Ariovaldo Ramos: Crescemos no Egito, mas pertencemos à Canaã

Crescemos no Egito, mas pertencemos à Canaã

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:08

 

Ex 2.11-25
"Naqueles dias, sendo Moisés já homem, saiu a seus irmãos e viu os seus labores penosos; e viu que certo egípcio espancava um hebreu, um do seu povo. Olhou de um e de outro lado, e, vendo que não havia ali ninguém, matou o egípcio, e o escondeu na areia. Saiu no dia seguinte, e eis que dois hebreus estavam brigando; e disse ao culpado: Por que espancas o teu próximo? O qual respondeu: Quem te pôs por príncipe e juiz sobre nós? Pensas matar-me, como mataste o egípcio? Temeu, pois, Moisés e disse: Com certeza o descobriram. Informado desse caso, procurou Faraó matar a Moisés; porém Moisés fugiu da presença de Faraó e se deteve na terra de Midiã; e assentou-se junto a um poço. O sacerdote de Midiã tinha sete filhas, as quais vieram a tirar água e encheram os bebedouros para dar de beber ao rebanho de seu pai. Então, vieram os pastores e as enxotaram dali; Moisés, porém, se levantou, e as defendeu, e deu de beber ao rebanho. Tendo elas voltado a Reuel, seu pai, este lhes perguntou: Por que viestes, hoje, mais cedo? Responderam elas: Um egípcio nos livrou das mãos dos pastores, e ainda nos tirou água, e deu de beber ao rebanho. E onde está ele?, disse às filhas; por que deixastes lá o homem? Chamai-o para que coma pão. Moisés consentiu em morar com aquele homem; e ele deu a Moisés sua filha Zípora, a qual deu à luz um filho, a quem ele chamou Gérson, porque disse: Sou peregrino em terra estranha.
 
Decorridos muitos dias, morreu o rei do Egito; os filhos de Israel gemiam sob a servidão e por causa dela clamaram, e o seu clamor subiu a Deus. Ouvindo Deus o seu gemido, lembrou-se da sua aliança com Abraão, com Isaque e com Jacó. E viu Deus os filhos de Israel e atentou para a sua condição."
 
Moisés cresceu, formado (Atos 7.23, diz que ele tinha 40 anos) foi visitar o seu povo, talvez rever a sua família, depois de um longo período de ausência.
 
Fora do ambiente seguro da nobreza, deparou-se com a angustiante situação de seu povo.
 
Foi tomado por revolta, talvez, como líder formado, tenha sido impelido a fazer algo em favor de seu povo. Talvez tenha sido tomado por um sentimento de dívida, ou tenha visto a oportunidade de ser um libertador, ou um insuflador da rebelião e de uma possível revolução.
 
Seja o que for, quando viu um hebreu sendo maltratado por um egípcio, interveio e matou o egípcio, enterrando-o na areia.
 
O que demonstra que Moisés fora treinado como um militar, treinamento próprio dos príncipes.
 
Doutra feita, viu uma briga entre dois hebreus, repreendeu o agressor, e, ao invés de obter o reconhecimento que, de certo, esperava, como guardião e possível libertador de seu povo, foi contestado pelo hebreu, que tratou o seu pretenso ato revolucionário como mero crime.
 
Moisés se deu conta de que não ganhara o respeito de seu povo, pelo contrário, o repúdio, que acabou por denunciá-lo ao próprio Faraó, que decidiu matá-lo, certamente, suspeitando que este intentava uma rebelião, talvez, uma tentativa de tomar o poder.
 
Moisés fugiu, refugiando-se na terra de Midiã, provavelmente, ao sudeste do mar morto, atá a península do Sinai, lugar por onde Israei peregrinaria; os midianitas eram descendentes de Ismael.
 
Como era comum, às mulheres cabia buscar água.
 
Atacadas por pastores de outro clã, foram defendidos por Moisés, que, tudo indica, havia desenvolvido um senso legítimo de responsabilidade pelos explorados, apesar do erro cometido na prática do que entendia ser justo.
 
Para além de defender as filhas do sacerdote midianita, ainda prestou serviço, tirando a água, o que não era próprio nem aos homens, muito menos aos príncipes, o que indica que o Deus já havia desenvolvido nele um espírito de serviço incomum.
 
Inquiridas pelo pai sobre a rapidez no cumprimento da tarefa, informaram-no de que um egípcio as ajudara.
 
Moisés se sentira responsável pelo seu povo, demonstrara treinamento, decisão e agilidade, assim como um espírito de serviço incomum, mas ainda se parecia com um egípcio, seu nível de identificação com o seu povo não era, ainda, forte, o suficiente, para fazê-lo abandonar o seu estilo de vida e as benesses inerentes. 
 
Além do que, sua reação, ao matar o egípcio, indicava que, para além de todas as boas intenções seus métodos ainda era o próprio dos poderosos, que se julgam senhores da vida e da morte.
 
Deus ainda teria muito em que treiná-lo.
 
Reuel (pastor ou amigo de Deus), também chamado de Jetro (3.1), manda chamar Moisés, que acaba por permanecer no clã. casa-se com uma de suas filhas, Zípora, (nome de uma ave sonora) e nasce Gerson, seu filho, cujo nome significa peregrino em terra estranha, mas Moisés não se referia como sua terra à Canaã, mas ao Egito, de onde tinha fugido. 
 
Ele, ainda, não sabia quem era.
 
Enquanto Moisés apascentava o rebanho do sogro, morre Faraó, depois de um longo reinado, e o povo de Israel sob severa servidão, clama e evoca a aliança do Deus com Abraão, Isaque e com Jacó. E Deus atentou para a sua condição.
 
Identidade é o tema.
 
Moisés não sabe quem é: se reconhece hebreu, mas vive como egípcio
 
Moisés não sabe como viver: se sente em dívida para com os despossuídos mas não sabe como identificar-se com eles, de modo que, mesmo tentando ser próximo, não consegue diminuir a distância entre si e o seu povo.
 
Moisés não sabe de onde é, declara que Midiã é terra estranha, porque entende que o Egito é a sua terra, não sabe que sua verdadeira terra começa ali e vai até a divisa do Eufrates.
 
O Deus começa a treinar Moisés a ser semita, para que ele possa chegar a ser hebreu, e isso começa por deixar de ser egípcio, e nada como começar apascentando ovelhas, atividade que os egípcios detestam.
 
E Moisés começa a conviver com o Deus de Ismael, para poder chegar ao Deus de Isaque e Jacó.
 
Depois de muito sofrer, finalmente, o clamor do povo chega ao Deus em nome da aliança com Abraão, Isaque e Jacó, e não baseado exclusivamente do sofrimento. 
 
Lembrar da aliança é lembrar da missão, finalmente, o povo entende que tem de ir, que aquela não é a sua terra, que lá não pode cumprir a sua missão.
 
Lição
 
moçaNós sempre fomos do novo céu e da nova terra, porque o nosso nome está no livro da vida desde antes da fundação do mundo.
 
Nascemos neste mundo provisório, mas sempre fomos do mundo definitivo.
 
Todo o nosso caminho foi trabalhado pelo Pai para que chegássemos ao Filho.
 
Entretanto, nossa identidade ainda está misturada, crescemos no Egito, mas pertencemos à Canaã.
 
Depois de termos sido encontrados pelo Filho, todo processo de vida é para que deixemos de ser egípcios e nos tornemos hebreus, que deixemos de nos ver como parte de um sistema que nos afixa no mundo provisório e nos vejamos como peregrinos em direção ao mundo definitivo.
 
Que passemos a clamar a partir da aliança com foco na missão.
 
E nossa missão é apresentar o Filho a todos, para que os hebreus deixem de ser egípcios.
 
A grande promessa cristã é a da aquisição de identidade e de um nome singular.
 
Agora, enquanto nos deixamos ser amoldados ao Filho, ganhamos a identidade que, finalmente, nos levará ao nome.
 
E fazemos isso enquanto atravessamos o deserto que nos levará a Canaã, e buscamos, no Egito, os hebreus.
 
No Egito vivemos como no deserto, nesse deserto fazemos missão no Egito.
 
 
Ariovaldo Ramos

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