Cartilha sobre sexo gera discussão tensa entre os evangélicos

Cartilha sobre sexo gera discussão tensa entre os evangélicos

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:25

A polêmica em torno do livro "Mamãe, como eu nasci?", distribuido como paradidático a alunos de algumas escolas municipais do Recife, teve mais um capítulo na manhã de ontem. Uma audiência pública tensa, marcada por acusações de "imoralidade" e "falso moralismo" de lado a lado, reuniu vereadores, Secretaria de Educação do Recife, Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e sociedade civil para discutir a educação sexual nas escolas públicas e, claro, para debater sobre a publicação, considerada obscena pelos vereadores. 

"Essa audiência tem por objetivo denunciar a entrega dessa ‘cartilha’, cujo conteúdo é totalmente inadequado para crianças, sem o conhecimento dos pais", afirmou o vereador André Ferreira, que convocou o encontro. Segundo Ferreira, o livro estaria estimulando os alunos a exercer sua sexualidade, em vez de informá-los sobre ela. "Conseguimos recolher os livros, mas agora queremos ter uma conversa com os pais dessas crianças, já que a escola não pode se sobrepor ao papel da família nesse aspecto", garantiu o vereador.

A secretária em exercício de Educação do Recife, Ivone Caetano, rebateu as duras críticas de André Ferreira, afirmando que ele só destacou os aspectos negativos do livro. "Esse material tem vários méritos, entre eles tocar a dimensão sentimental do sexo e alertar para os riscos da pedofilia. Negar o conhecimento às pessoas é manter os cidadãos ignorantes em relação à sua própria sexualidade", respondeu. A secretária garantiu que a publicação é recomendada pelo Ministério da Educação e já é usada em vários estados e municípios e defendeu o seu uso nas atividades de educação sexual.

Já o vereador Josenildo Sinésio se colocou de forma veemente contra o livro, que "foi recolhido a pedido do próprio prefeito João da Costa". Ele também defendeu a posição dos representantes da "bancada religiosa" - Sinésio é católico e Ferreira, evangélico - na luta contra a publicação. "Eu sei que o estado é laico, mas a educação sexual deve ser tratada de acordo com as crenças de cada família. Não se pode uniformizar essa discussão e instaurar um conflito dentro de casa", disparou Sinésio.

Em resposta à declaração de Sinésio, a promotora de justiça da educação do MPPE, Katarina Gusmão, lembrou que não se deve "confundir a escolha religiosa com a educação dos alunos". Para a promotora, a formação plena do aluno inclui a educação sexual, mesmo que ela não faça parte da grade curricular. Gusmão também destacou que, apesar da repercussão negativa que a distribuição da cartilha suscitou na sociedade, não foi formalizada nenhuma denúncia na instituição contra o livro. "A nossa recomendação é de que a sexualidade seja tratada de forma mais aberta, a fim de prevenir equívocos na vida sexual futura dessas crianças. A Secretaria de Educação está correta ao disponibilizar a educação sexual dentro da escola, porque assim atinge os alunos que não conseguem ter esse diálogo dentro de casa", ressaltou a promotora.

Polêmica  

O livro "Mamãe, como eu nasci?", que seria distribuido a alunos de 8 a 10 anos de idade das escolas municipais do Recife, fazia parte de um kit com seis livros paradidáticos adotados para o ano letivo de 2010. A estimativa dos vereadores é de que 20 mil exemplares foram comprados, mas até a ordem de recolhê-los, no dia 28 de abril, apenas uma pequena parte tinha chegado às mãos dos alunos.

Folha de Pernanbuco

Postado por Cristiano Bitencourt

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