Escrevi este texto muitos anos atrás, depois de regressar de uma reunião de oração da igreja onde eu era pastor. Acho que ainda tem relevância.
“Pela primeira vez em minha vida cheguei a uma reunião de oração e encontrei apenas dois irmãos presentes, cabeça baixa, orando silenciosamente. Foi na terça-feira passada, aqui na reunião de oração da nossa Igreja. Como já antecipando o sofrimento de um quadro destes, eu havia orado à tarde ‘Senhor, ajuda-me a dirigir a reunião de oração e a não desanimar mesmo em face de um pequeno número de pessoas’. Eu estava me preparando para um número pequeno, mas não para dois somente. Quase nem tinha o quórum mínimo preconizado por Jesus, ‘Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estarei eu no meio deles’. No decorrer do culto mais uns poucos foram chegando.
Senti-me desamparado. Estou perfeitamente consciente de que sem as orações da Igreja meu preparo intelectual, meus dons e habilidades de liderar e pregar e ensinar não valem absolutamente nada. Já aprendi em minha própria vida que quando deixo de orar e buscar a Deus regularmente o meu coração endurece, a incredulidade cresce, o velho homem parece ressuscitar dentro de mim, perco a visão, a sensibilidade, a percepção espiritual das coisas. Torno-me um mero pastor guiado pela sabedoria e energia humana. Por uns instantes fiquei com inveja de Spurgeon, que costumava gloriar-se do fato que, quando pregava, havia um grupo de mais de cem pessoas da sua Igreja reunidas numa sala ao lado do templo, intercedendo por ele em oração fervorosa. Senti-me só.
Não quis ser injusto com os membros da minha Igreja. Há muitos jovens que estudam à noite, há outros que trabalham à noite. Há os idosos que não têm mais como sair de casa à noite. Há os que moram longe e dependem de outros para transporte. Há os doentes. Mas, mesmo assim, numa comunidade de cerca de seiscentas pessoas, somente dez a doze delas estaria realmente disponível e com condição de vir à Igreja orar numa terça a noite?
Fiquei pensando nas causas do esvaziamento das reuniões de oração. Será que eu mesmo sou o culpado? Será que não tenho enfatizado a oração na Igreja? Ou será que é simplesmente a sina das igrejas presbiterianas sempre ter reuniões de oração esvaziadas? Será que os críticos das igrejas presbiterianas de grande porte tradicionais e antigas têm razão ao afirmar que são igrejas elitizadas, frias, descomprometidas, cuja maioria dos membros assume apenas o compromisso de vir aos domingos e contribuir financeiramente? Eles dizem que não há pastor que mude isto, nem os que colocam reuniões de oração diárias nem os que concentram a oração pública em apenas uma reunião semanal. Não adiante mudar o dia da semana, mudar o formato da reunião: sempre estará vazia. Dizem que é a predestinação da igreja presbiteriana ter pouca oração e muita doutrina.
Resignei-me. Dobrei os joelhos com os dois irmãos e orei silenciosamente. Orei quase chorando, coração sofrido e apertado. Orei pedindo perdão a Deus. Outros oraram. No final, estava mais aliviado, mas o coração ainda apreensivo. Uma Igreja que não ora está fadada a ver a prevalência da carnal e do humano no caldeirão de tensões que se ajuntam num momento assim. Minha única esperança e conforto é que os membros da Igreja estejam orando em suas casa, mesmo que não venham orar aqui nas terças. Mas também esta esperança eu não tenho como comprovar.
Por Augustus Nicodemus
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