Crentes e demônios: A verdadeira identidade do cristão

Crentes e demônios: A verdadeira identidade do cristão

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:12

Em seu livro Demon Possession & the Christian (A Possessão Demoníaca e o Cristão ), o autor, C. Fred Dickason, declara:

Eu estimo que de 1975 a 1987 tenha encontrado pelo menos quatrocentos crentes genuínos que estavam realmente habitados por demônios. Apenas dois dos muitos que aconselhei não eram crentes em Cristo.35

A afirmação de que "quatrocentos crentes genuínos estavam realmente habitados (possuídos) por demônios" é deveras assustadora e merece a nossa atenção. Tal assertiva nos estimula a fazer a seguinte pergunta: O que é ou quem é um "crente (cristão) genuíno"? Baseado no que John Stott escreve no prefácio de sua obra, Cristianismo Básico , proponho a seguinte definição de "cristão genuíno":

É todo (a) aquele (a) que se entrega de todo coração, mente, alma e vontade, em seu lar e em sua vida como um todo, pessoalmente e sem reservas a Jesus Cristo. É aquele que se humilha diante dEle. É aquele que confia nEle como Salvador e se entrega a Ele vendo-O como Senhor. Além disso, é aquele que assume a posição como membro fiel da Igreja e também como cidadão responsável na comunidade em que vive . 36

A meu ver, conhecer a identidade do verdadeiro cristão é simplesmente imprescindível para que possamos responder apropriadamente a pergunta-tema do presente artigo: "Cristãos genuínos podem ser possuídos por demônios?". Aliás, Oropeza também é da mesma opinião:

A identidade está no âmago da questão. O indivíduo possesso é realmente cristão? Um cristão em Cristo professo pode não ser necessariamente um cristão genuíno (1 Jo 2.19; At 8.9-24; Mt 7.21-23; Lc 6.46). [...] Creio que os convertidos que não confessam e não abandonam pecados ou vícios ocultos em sua vida podem não ser cristãos genuínos. Dizer "creio em Jesus" não é suficiente se o indivíduo deliberadamente permanece preso por hábitos ocultos e pecaminosos. Crer em Jesus significa fazê-lo Senhor de nossa vida (Lc 6.46; Rm 10.9,10; Fp 2.9-11); logo, devemos nos arrepender de nossos pecados e abandoná-los (Lc 13.3; At 2.38; 3.19; Ap 2.5) . 37

Além de Oropeza, Caio Fábio também tem o mesmo pensamento:

Que crentes nominais ficam possessos [por demônios] não tenho a menor dúvida, pois já tenho visto alguns casos. No entanto, é necessário que se faça diferença entre aparência e essência . 38

Tendo em mente essas importantes declarações, bem como, a definição de "cristão" que acabamos de dar acima, creio que já podemos chegar a algumas conclusões bastante diretas e práticas em nosso estudo

Conhecedor da Bíblia pode ficar endemoninhado, cristão genuíno não; Dizimista pode ficar possuído por demônios, cristão genuíno não; Freqüentador de igreja pode ficar endemoninhado, cristão genuíno não; Líder eclesiástico pode ficar endemoninhado, cristão genuíno não; Membro de denominação importante pode ficar possuído por espíritos malignos, cristão genuíno não; Participante de congressos e conferências espirituais pode ficar endemoninhado, cristão genuíno não; Freqüentador assíduo de atividades da igreja pode ficar possesso por demônios, cristão genuíno não; Portador do dom de falar em “línguas” pode ficar endemoninhado, cristão genuíno não ; Enfim, cristão nominal pode ficar possuído por demônios, cristão genuíno não . CONCLUSÃO

Finalmente, estamos chegando ao término do nosso artigo. Em primeiro lugar, vimos que aqueles que defendem a posição de que cristãos podem ser possuídos por demônios baseiam a sua crença:

a) em experiências subjetivas e, portanto, questionáveis;

b) em doutrinas estranhas à Bíblia, como, por exemplo, a que defende que a alma e o corpo do cristão podem ser possuídos por demônios, mas o espírito não;

c) em uma graduação de possessão demoníaca (confundindo "opressão" com "possessão");

d) em um Jesus que não é perfeitamente capaz de libertar o cristão por completo, quando de sua genuína conversão (pois outros "trabalhos de libertação" são necessários, a fim de concluir a obra "incompleta" e "inacabada" de Cristo);

e) em um entendimento equivocado sobre a identidade do verdadeiro cristão.

Em segundo lugar, vimos que aqueles que defendem a posição de que cristãos não podem ser possuídos por demônios fundamentam a sua opinião:

a) na doutrina bíblica da justificação;

b) na real e total libertação do verdadeiro cristão;

c) na perfeita proteção e segurança de que desfrutam os cristãos, como alvos do amor de Cristo;

d) em uma compreensão adequada sobre a identidade do verdadeiro cristão.

Em terceiro lugar, verificamos que alguns dos textos bíblicos que supostamente descrevem a possessão demoníaca de cristãos carecem de um fundamento exegético, lingüístico e teológico mais aprofundado. Por um lado, pudemos perceber que algumas personagens bíblicas vistas muitas vezes como "tementes a Deus", "piedosas" e até mesmo “cristãs” não eram realmente assim. Por outro lado, notamos que cristãos verdadeiros foram, de fato, influenciados e inspirados pelas forças das trevas, sem, porém, serem possuídos por demônios. Além disso, nos textos bíblicos que analisamos notamos a total ausência de uma terminologia exorcística própria referente à possessão demoníaca. Não encontramos, por exemplo, o verbo daimonizomai , "estar possuído por um demônio ou espírito maligno". 39

Por fim, em quarto e último lugar, pudemos observar que conhecer a identidade do verdadeiro cristão é simplesmente fundamental para resolver toda a questão. Uma vez que possuímos todas essas informações, nos tornamos cientes do fato de que um cristão verdadeiro pode ser oprimido, influenciado, inspirado, induzido, tentado e até mesmo atacado por demônios, mas jamais pode ser possuído por eles. O refrão daquela música "Xô Satanás", interpretada pelo grupo Asa de Águia em ritmo de carnaval, diz o seguinte: "Na casa do Senhor, Não existe Satanás, Xô Satanás! Xô Satanás! ". Na "Casa do Senhor" Satanás pode até existir sim, mas ele jamais poderá existir na vida de "cristãos genuínos", possuindo-os através de seus demônios.

35 DICKASON, C. Fred. Demon Possession & the Christian. Illinois, Crossway Books, 1987, p.187. Os itálicos são meus.

36 Adaptado de: STOTT, John R. W. Cristianismo Básico. São Paulo, Edições Vida Nova, 1991, p.8.

37 OROPEZA, B. J. 99 Perguntas sobre Anjos, Demônios e Batalha Espiritual, p.134.

38 FILHO, Caio Fábio D'Araújo. Principados e Potestades, pp.29,30. Os acréscimos entre colchetes e os itálicos são meus.

39 LIDDELL, H. G. & SCOTT, R. An Intermediate Greek-English Lexicon. (Founded Upon the Seventh Edition of Liddell and Scott’s Greek-English Lexicon). Oxford, Oxford University Press, 1889, p.171).

Carlos Augusto Vailatti   é Bacharel em Teologia pelo IBES - Instituto Betel de Ensino Superior (SP) e Mestre em Teologia (Th.M.), com especialização em Teologia Bíblica, pelo STSC - Seminário Teológico Servo de Cristo (SP). Além disso, é também professor de diversas disciplinas bíblico-teológicas. É casado com Noeli Guimarães Vailatti.

Contato:

Blog:   www.blogdovailatti.blogspot.com

Email:   [email protected]

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