Encontro Afro Cristão, na Metodista: resistência à exclusão

Encontro Afro Cristão, na Metodista: resistência à exclusão

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:49

Quando fazia sua pesquisa de mestrado, sobre memórias e histórias da população negra, a professora Juliana de Souza resolveu conversar com um grupo de homens negros de sua própria igreja, a Igreja Metodista de Carapicuíba. Ela reuniu 15 homens, sendo 8 brancos e 7 negros de diferentes idades, e a todos fez a seguinte pergunta: quem já havia sido parado por uma “batida policial”? A resposta espantou a todos: enquanto nenhum dos jovens e senhores brancos jamais havia sido abordado por um policial, todos os sete homens negros – incluindo um garoto de apenas 12 anos de idade – já haviam sido parados ou revistados por policiais, enquanto caminhavam em sua cidade.

O fato ilustra bem uma discriminação histórica que, não raras vezes, vem acompanhada de violência física ou moral. Para cada jovem branco assassinado em 2008, mais de 2 negros morreram nas mesmas circunstâncias, segundo indica o Mapa da Violência 2011 – Os jovens do Brasil, elaborado pelo Instituto Sangari em parceria com o Ministério da Justiça. E uma recente polêmica na imprensa confirma que a violência não é apenas física, mas também moral: o pastor Marco Feliciano, deputado pelo PSC de São Paulo, faz coro com declarações racistas do deputado Jair Bolsonaro  (PP-RJ) e afirma, numa inadmissível ignorância teológica e histórica, que o povo africano é amaldiçoado desde os tempos de Noé.

Maiores vítimas da violência, mas também portadores de grande força transformadora, os jovens foram escolhidos como tema central do IV Encontro Afro Cristão 2011, que se realiza na Universidade Metodista de 1 a 3 de abril: “Juventude Negra – Sujeito de Direitos” . O Encontro, promovido pelo Ministério de Ações Afirmativas Afro-descendentes da Igreja Metodista, também conta com apoio da Rede Ecumênica de Juventude, da EST (Escola Superior de Teologia), CESE (Coordenadoria Ecumênica de Serviços) , Faculdade de Teologia e prefeitura do município de São Bernardo do Campo.

Segundo a coordenadora do evento, Diná da Silva Branchini, “o objetivo é trazer os temas relacionados à população negra para reflexão e o debate no âmbito da universidade e das igrejas. Discutir temas do cotidiano e mostrar o que os próprios jovens estão fazendo nesse sentido”.

A palestra de abertura do encontro foi realizada pelo professor Luiz Vicente, reitor e fundador da Faculdade Zumbi dos Palmares (www2.zumbidospalmares.edu.br/). Ele agradeceu a presença dos/as participantes do encontro e o apoio de instituições e pessoas que foram determinantes para que o projeto da Faculdade se concretizasse,  fazendo uma referência especial ao educador Almir de Souza Maia, de Piracicaba, ali representado por seu irmão, o bispo metodista Adriel de Souza Maia. Segundo o professor Vicente, a Universidade Metodista de Piracicaba, seguida pela Universidade Metodista de São Paulo, foram as primeiras instituições do país a adotarem um programa para estudantes negros.

O professor iniciou a palestra questionando a própria validade do encontro Afro Cristão: por que em nosso país precisamos discutir temas que já deveriam fazer parte de tempos passados? Afinal, vivemos em um país plural, com grande miscigenação, e com a maior população negra das Américas: 52% dos brasileiros e brasileiras declaram-se negros/as.  Contudo, os índices de violência urbana e os fatos recentes relatados pela imprensa apontam para uma realidade de discriminação que, a despeito do crescimento econômico, continua atingindo  significativamente a população negra brasileira.

Para o professor Vicente, a religião pode ser um importante aliado para uma luta que é de todos e todas que acreditam nos valores universais de justiça e de direito.  O IV Encontro Afro Cristão, que segue na tarde de sexta e encerra-se na manhã de domingo, mostra que, ainda que a discriminação persista até mesmo em pessoas que deveriam levar Boas Novas de salvação ao mundo, há cristãos e cristãs fiéis que resistem à lógica da exclusão e seguem, juntos, na construção da Paz.

Rede Metodista

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