A perseguição às meninas cristãs e de outras minorias religiosas, no Paquistão, continua implacável. Outro sequestro e conversão forçada aconteceu no dia 28 de julho e foi parar no Tribunal de Lahore, na semana passada.
Trata-se do caso de Chashman Kanwal, que tinha 13 anos quando desapareceu e agora está completando 14, conforme a família.
O pai, Gulzar Masih, é um cristão muito pobre e trabalha como motorista de riquixá. Ele foi à polícia alegando que Chashman havia sido sequestrada depois que ele a deixou em frente à escola, que fica Samanabad, na cidade de Faisalabad, em Punjab.
Poucos dias depois, os sequestradores enviaram os documentos da filha e um vídeo, onde mostrava o momento da conversão ao islã e seu casamento com Muhammad Usman.
O pai também recebeu uma carta vinda do grupo islâmico “Sunni Tehreek” que é afiliado ao movimento Barelvi, conhecido por seu forte apoio às leis de blasfêmia do Paquistão e pela pena de morte por blasfêmia. A maioria de muçulmanos dentro da Índia e do Paquistão são Barelvis ou adeptos do sunismo — maior ramo do islã.
A carta recebida pela família, em papel timbrado de Sunni Tehreek. (Imagem: Reprodução/Twitter)
Agora Chashman usa o nome islâmico de Ayesha Bibi e sua certidão de casamento afirma que ela tem 19 anos. O pai apresentou documentos escolares e uma certidão de nascimento confirmando que ela tinha 13 anos no momento do sequestro.
No entanto, em 24 de setembro, o Tribunal de Lahore validou seu casamento e conversão, alegando que as declarações dela e de seu marido — de que ela tem 19 anos — prevalecem sobre outras evidências.
Sobre as leis e a decisão do Tribunal
As leis que impediam as conversões religiosas de menores e o casamento antes dos 16 anos tinham como objetivo proteger as meninas vulneráveis do Punjab. Porém, o Tribunal Superior de Lahore decidiu que a menina raptada não deve ser devolvida à sua família cristã .
O juiz responsável pelo caso afirmou que Chashman é mentalmente madura para consentir com o casamento e a conversão. Vale citar que, no dia 24 de setembro, o juiz Tariq Nadeem decidiu anular a lei do Paquistão em favor do princípio da Sharia [lei islâmica] de que o casamento com uma garota que atingiu a puberdade é “totalmente legal”.
Sobre os documentos apresentados pelo pai, o juiz argumentou que, apesar da certidão de nascimento de Chasman demonstrar que ela tem apenas 14 anos, “os juristas islâmicos dão mais importância à idade mental do que à física”.
Para fortalecer este argumento, ele citou que “Hazrat Ali, o genro de Maomé e considerado no Islã como o quarto califa bem guiado, tinha apenas 10 anos de idade na época de sua conversão”.
Sendo assim, agora os casamentos entre homens muçulmanos e meninas menores de idade de origem cristã ou de outras minorias religiosas podem ser considerados legais.
Reação da família
Após a decisão, o pai disse: “Minha família está muito triste e decepcionada com a decisão do tribunal. Não vou parar por aqui, nós vamos apelar contra essa decisão”, afirmou.
Meninas e jovens não muçulmanas no Paquistão são frequentemente sequestradas e forçadas a se converter ao islamismo antes de serem obrigadas a se casar com um muçulmano, mas as autoridades nem sempre intervêm.
Em junho de 2021, duas irmãs, ambas cristãs de 18 e 14 anos, foram sequestradas e forçadas a se casar com dois primos muçulmanos e se converter ao islamismo. Elas relataram que seus sequestradores ameaçaram matá-las caso não realizassem o casamento e a conversão forçada.
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