Emoções Empanadas

Emoções Empanadas

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:12

T ive dois encontros fortuitos com a emoção na semana que passou; em ambos as lágrimas brotaram insistentes, irreprimíveis quase, se a reação automática da tropa de choque que patrulha essas manifestações não fosse eficaz no uso da truculência e repressão. Afinal, não podemos simplesmente derramar lágrimas, sejam de emoção ou dor, em qualquer lugar... Existem códigos de conduta que regulam as lágrimas. Ainda que essa censura absurda seja mais complacente com as mulheres, todos estão sob sua vigilância sisuda.

N uma dessas ocasiões estava em uma livraria folheando um livro de Eduardo Giannetti quando o som de música me chamou a atenção. Levantei os olhos das páginas do livro que naquela mesma noite leria quase que compulsivamente e observei um desses monitores enormes de TV que estamos já acostumados a ver em bares e restaurantes... Pensei comigo: a mania americana se impôs mais uma vez! Como nunca havia visto TVs em livrarias exclamei escandalizado: "Onde já se viu isto?".

A música, apesar do protesto, entretanto, atraiu-me, como sempre fez, bastando para tanto apresentar alguma qualidade estética. Começei a ver o clip e de repente lá estava eu, com o livro na mão e os olhos no video; Fiquei ali por alguns momentos completamente absorto pela melodia. A moça que cantava, linda, dividia o palco com um moço de voz grave e bonita. "Eu não vou parar de te olhar..." dizia a letra. Percebi minhas emoções flutuando ligeiramente ao sabor dos acordes da canção....  Aos poucos meus olhos foram sendo invadidos por aquela versão líquida e morna da emoção.

C om os olhos molhados, como se estivesse fazendo alguma coisa errada, ocorreu-me olhar para os lados para ver se alguém estava observando aquele ato de transgressão... Para meu constrangimento, um vendedor olhava para mim naquele exato momento. Dissimulei, olhei para o lado, procurando ocultar o produto do flagrante e voltei os olhos para o livro do Giannetti. Mais uma vez tive minhas emoções empanadas, afinal, homem que é homem não chora, conforme reza o catecismo burro do machismo.

Luiz C. Leite   é pastor, psicanalista, administrador de empresas, conferencista e escritor. Autor de "O poder do foco", editora Memorial; e "A inteligência do Evangelho", editora Naós; além de vários títulos por publicar.

- Clique no link para ver o vídeo do livro   "O PODER DO FOCO"

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Confira o blog do escritor:   http://luizvcc.wordpress.com/

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