Efeitos religiosos do Brasil República

Efeitos religiosos do Brasil República

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:04
BrasilA República trouxe a separação entre a Igreja e o Estado. Foram assegurados direitos iguais para todas as religiões. Os cemitérios foram entregues às prefeituras e o casamento civil foi instituído, desconhecendo-se os casamentos religiosos. Já não se deveria ensinar religião nas escolas, nem o governo subvencionar as escolas religiosas. Os membros das comunidades religiosas que incluíram o voto de obediência foram privados de seus direitos políticos. O clero perdeu suas imunidades e teve o seu salário pago pelo Estado apenas por mais um ano. A Constituição de 1891 sequer invocava o nome de Deus. O positivismo e o liberalismo eram as ideologias dos líderes do novo regime.
 
A Igreja Romana saudou o rompimento das amarras que a prendiam ao Estado, mas protestou pela perda dos privilégios. A Santa Sé veio em seu socorro, procurando dinamizá-la. Em 1901 foi nomeado um núncio apostólico e em 1905, o primeiro cardeal. Se em 1889 havia apenas treze dioceses, esse número chegava a 58 em 1920. Para suprir a falta de vocações, passou-se a importar maciçamente sacerdotes estrangeiros. Uma ação pastoral se voltou para a incipiente classe média e para as elites intelectuais (àquela altura afastada da Igreja em quase sua totalidade). Para sustentar o clero e as obras das ordens religiosas, passou-se a cobrar dos fiéis uma taxa pelos serviços prestados (casamentos, batizados, funerais etc.).
 
A tarefa dos cardeais da primeira República, Joaquim Arcoverde e Sebastião Leme, foi tentar uma recristianização do Brasil, um aumento da influência do catolicismo romano na sociedade, já que o Estado se mostrava distante e arredio. Um clero ultramontano europeu ou europeizado procurou restaurar a ortodoxia, atacando, em agressiva apologética, o protestantismo, a maçonaria e o socialismo. A religião se elitizava e se desnacionalizava. Ênfase particular era dada aos sacramentos e ao crescimento espiritual individualmente.
 
(...)
 
Os primeiros sinais de reaproximação entre a Igreja e o Estado republicano se deram durante o governo de Epitácio Pessoa (1919-1922), prosseguindo durante o governo de Arthur Bernardes (1922-1926), quando este visitou oficialmente o cardeal Leme. Na crise de legitimidade do governo da República Velha, procurou-se o apoio da Igreja, outra vez reconhecida como condutora das massas.
 
Embora a ausência de discriminações legais não significasse, na prática, uma melhoria na vida e no ministério dos protestantes, o fato de serem iguais perante a lei, era um avanço muito grande. A Igreja Romana, porém, já não contando com o apoio do Estado para reprimir as “novas seitas”, passou a mover toda sorte de perseguição no nível sociológico, mobilizando as turbas fanatizadas e ignorantes, com a complacência e, muitas vezes, a cooperação das autoridades locais. A fé evangélica se expandia ao custo de uma perseverança e de enfrentamentos a desafios que chegavam ao heroísmo. Epopeia e saga à qual não faltaram os seus mártires, esquecidos pelas gerações futuras.
 
 
- Robinson Cavalcanti
 

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