Estou lendo esses dois livros (Main Currents of Marxism; O Marxismo de Marx), que falam sobre o marxismo. É tão intelectualmente desonesto defendermos uma ideologia que não conhecemos, como atacarmos uma ideologia que nunca examinamos. Estudar é fundamental. Livro na mão e pé na lama da favela produzem os melhores intelectuais. E a melhor teologia!
Falava outro dia no Congresso da Juventude Batista Brasileira, realizado em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, quando um grupo de jovens, ao término da minha mensagem, me procurou. Conversamos longo tempo. Gostei demais deles. Todos demonstravam grande inquietação quanto a serem considerados marxistas pelo simples fato de defenderem certas ideias, que na verdade, em seu modo de ver, representam apenas o que o cristianismo proclama. Eles me pareceram lidar com uma pergunta importante, que poucos ousaram responder: quanto do marxismo uma pessoa precisa acreditar para ser considerada marxista? Lembro-me de Dom Hélder Câmara: "Quando dou comida ao pobre dizem que sou santo, quando pergunto por que algumas pessoas são pobres dizem que sou comunista".
Outro tipo de injustiça também pode ser praticada. Considerar necessariamente inimigo do pobre quem rejeita o marxismo. Há muitos que almejam a economia de mercado, com todo seu estímulo à produção de riqueza e competição criativa, regulada pelos ideais de justiça do cristianismo. Eles não creem na revolução do proletariado, não estimulam a luta de classe, e, contudo, rejeitam a exploração do pobre, o lucro como a medida de todas as coisas e a ganância que esgota os recursos naturais do planeta.
Como o cristianismo não cabe nem nas ideologias de direita, nem nas ideologias de esquerda, gostaria de dizer aos que se sentem injustiçados, vítimas dos ataques mais ácidos de ambos os lados, que não ser compreendido é da natureza da verdadeira sujeição a Cristo. Faz parte da vida cristã ser objeto de contradição. O dia em que o mundo nos compreender há muito teremos deixado de viver como discípulos de Cristo.
O importante, seja você de direita, seja você de esquerda, é ser encontrado do lado do pobre, perto de quem o Senhor Jesus sempre esteve. E quando uma chacina como a de Osasco -que interrompeu a vida de 19 pessoas no dia 13 de agosto deste ano-, acontecer, jamais deixar de protestar. Porque você dificilmente será levado a sério se a defesa mais veemente das suas ideias não vier acompanhada da prática concreta da justiça e da misericórdia.
A ideologia sem obras é morta.
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