
Um fugitivo norte-coreano chamado Timothy Cho (nome fictício por razões de segurança), revelou alguns detalhes sobre como é ser cristão no país mais fechado do mundo, em especial, quando está chegando a época natalina.
Ele conta que as autoridades norte-coreanas proibiram completamente a celebração do Natal. Além disso, determinaram que na véspera de Natal todos devem comemorar o aniversário de Kim Jong-suk, a avó de Kim Jong-un.
Kim Jong-suk foi a primeira esposa do fundador da Coreia do Norte, Kim Il-sung. A ativista comunista, que nasceu em 24 de dezembro de 1917 e faleceu em 1949, é vista historicamente em seu país como uma “imortal revolucionária”.
Idolatria e paranoia ditatorial
A guerrilheira entrou numa espécie de “santíssima trindade”, ao lado de dois generais e ficou conhecida pelo povo norte-coreano como “uma heroína inigualável”. Em sua cidade, Hoeryong, há um museu, uma biblioteca, uma estátua e uma praça em homenagem à “mãe da Coreia”.
Mas aqueles que decidiram seguir a Cristo, não podem sequer dizer seu nome, principalmente na véspera de Natal. Em vez de quaisquer expectativas esperançosas, comuns no Natal, o povo norte-coreano enfrenta opressão, fome e perseguição, conforme Cho.
“Quando penso neste país totalitário em dezembro, em vez de pensar em uma cena alegre de Natal, penso no drama sul-coreano Round 6, que se tornou popular este ano”, disse ao se referir à nova série da Netflix que retrata uma competição com jogos de vida ou morte.
“O povo norte-coreano não tem escolha a não ser ‘jogar o jogo’ criado pelas autoridades, seguindo regras sobre o que eles podem fazer e dizer, aonde podem ir e até mesmo o que podem pensar”, explicou.
Cho disse que se alguma das regras do governo não for seguida, as pessoas acabam na prisão ou mortas, principalmente os cristãos.
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Soldados costumam vigiar as pessoas perto dos monumentos e aqueles que não se curvam podem ser punidos e até presos por falta de reverência. (Foto: Portas Abertas)
Um falso Natal
De acordo com o cristão fugitivo, quando chegar dezembro na Coreia do Norte, haverá cantos em escolas, fábricas, universidades e reuniões públicas, como alternativa aos cânticos natalinos.
Ele compartilha que há uma história por trás de Kim Jong-suk que tenta, de alguma forma, imitar a história de Jesus. “Contam que ela deu à luz Kim Jong-il na montanha Paetu, na Coreia do Norte, e havia uma estrela brilhante que apareceu acima da casa onde ele nasceu”, especificou.
“Na verdade, Kim Jong-il nasceu na Rússia, mas até agora essa história distorcida continua a ser contada às crianças desde bem pequenas”, esclareceu.
“Por mais de 73 anos, a Coreia do Norte roubou as celebrações de Natal e as substituiu por celebrações da família Kim, moldando-as para se parecerem com o Natal. Tudo isso faz parte do culto à família Kim, que exige que o povo da Coreia do Norte celebre seus aniversários”, continuou.
Idolatria imposta
Cho também conta que o povo é obrigado a se inclinar, diariamente, diante das dezenas de milhares de monumentos da família Kim. “Mostrar qualquer coisa menos do que lealdade total à família Kim leva à punição e quase à morte certa”, disparou.
“O que me deixa particularmente triste é que as crianças norte-coreanas nem sabem o que é o Natal. É uma época muito feliz para as crianças em outras partes do mundo, mas na Coreia do Norte, crianças que estão morrendo de fome, órfãs e deixadas nas ruas, como aconteceu comigo, são encorajadas a cantar outras canções”, revelou.
Entre os cânticos, ele diz que existe um que diz o seguinte: “Nós não temos nada a invejar no mundo. O céu está azul, meu coração está feliz, deixe o som do acordeão. Meu país, onde as pessoas vivem em harmonia, é infinitamente bom”.
Outro trecho deixa claro a manipulação inserida nas letras: “Nosso pai, Kim Il-sung, nossa casa é o seio da festa. Somos todos irmãos e irmãs, e não temos nada a invejar no mundo”.
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Por conta da fome intensa, muitos norte-coreanos vão para as montanhas recolher qualquer erva, mato ou grama para comer. (Foto: Portas Abertas)
Emanuel — Deus conosco
“O amor não é amor se for forçado. Só pode ser amor se houver uma escolha real. Essa escolha está completamente ausente na Coreia do Norte. O regime exige devoção e lealdade absoluta aos líderes do país”, reforçou.
Cho destaca o tempo todo, o amor paciente e gentil de Jesus. “Sua pregação era uma boa notícia para os pobres, proclamava a liberdade aos cativos e libertava os oprimidos. Seu nascimento foi uma boa notícia e trouxe esperança e salvação para a humanidade”, disse ao enfatizar o sentido do Natal.
Mas, os norte-coreanos vivem outra realidade ao serem obrigados a comemorar o aniversário da “mãe da Coreia”. Por isso, ele destaca “a importância das orações para o fortalecimento dos nossos irmãos e irmãs”.
“A Coreia do Norte pode roubar o Natal, mas nunca vai nos tirar o Emanuel. Jesus está no coração de cada cristão norte-coreano clandestino. Ele sofreu por eles e com eles. Ele é o Emanuel, Deus conosco”, resumiu.
Atualmente, além da perseguição religiosa, os norte-coreanos vivem com escassez de alimento, que praticamente se esgotaram durante a pandemia. Até mesmo o comércio com a China, o principal fornecedor de Pyongyang, capital da Coreia do Norte, foi interrompido.
A falta de importações também levou à escassez de medicamentos. A segurança nas fronteiras foi aumentada, logo, fugir do país tornou-se um risco de vida ainda maior.
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