Campanha da Fraternidade coloca o consumismo em debate

Campanha da Fraternidade coloca o consumismo em debate

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:27

Tendo como questão central ''como a fé cristã pode inspirar uma economia que seja dirigida para a satisfação das necessidades humanas e para a construção do Bem Comum?'', a Campanha da Fraternidade 2010 traz à tona a questão do consumismo como ato de amor ao próximo.

A responsável pela Pastoral da Educação no Regional Nordeste I da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Mônica Pimentel, explica que o tema, escolhido de forma participativa, ''é um grito da sociedade que a Igreja acolhe, trabalha e devolve à sociedade para que as pessoas encontrem a melhor forma de agir''.

Para ela, o rápido esgotamento do material impresso da campanha revela o forte apelo: ''Evitar o supérfluo leva a uma reflexão sobre o outro porque geralmente o que está sobrando aqui faz falta em outro lugar''.

Pelo terceiro ano, 2000, 2005 e agora em 2010, a Campanha da Fraternidade Ecumênica é promovida em conjunto pelas igrejas que fazem parte do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC): Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia, deixando de ser exclusivamente católica para ser cristã.

''É incontestável que o balizamento moral de que a economia precisa está, de modo abundante e fundamentado, nas propostas e princípios da fé cristã. Esta é sustentáculo da cultura da sociedade brasileira, e precisa ser levada em conta de modo sério para ajudar a superar os desafios e equívocos que cotidianamente ocorrem em nossa sociedade'', escreve dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte, em artigo sobre a campanha publicado no site da CNBB.

A Campanha da Fraternidade - promovida durante o período penitencial da Quaresma, da Quarta-feira de Cinzas até a Páscoa - tradição quase cinquentenária da Igreja Católica, busca a construção de novas relações sustentadas nos princípios da justiça e ancoradas na denúncia de ameaças e violações da dignidade e dos direitos humanos.

O objetivo geral da CF 2010 é ''colaborar na promoção de uma economia a serviço da vida, fundamentada no ideal da cultura e da paz, a partir do esforço conjunto das Igrejas Cristãs e de pessoas de boa vontade, para que todos contribuam na construção do bem comum em uma sociedade sem exclusão''.

Concretamente, religiosos e missionários trabalham na sensibilização para superação do consumismo, criação de laços que sedimentem uma convivência mais próxima, superando o individualismo, fomentando a prática da justiça e convencendo a todos a respeito das responsabilidades de cada um diante dos problemas decorrentes da nossa vida econômica.

A Campanha da Fraternidade Ecumênica lança uma luz sobre a realidade econômica a partir do Evangelho, ajudando a compreendê-lo com intuições criativas que possibilitem a superação da lógica econômica vigente, geradora de exclusões. Para isso, remete ao clássico Sermão da Montanha de Jesus aos seus discípulos: ''Não podeis servir a Deus e ao dinheiro'' (Mt 6,24).

''A Campanha quer despertar no cristão a consciência da necessidade de colaborar na promoção de uma economia a serviço da vida'', escreve dom Benedicto de Ulhôa Vieira, professor do Instituto de Teologia da Arquidiocese de Uberaba, em outro artigo sobre a campanha publicado também no site da CNBB.

Para o religioso, a campanha deste ano é um esforço de re-educação para que voltemos o olhar para o ambiente ao nosso redor e corrigir o individualismo e o egoísmo ''que sorrateiramente contaminam nossos sentimentos e nosso agir''.

Dom Benedicto destaca que a propaganda nos rádios e na televisão é tão intensa e aliciadora que leva a um consumo desenfreado e a uma cultura do desperdício: ''Perde-se a sensatez de verificar se o que nos é oferecido com cores vivas e tentadoras é mesmo algo de que precisamos e também se nos é útil, pois vivemos a loucura do consumismo.

A Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2010 pretende, assim, auxiliar na reeducação para uma vida mais sóbria e mais responsável, ''sem a escravidão e a dependência dos que perderam o senso crítico e a objetividade'', vivendo a obsessão de consumir mais e mais.

Dom Benedicto enfatiza que a campanha propõe uma ''economia de comunhão'', em que o lucro seja fonte de generosidade e convite de abertura das mãos e do coração em favor de quem nada tem.

Consumismo

O ''State of the World 2010 - Transforming Cultures: From Consumerism to Sustainability'' (Estado do Mundo 2010 - Transformando Culturas: do consumismo à sustentabilidade), lançado pelo Worldwatch Institute, organização de pesquisa norte-americana dedicada ao desenvolvimento sustentável, define consumismo como ''orientação cultural que leva as pessoas a encontrar sentido, felicidade e aceitação por aquilo que consomem''.

Segundo o relatório, em 2006 as pessoas no mundo consumiram US$ 30,5 trilhões em bens e serviços, 28% a mais do que dez anos antes. Além das despesas com itens básicos, como alimento e moradia, se gasta mais em bens de consumo conforme aumenta a renda. Em 2008, foram vendidos no mundo 68 milhões de veículos, 85 milhões de refrigeradores, 297 milhões de computadores e 1,2 bilhão de telefones celulares.

Para produzir tantos bens, é necessário usar cada vez mais recursos naturais. Entre 1950 e 2005, a produção de metais cresceu seis vezes, o consumo de petróleo subiu oito vezes e o de gás natural, 14 vezes.

Além de excessivo, o consumo é desigual. Em 2006, os 65 países com maior renda foram responsáveis por 78% dos gastos em bens e serviços, contando com apenas 16% da população mundial. Somente os norte-americanos, com 5% da população, consumiram 32%. Se todos vivessem como eles, o planeta só comportaria 1,4 bilhão de pessoas. O pior é quem nem mesmo um padrão de consumo médio seria suficiente para atender igualmente os atuais 6,8 bilhões de habitantes do planeta.

Essa tenência é evidentemente insustentável. Sem uma mudança cultural que valorize a sustentabilidade e não o consumismo, não há esforço governamental ou avanço tecnológico que salve a humanidade dos riscos ambientais, diz o relatório.

Objetivos

Geral

''Colaborar na promoção de uma economia a serviço da vida, fundamentada no ideal da cultura da paz, a partir do esforço conjunto das Igrejas Cristãs e de pessoas de boa vontade, para que todos contribuam na construção do bem comum em vista de uma sociedade sem exclusão''.

Específicos

Sensibilizar a sociedade sobre a importância de valorizar todas as pessoas que a constituem.

Buscar a superação do consumismo, que faz com que o ''ter'' seja mais importante do que as pessoas.

Criar laços entre as pessoas de convivência mais próxima, em vista do conhecimento mútuo e da superação do individualismo e das dificuldades pessoais.

Mostrar a relação entre fé e vida, a partir da prática da Justiça, como dimensão constitutiva do anúncio do Evangelho.

Reconhecer as responsabilidades individuais diante dos problemas decorrentes da vida econômica, em vista da própria conversão.

Consumo Consciente

Consumir diferente, tendo no consumo um instrumento de bem estar e não fim em si mesmo.

Consumir solidariamente, buscando os impactos positivos do consumo para o bem-estar da sociedade e do meio ambiente.

Consumir sustentavelmente, deixando um mundo melhor para as próximas gerações

Por Maristela Crispim

Fontes: CNBB / Instituto Akatu / Diário do Nordeste

Postado por João Neto

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