“É o avivamento, o Espírito que faz as igrejas crescerem”, diz Pr. Robert Lay

Em entrevista, o pastor formado pelo Instituto e Seminário Bíblico Irmãos Menonitas (ISBIM) de Curitiba, ele Robert Lay falou sobre a visão de Igreja em Células, crescimento das comunidades e obstáculos que o cristianismo enfrenta ainda nos dias atuais.

Fonte: Guiame, Adriana BernardoAtualizado: sexta-feira, 23 de janeiro de 2015 às 15:37
Adriana Bernardo e Robert Lay
Adriana Bernardo e Robert Lay

Robert Lay é pastor titular da Igreja Evangélica Irmãos Menonitas de Curitiba, local onde, há mais de 18 anos, realiza com êxito um trabalho baseado em células e evangelismo por amizade.

Também coordena o Ministério Igreja em Células e tem viajado por todo o país apresentando, esclarecendo e resgatando essa forma de conduzir a igreja.

Formado em teologia no Instituto e Seminário Bíblico Irmãos Menonitas (ISBIM) de Curitiba, também tem Mestrado em Educação Cristã no Mennonite Brethren Biblical Seminary, em Fresno, e Mestrado em Música na California State University, Estados Unidos.

Durante sua estadia em Bragança Paulista, onde foi um dos preletores da 1ª Conferência Internacional de Igrejas em Células na igreja Assembleia de Deus Vida Triunfante, concedeu essa entrevista:

Como tem sido o seu trabalho com grupos de células e há quanto tempo esse trabalho tem sido desenvolvido pelo senhor?

Eu comecei com grupos pequenos quando estava estudando nos Estados Unidos, em 1981. Naquela oportunidade, fiz um curso em vídeo cassete com o Dr. Ralph Neighbour e ali foi meu primeiro encontro, o primeiro impacto que recebi sobre vidas, sobre relacionamentos, porque a igreja do Novo Testamento era vida em comunidade, baseada em relacionamentos, e aquilo me impactou. Quando voltei dos Estados Unidos comecei um trabalho na nossa igreja com grupos pequenos e depois recebi um convite, alguns anos depois, para ir para Cingapura, onde encontrei o Dr. Ralph Neighbour. Fiquei seis semanas na igreja onde ele estava ajudando a fazer a transição e implantação de células e aquilo foi a minha primeira experiência de um modelo completamente funcional já. De lá, voltei com muitos materiais, comecei a traduzir e a adaptá-los. Alguns pastores amigos começaram a me perguntar como poderiam fazer [esse novo modelo]. Então fui num congresso de células nos Estados Unidos, em 1995, um dos primeiros lá, e trouxe material do Dr. Ralph Neighbour que se chama “O Ano da Transição”, um ensino ajudando as igrejas a fazerem a transição e a implantar células através de quatro módulos. Traduzimos esses módulos, o Dr. Ralph Neighbour veio para o Brasil ministrou o primeiro módulo; o Dr. Bill Baker ministrou o segundo, o terceiro e o quarto. E a partir daí começamos a viajar pelo Brasil, a publicar materiais e a ajudar as igrejas a fazerem a transição para células. Sem sobressaltos, sem piruetas e sem rachar igrejas, de uma maneira passo a passo. Assim como Jesus fez a transição do judaísmo para o movimento chamado igreja, em seus três anos e meio de ministério. Estamos nessa saga há quase vinte anos e já treinamentos mais de vinte mil pastores e líderes no Brasil e fora. Atualmente estamos no Peru, onde iniciamos os módulos em Lima. Estivemos nos Estados Unidos, em Miami e no Texas, com igrejas espanas. Estive na Alemanha e na Suíça -- porque falo alemão e inglês e isso facilita -- e há uma grande carência na Europa principalmente, na Áustria, onde tem pouquíssimas igrejas em células. Lá eles estão começando a se abrir agora.

No Brasil a gente já ouve muito falar de diversas igrejas com modelo celular. Porém, pelo que consigo entender parece que existem modelos diferenciados. Como funciona isso? Existe um modelo correto para que a célula aconteça?

Ao longo dos anos vão se desenvolvendo correntes de modelos e de igrejas em células que assumem uma espécie de característica própria, mas todas essas correntes têm o mesmo objetivo, a mesma base. Às vezes, se acrescenta alguma sigla a um modelo, mas não é a sigla nem o modelo o mais importante. É o estilo de vida do Reino, voltando a viver o estilo de vida da igreja primitiva, da igreja do Novo Testamento: fazer discípulos, ajudar as pessoas a encontrar seu ministério de liderança nas células. E, na verdade, quando me perguntam: qual o melhor modelo que devo seguir? A minha resposta é: aquele modelo que melhor serve a você. A gente comete esse erro de ir para um lugar e importar e trazer um modelo, como antigamente se ia para a Coreia do Sul, depois para Bogotá, na Colômbia, trazendo modelos e assim vai. As peregrinações continuam e os pastores se frustram porque eles implementam um modelo de um outro lugar, inclusive um avivamento que está acontecendo num determinado lugar, e o pessoal acha que é o modelo, que é o truque, mas não é. É o avivamento, é o espírito, é a vida que tem naquele lugar que faz as igrejas crescerem. E tem muitas igrejas onde tem vida, que crescem e não têm células. Na verdade, o básico é a vida, os valores e o melhor modelo que se adapte às suas circunstâncias. Por exemplo, São Paulo vai ter uma espécie de modelo, no interior, em uma cidade menor tem outro, um modelo um pouco diferente pela sua realidade. A gente precisa ser flexível, ter jogo de cintura, para adaptar os modelos à situação local.

Qual a ligação que tem - se é que tem ou se é que também precisa ter - entre as células e o culto na igreja? O integrante da célula precisa ir pro culto na igreja? É necessário? Como é esse relacionamento?

Essa é uma questão que nos últimos tempos está sendo discutida. Tem igrejas que não têm culto. Tem movimentos de igrejas nas casas que não têm reunião nenhuma; ali as células funcionam independentemente. É um tanto problemático isso, mas a gente vê que havia na igreja primitiva aquilo que o Pr. Bill Beker descreve no seu livro “A segunda reforma” como a igreja das duas asas. Ou seja, as pessoas se reuniam nas casas e no pátio do templo. Vemos isso em Atos 2, Atos 5, Atos 20:20. E a gente vê que quando eles tinham oportunidade, eles se reuniam num grupo maior, nas catacumbas, quando veio a perseguição, nos oásis, no deserto, e isso era muito bom... A celebração tem que estar unida, ela não compete com a célula, mas ela complementa. A célula e a celebração fazem parte de um todo e elas têm expressões diferentes: a célula é mais intimidade, mais o cuidado pastoral; e a celebração é o louvor, a adoração e o ensino, através do sermão. As duas coisas deveriam se integrar. Os dois ambientes são desejáveis.

A gente percebe ainda certa resistência de alguns pastores com relação às células... Talvez um medo de perder o controle... Como o sr. vê isso? Esse medo procede? Qual deveria ser a forma pra que ele não tivesse esse medo de ficar sem o controle?

Isso vai dos valores. Se você tem valores de uma liderança autoritária, de uma liderança com unção única e dependente de uma pessoa, um líder que tem uma unção especial como se vê muito hoje - que é um retorno ao Velho Testamento - essas pessoas têm medo de abrirem mão. Mas a questão não é abrir mão. A tarefa do pastor é treinar cada membro. Efésios 4:12 diz com clareza que Ele deu “uns para apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres” para treinar, preparar o povo para a obra da construção do reino. Então, não é o pastor que faz, é cada membro que é um sacerdote. O nosso lema tem sido, já nos últimos 20 anos, “cada casa uma igreja, cada membro um ministro, um sacerdote”. Quando os membros entenderam isso, esses valores, aí houve essa mudança de valores e o pastor também entendeu esses valores aí também houve essa mudança de valores... Então, não precisa ter medo não. Antigamente, nos valores antigos do meu ministério pastoral, eu tinha certo receio que alguém da minha igreja iria se desenvolver mais do que eu. Hoje o meu objetivo é ajudar os meus discípulos a serem melhores do que eu. Então isso depende dos valores.

O sr. acha também que tem a ver com a questão do poder? De ser aquela pessoa que comanda e que talvez ela receba a estratégia de Deus e que é ela quem deve passar essas estratégias... O sr. acha que isso também acaba sendo um pouco o receio desses líderes?

De novo, está baseada na teologia do Velho Testamento. É incrível que a Igreja depois de Constantino, no quarto e quinto séculos, deu uma guinada de volta para a Velha Aliança. Foi uma estratégia de satanás de neutralizar o poder de penetração da Igreja na sociedade...

Então, posso interromper? Porque é importante o que o sr. está falando. Hoje temos visto muitas e muitas igrejas usando elementos do judaísmo. Certa vez um pastor disse que não poderia colocar esses elementos em sua igreja (assim como a bandeira de Israel) porque eles impediriam um árabe, por exemplo, de entrar na igreja. Isso seria uma barreira para salvação... Isso tem um pouco a ver com a questão da volta ao judaísmo, ou não?

É uma estratégia de satanás rejudaizar a igreja e isto não é novidade... Isso já aconteceu em Atos 15. Qual foi o motivo do primeiro concílio, da primeira reunião em Atos 15? Os judaizantes queriam retornar, queriam circuncidar e os apóstolos e presbíteros se reuniram e houve um discernimento ali... Não precisa se tornar judeu para aceitar Cristo. E nós vimos também na vida do apóstolo Paulo que ele foi se distanciando de Jerusalém, cada vez mais, até chegar à Espanha, porque a igreja de Jerusalém era judaizante. Eu creio que a diáspora, no ano 70 quando a igreja foi espalhada, foi providência divina para espalhar o povo entre os gentios. Eles viram isso como certa maldição, mas foi bênção... Então, o diabo tem muitas armas para distrair a igreja e tirá-la do seu foco e do seu rumo, e a rejudaização é uma delas.

Para finalizar, vamos falar um pouco do trabalho que foi feito na Assembleia de Deus Vida Triunfante, com a presença do Pr. Eddy Leo, uma das maiores autoridades em igrejas em células. E também do seu trabalho, como aquele que trouxe e tem se doado para esse propósito também. Qual é sua expectativa, como pastor, ao trazer para a igreja e para a liderança esse tipo de comando novo com relação à célula?

Eu vejo que é a hora e a vez do Brasil, da América do Sul e da América Latina porque ainda há uma abertura e uma receptividade para o avivamento, a retorno e hoje esse movimento é chamado de a segunda reforma. Na primeira reforma em 1517, a 500 anos atrás, nós recebemos o vinho novo de volta mas ficamos com o odre velho. Então, hoje nós estamos vendo a reforma do odre, voltando à essência. Eu creio que o Brasil está se despontando como um exemplo para o resto do mundo e um celeiro de missionários que não precisam ficar 10 anos estudando e se preparando para ser missionário. A pessoa foi para uma célula, foi ganha em uma célula, foi treinada como líder e liderou uma célua está pronta para liderar em qualquer parte do mundo. Hoje nós vemos que não são os grandes acadêmicos que são os melhores missionários. Eles vão para o campo missionário e fundam lá um escritório da agência missionária e ficam lá envolvidos por 20, 30 anos... Mas você envia líderes e supervisores de célula e eles logo vão alugar uma casa, vão convidar pessoas, vão pro McDonalds, fazem contato ali mesmo... Eu sei de uma igreja em Macau, terreno muito difícil na China -- é a Las Vegas do Oriente, só tem cassinos e prostituição -- onde em cinco anos a igreja passou a ter 200 membros jovens e já estão enviando missionários para China continental. Onde começou? No McDonalds. E continua assim: relacionamentos e contatos. Jesus encontrava as pessoas onde? Onde elas estavam. Elas estavam dentro da sinagoga, dentro do templo? Não. Elas estavam na rua, nas casas... Então eu creio que esse retorno é fundamental. Minha esperança é ver o Brasil continuar firme nesse propósito. E, felizmente, nós já temos igrejas de todas as denominações, praticamente, envolvidas com células.

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