Demônios anônimos

Demônios anônimos

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:13

O terrorismo mudou o conceito das guerras. Nada de uniformes militares, bandeiras nacionais, cores padronizadas. De repente, num metrô, num shopping ou num estádio, terroristas atacam e matam. Do nada, por nada, pra nada. Eis o dilema. Terrorista é um inimigo que não conheço, não sei como e quando vai atacar, não sei que roupa veste. Só sei que me ataca sempre de forma violenta e covarde.

A praga do terrorismo também existe nas igrejas, causando mágoa e decepção, mas não surpresa, afinal, a multiplicação da iniqüidade não poupa a igreja. Aliás, joio e trigo, avisou o Mestre, crescem juntos. Assim, famílias, pastores, músicos, irmãos fieis, nomes e sobrenomes, são agredidos inexplicavelmente através de insultos, ofensas, calúnias, fofocas, armações e mentiras sem saber porque, por quem e para quê.

Como agem os terroristas gospels? Carta anônima, telefonema anônimo, e-mail anônimo, SMS anônimo, scrap anônimo. Como desgraça pouca é bobagem, seus mísseis carregados de ódio são direcionados para muita gente. Gente que nem compartilha com suas toscas opiniões, com seu minúsculo evangelho, com suas regras de vida que nem em museu encontram lugar. Mas mesmo assim, o terrorista incomoda comunidades inteiras com sua prática diabólica.

Pessoas que usam de um expediente tão covarde se parecem com demônios anônimos, pois querem ver a humilhação e vergonha dos outros, querem ver a queda dos outros, querem ver o fracasso dos outros e, como os demônios, não querem aparecer, pretendem a invisibilidade confortável do anonimato. Por que não aparecem? Porque o confronto, o debate, a argumentação de ideias e a transparência nunca foi a preferência dos anônimos, eles preferem as sombras que ocultam seus próprios pecados.

Em João capítulo 8, a partir do versículo 12, Jesus começa a discursar sobre sua missão. Os fariseus, como de hábito, não gostam daquilo que ouvem e contestam. No versículo 48 eles argumentam e no 49 Jesus dá a resposta. O diálogo é assim: Não dizemos nós bem que és samaritano, e que tens demônio?"; "Eu não tenho demônio, antes honro a meu Pai, e vós desonrais".

Notou a descarada inversão de personalidade? Para os fariseus Jesus tinha demônio. Para Jesus, a paternidade do inferno era uma prerrogativa deles, pois no versículo 44 ele afirma que eles tinham por pai ao diabo. Ou seja, desde sempre, a tática do reino das trevas é confundir.

Caso você conheça algum terrorista-demônio-anônimo-gospel, pergunte a ele quais motivos o levaram a fazer o que fez. Via de regra, as respostas se repetem com palavras diferentes, mas com significados semelhantes. A explicação dos anônimos é mais ou menos assim: Eles não conduzem bem a igreja! Eu fui injustiçado pelo conselho! O pecado tomou conta da juventude! A esposa daquele pastor age como uma madame! Lá, só se consagram queridinhos, enquanto eu, meu pai, minha mãe, meus irmãos, meus primos, tios e vizinhos nunca somos lembrados! Ninguém naquela igreja guarda os mandamentos como eu guardo! O diabo dominou tudo por lá! Por tudo isso mandei minha mensagem anônima, para o bem da igreja!

Notou alguma semelhança com os fariseus que viviam discordando de Jesus? Pois é, o zelo religioso temperado com um fanatismo cego continua o mesmo. Funciona assim: Eu sou bom, você é ruim. Eu sou santo, você é um perdido. Eu sou melhor porque faço isso, aquilo e mais isso, então, Jesus prefere a mim do que a você. Portanto, você é guiado por demônios e eu não. Blá, blá, blá...

Amor, tolerância, perdão, conversas com todos os tipos de rejeitados pela sociedade, afeto, compreensão, cura, salvação. Foram bênçãos como essas que tornaram Jesus amado por oprimidos, fracos e injustiçados, mas também odiado por fariseus. O evangelho da graça e do amor de Cristo abala o status daqueles que se prendem a cargos, títulos e regras, daqueles que medem a santidade do seu próximo pela roupa, pelos adereços, pelo estilo, nunca pelo caráter. Enfim, perderam a capacidade de amar e se agarram a sua (in)capacidade de julgar que, de tão injusta que é a tal capacidade, recorrem ao único expediente que confiam, o anonimato.

Demônios anônimos incomodam tanto quanto os públicos. Mas também são repreendidos e expulsos do mesmo jeito, em nome de Jesus. Todos, sem exceção, erram. Os que se escondem no anonimato e os que não se escondem. A diferença é simples. Na luz, de cara limpa, ainda que com vergonha, ao confessar, admitir e também expor meus erros, opiniões e ideias sempre sou agraciado com o perdão, o crescimento e o amadurecimento. Nas trevas do anonimato, tentando dar um jeito sozinho nos meus erros e frustrações, vou de mal a pior, sendo diariamente massacrado por minha consciência. Talvez Pedro e Judas ajudem nossa compreensão. Um se matou, o outro se tornou um apascentador. Qual você escolhe?

Paz!

Pr. Edmilson Mendes

Edmilson Ferreira Mendes   é teólogo. Atua profissionalmente há mais de 20 anos na área de Propaganda e Marketing. Voluntariamente, exerce o pastorado há mais de dez anos. Além de conferencista e preletor em vários eventos, também é escritor, autor de quatro livros: "Adolescência Virtual", "Por que esta geração não acorda?", "Caminhos" e "Aliança".

Contatos com o pastor Edmilson Mendes:

www.mostreatitude.com.br  

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