"Agora eu sei que é Deus que está me mandando fazer isso" diz traficante

"Agora eu sei que é Deus que está me mandando fazer isso" diz traficante

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:03

O secretário de Administração Penitenciária, Cesar Rubens de Carvalho, abriu as portas de seu gabinete, na tarde desta segunda-feira, e sentou-se à mesa para conversar — por mais de uma hora — com João Pinto de Aragão. Poderia ser considerada uma audiência normal se o visitante fosse um político ou uma autoridade de segurança, por exemplo. Mas João é um foragido da Justiça que procurou espontanemente a secretaria para se entregar.

Após cumprir 21 anos de prisão por roubo, sequestro e homicídio, João ganhou a liberdade em 30 de janeiro de 2009. Ele deixou o Patronato Magarinos Torres, em Benfica, pela porta da frente, e nunca mais retornou.

— Fiz a maior burrice que fiz, na minha vida, quando não voltei. Faltava o direito de ir e vir. E isso estava me incomodando — disse João ao secretário.

O foragido chegou à Secretaria de Administração Penitenciária acompanhado da mulher, de duas filhas e do irmão, além do coordenador do Projeto de Empregabilidade do AfroReggae, Norton Guimarães, que intermediou o contato.

Mudança de vida Depois de uma longa trajetória no crime, aos 48 anos o morador da favela da Grota, no Complexo do Alemão, decidiu que era o momento de fazer as pazes com a lei. A decisão veio com a chegada da tarceira filha, Marcele, há cerca de cinco meses. No entanto, segundo João, a mudança de vida nasceu antes.

— Há um ano e quatro meses, comecei a frequentar a Igreja Pentecostal Videira Verdadeira. Minha mulher me levou lá. Agora eu sei que é Deus que está me mandando fazer isso. Não posso viver fugindo. Se eu estou devendo, tenho que pagar — explicou o foragido.

A ocupação do Complexo do Alemão pela polícia foi um motivo a mais para João se entregar. Em dívida com a Justiça, ele temia ser preso como integrante da quadrilha que atuava na região:

— Já estava querendo me entregar. Fiquei com medo de ser preso e responder por crimes que não cometi.

'Más amizades’ aos 15 anos Com uma família desestrurada, João começou cedo na vida do crime. Depois que o pai adoeceu, João e o irmão moraram em abrigos Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (Funabem) em Minas Gerais.

De volta ao Rio, aos 15 anos, ele se envolveu com “más amizades” — como define os comparsas — e começou a praticar assaltos. Dez anos depois, Costela, como João era conhecido, foi preso e condenado a 32 anos de reclusão.

João disse que não retornou à prisão por medo de ser morto pela facção rival, já que a mulher dele foi assassinada em 2002, após ele, a vítima e a filha receberem ameaças por carta.

O educador Jorge Pinto de Aragão, de 49 anos, ficou orgulhoso da atitude do irmão mais novo:

— Hoje é o fim desse pesadelo todo. Agora é nova vida para ele e toda a família.

O secretário Cesar Rubens ficou impressionado com o caso:

— É a primeira vez que um preso se apresenta no gabinete. Isso mostra que estamos no caminho certo.  

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