"Curem os doentes que ali houver"!

"Curem os doentes que ali houver"!

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:27

Valdir Steuernagel

Domingo à noite o pastor compartilhou com a igreja alguns pedidos de intercessão, para que orássemos. Isso acontece em muitas igrejas onde o culto inclui intercessão. Muitos dos motivos de oração que recebemos têm a ver com saúde. Alguns agradecem pela cura, mas a maioria são pedidos por intervenção de Deus em doenças: o esposo com câncer, a cirurgia da filha, o rapaz atropelado por uma moto, o bebê prematuro que precisa sobreviver... Vivemos numa sociedade doente. E é natural que levemos a Deus nossas enfermidades, esperando que ele olhe para nós com misericórdia e nos conceda a restauração, fruto do toque de sua mão bondosa.

No tempo de Jesus não era diferente. Ele vivia rodeado de pessoas doentes ou em busca de cura para seus enfermos. Segundo Mateus, ele inicia o seu ministério percorrendo a Galileia e "curando todas as enfermidades e doenças entre o povo". A notícia corre longe e se espalha com rapidez: "Notícias sobre ele se espalharam por toda a Síria, e o povo lhe trouxe todos os que estavam padecendo vários males e tormentos: endemoninhados, epiléticos e paralíticos; e ele os curou" (Mt 4.23-24). O evangelista lega-nos uma significativa interpretação do ministério de Jesus, ao traçar um elo entre a profecia de Isaías em relação ao cumprimento messiânico e essa prática de Jesus: "Ao anoitecer foram trazidos a ele muitos endemoninhados, e ele expulsou os espíritos com uma palavra e curou todos os doentes. E assim se cumpriu o que fora dito pelo profeta Isaías: ‘Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre si levou as nossas doenças’" (Mt 8.16-17). Confesso que sempre relacionei este texto à crucificação de Jesus e ao fato de ele ter levado sobre si os nossos pecados. Porém aqui, nesta interpretação fantástica, vê-se Jesus de Nazaré caminhando entre os doentes e carregando as enfermidades deles! Enfermidades são fardos pesados de carregar, especialmente para os mais pobres. E é ali que Jesus, de forma bem particular, mostra sua preocupação com as pessoas e relaciona-se com elas na perspectiva da restauração.

Hoje eu me pergunto como pude demorar tanto a ver Jesus caminhando entre os enfermos e tocando-os para a restauração! Como custei tanto a perceber que, mais do que uma proclamação verbal, o evangelho é encarnado e transforma-se em boa nova de forma tão palpável na vida de quem estava enfermo e foi restaurado por Jesus! Como pude deixar de ver com naturalidade o toque milagroso de Jesus que cura o enfermo, liberta o oprimido, resgata o perdido e faz-nos experimentar a glória do reino de Deus!

Nós, como igreja, nem sempre soubemos lidar com esse "programa de Nazaré" - a pregação das boas novas aos pobres, proclamação de liberdade aos presos, recuperação da vista aos cegos, libertação dos oprimidos e a proclamação do ano da graça do Senhor (Lc 4.18-19). Ora negamos a possibilidade de cura em nossos dias, ora movimentos de renovação redescobrem a atualidade disso. Ora procuramos domesticar a cura, enquadrando-a em procedimentos médicos, para logo nos depararmos com uma cura manifestada numa reunião discreta de um grupo que estava estudando a Bíblia e orando em línguas. Não se pode enquadrar o toque restaurador de Jesus, pois a semente da cura é levada pelo sopro do Espírito para onde ele quer.

Outro dia um amigo me contou como sua filha pequena, numa oração singela, pediu a Deus que tirasse "o quentinho" dela -- a febre que, para desespero dos pais, a vinha enfraquecendo havia dias. Enquanto todos os esforços deles foram em vão, a oração da pequena trouxe restauração. Às vezes Deus, na sua bondade, ouve a oração dos pequeninos para que também "os grandes" aprendam a crer.

Recentemente a Visão Mundial Internacional iniciou uma campanha intitulada "Child’s Health Now", cujo objetivo é sensibilizar formadores de opinião e governos e fomentar a mobilização popular para a redução da mortalidade infantil, especialmente entre os mais pobres. Cada ano morrem 9 milhões de crianças antes dos 5 anos de idade, o que significa 24 mil a cada dia e uma criança e cada três segundos. Ou seja, 2 milhões de crianças morrem no dia em que nasceram e 3,5 milhões, no primeiro mês de vida. O pior é que são mortes devidas a doenças preveníveis, como diarreia, malária e pneumonia!

A resposta a esta realidade poderia vir de muito pouco: amamentar os filhos no peito, lavar as mãos frequentemente com sabão, usar mosquiteiros tratados com inseticida, acesso universal gratuito a vacinas e a cuidados médicos básicos. Porém a verdade é que as crianças continuam morrendo. E nós...? O objetivo da campanha é que, num esforço mundial conjunto, se consiga reduzir em 75% a mortalidade infantil até 2015, salvando 6 milhões de crianças por ano.

Isso também é cumprimento do mandato de Jesus para curar os enfermos. A cura restauradora de Jesus assume também outras formas, e nós podemos ser canais de obediência para isso.

• Valdir Steuernagel é pastor luterano e trabalha com a Visão Mundial Internacional e com o Centro Pastoral e Missão, em Curitiba, PR. É autor de, entre outros, Para Falar das Flores... e Outras Crônicas.

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