em estar juntos (1). Outro aspecto chave para um relacionamento nessa conexão é respeitar a individualidade do outro (2), pois existem pessoas que são diferentes de nós, de nosso temperamento, diferentes de nossa personalidade e opinião. Terceiro aspecto valorizar e investir nesse relacionamento (3), é necessário valorizar e investir para que o relacionamento cresça. Quarto aspecto é compreender a pessoa (4), só existe relacionamento se há compreensão mútua, quando há compreensão, entendemos os defeitos, conseguimos olhar para a deficiência da pessoa e mesmo assim querer estar com ela. Foi o que aconteceu com Jesus ao estar na Ceia com os discípulos. Ele teve prazer em estar ali, mesmo sabendo dos defeitos dos apóstolos, Ele sabia que um ia trair, outro ia negar, alguns O abandonariam, mas mesmo assim Ele teve prazer em estar com eles.

Parece-nos que os cristãos não têm menos ou mais dificuldades nos relacionamentos do que os não-cristãos. Não é uma contradição já que conhecemos os padrões bíblicos para relacionamentos saudáveis? Por que isto acontece? Silvio - Nós que conhecemos a Bíblia Sagrada sabemos que ela é o Manual para os relacionamentos e realmente as pessoas nas Igrejas deveriam se relacionar melhor do que as pessoas no mundo, mas muitas vezes isso não acontece. Eu faço parte de um clube da minha cidade e percebo que há um relacionamento muito próximo das pessoas mesmo não sendo cristãs, elas se dão bem, elas se amam, elas se respeitam e na Igreja que deveria ser a expressão maior disso muitas vezes não é assim, e realmente é uma contradição. Mas algo que precisa ser mencionado: a Igreja é uma comunidade com muitas formas. No mundo as entidades e organizações fazem com que as pessoas se tornem mais "homogêneas". Exemplo: uma pessoa que frequenta um clube da 3ª idade encontra pessoas com os mesmos valores e mesmas prioridades; da mesma forma alguém que participa de um Rotary Club tem o mesmo encargo e a mesma paixão por aquilo. Enquanto na igreja recebemos pessoas de diversas classes sociais, de mentalidade diferente, valores diferentes, gostos diferentes, então devido a essa diferença a dificuldade também é maior.

As comunidades virtuais são realidade também no meio cristão. Há como construir laços fortes nos relacionamentos virtuais? Explique sua opinião. Silvio - Pessoalmente uso as redes sociais e acredito que pastores e líderes devem usar essa ferramenta, pois as pessoas que querem ampliar os seus relacionamentos, criar conexões com outros países, outras cidades, não tem como fugir das redes sociais. O fato é que você amplia os relacionamentos, mas relacionamentos superficiais, não tem como existir relacionamento profundo e íntimo através de rede social. Até ouço sobre pessoas que se casam e conhecem alguém através da rede social e fico preocupado, pois não tem como ter relacionamento profundo através das redes sociais como: orkut, twitter, facebook e outras. Então creio que essas redes é para que possamos ir mais longe, influenciar pessoas a distância, mas não para estabelecer relacionamento profundo.

Estatísticas apontam mais de 6 milhões de pessoas que moram sozinhas, e que em seis anos este número chegará a 12 milhões. Em sua opinião, a corrida para o isolamento e a desconfiança entre as pessoas por causa da competitividade é o grande vilão da construção de relacionamentos? Há outros fatores mais relevantes? Silvio - Infelizmente essa é a tendência do mundo pós-moderno o "querer ficar sozinho". Acredito que a raiz que leva uma pessoa a não desejar se relacionar é o egoísmo. Dentro de qualquer relacionamento existem as dificuldades, os conflitos e contendas, e é aí que essas pessoas preferem se isolar e viver separadamente. Viver relacionamento é tomar a cruz, e abrir mão, é pagar um preço, é como em um casamento, existe um preço a ser pago e muitas pessoas querem viver uma vida independente, não querem prestar contas a ninguém, querem que sua vontade prevaleça sempre. Então, ao sermos uma geração egocêntrica a tendência é termos pessoas querendo viver sozinhas.

"Nesta sociedade cada vez mais individualista e imediatista o que vemos é a falta de empenho e paciência na construção de relacionamentos". Em sua opinião, o que a Igreja pode fazer para mudar esta situação? Silvio - É verdade, hoje somos a geração imediatista, que quer tudo fácil, rápido e barato e isto anda na contramão dos relacionamentos. Sustentar um relacionamento não é fácil, nem rápido e nem barato. Então, a Igreja tem que ser uma comunidade de relacionamentos, se pudéssemos resumir tudo o que acontece em uma igreja, seus eventos, programas e discipulado em uma só palavra seria: relacionamento. Foi isso que Jesus veio fazer. Jesus nos disse para fazer discípulos e não tem como fazer discípulo sem ter relacionamento com ele, mas fazer discípulo custa caro, exige um preço a ser pago. Hoje muitas igrejas transmitem seus cultos pela internet, divulgam a Mensagem, mas isto não é relacionamento. Porém, cabe à igreja criar canais para relacionamento e volto a mencionar sobre as igrejas que tem grupos de relacionamento ou células que acontecem nas casas, elas levam uma grande vantagem, porque as pessoas não vão apenas para o culto no domingo e vão embora, mas elas tem outros canais de relacionamento diariamente que os tornam mais vinculados e mais fortes.

O que pastores e líderes deveriam saber sobre os relacionamentos humanos? Quais os conselhos para que estes tenham relacionamentos mais saudáveis e também orientem seus liderados para a construção destes relacionamentos? Silvio - Os pastores sabem que a maior dificuldade de uma Igreja não é pregar bons sermões, mas é "administrar egos". E precisamos entender que as pessoas esperam algumas coisas em um relacionamento, as pessoas querem ser valorizadas, perdoadas e compreendidas. O conselho e caminho que vejo para existir um relacionamento mais saudável dentro da igreja é o caminho do discipulado e as igrejas fogem disso. Discipulado é convívio, é estar no culto junto, passear junto, estar de férias junto e cabe aos pastores e líderes incentivar os irmãos a viverem uma vida comunitária, é o que enxergamos no livro de Atos 2. 42, ali está o modelo que Jesus deixou para a Igreja. Eles viviam em comunidade, tinham tudo em comum. Então é a liderança da Igreja que cria esses canais, espaço e ferramentas para que as pessoas possam estar juntas. Esse é o grande segredo, como vivemos a geração do individualismo, as pessoas precisam chegar na Igreja e saber que ser Igreja é fazer parte da Família de Deus e não existe família composta por uma só pessoa, mas é um grupo de pessoas que convivem sob um mesmo teto. Nós pastores temos que incentivar a isto.

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