O cristianismo está enraizado nos Estados Unidos, e os números comprovam isso: dos 970 milhões de protestantes no mundo,170 milhões estão na América do Norte. Em entrevista ao Carta Capital, o professor de história e civilização americana Mokhtar ben Barka, da Universidade de Valenciennes, na França, deixou claro o quanto a Bíblia está presente não apenas na religião, como nas decisões políticas da nação.
Há uma diferença entre os evangélicos conservadores, que fazem parte dos eleitores de Jimmy Carter, Ronald Reagan e George W. Bush, e os evangélicos de esquerda, que são eleitores de Barack Obama. Os evangélicos de direita são conservadores na religião e na política. Por outro lado, os de esquerda são conversadores na religião, porém progressistas do ponto de vista político.
Mokhtar ben Barka explica que há uma ligação dos Estados Unidos com Israel com um fundo teológico, político e estratégico. Para a direita evangélica, Israel sempre foi considerado como parte do cenário do fim do mundo. “Jesus vai voltar a Jerusalém. As batalhas do fim dos tempos, e o combate final entre o bem e o mal, o Armagedom, acontecerão lá. A vitória será de Cristo”, conta. “O que os evangélicos conservadores não dizem aos judeus é que terão de se converter ao cristianismo, ou perecerão. No entanto, a própria esquerda israelense se incumbe de colocar os crentes judeus a par desse importante detalhe”.
Barka explica que a esquerda israelense é contra o partido Likud, da direita israelense. Ao contrário do Likud e da direita evangélica americana, a esquerda evangélica dos Estados Unidos é favorável à paz entre israelenses e palestinos. Por isso, há uma oposição entre os evangélicos conservadores e Likud contra evangélicos e israelenses de esquerda. “A esquerda israelense tem ligações com a esquerda evangélica americana”, explica o professor.
“Por que Deus deve abençoar os EUA? É arrogante dizer ‘somos abençoados por Deus, sendo assim, podemos impor nossos valores’. Isso é chamado de ‘excepcionalismo americano’. É errado, é estúpido. O problema dessa crença nos EUA é sua forte convicção”, critica Bark. O professor explica que essa ideia surgiu no século XVII, com a chegada dos primeiros “puritanos”, que eram cristãos perseguidos na Inglaterra, após o nascimento da Igreja Anglicana. Esses cristãos, ao fugir da Inglaterra, comparavam-se aos hebreus do Êxodo. Por isso os EUA são chamados de “a nação escolhida”. “Assim, os puritanos ingleses estabeleceram paralelos entre eles e os hebreus, que, em busca da Terra Prometida, atravessaram o Deserto do Sinai quando expulsos do Egito”, explica.
“Bíblia e a religião têm importância essencial na compreensão e leitura da história dos EUA. E, desse fundo puritano, nasce a ideia de que a América, por ser uma nação escolhida, tem o dever de ser modelo para os outros. Ler os discursos de George W. Bush é como ler os sermões dos primeiros puritanos. Há uma semelhança extraordinária”, diz Bark.
Após o colapso do comunismo, os Estados Unidos se tornou a primeira potência militar, política e econômica, reforçando a ideia de serem uma nação escolhida por Deus. “E a história lhes dá razão, porque é preciso não esquecer: os EUA salvaram o mundo nas duas guerras mundiais. Se eles não marcassem presença, não sei onde estaríamos. Tudo isso reforçou essa noção de superioridade, de povo excepcional”.
Em seu livro, Le Protestantisme Évangélique Nord-Américain en Mutation, o professor Bark afirma que os evangélicos se aproximaram de Israel somente após a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Para os evangélicos americanos, a vitória era sinônimo de cumprir a profecia bíblica sobre a vinda do Messias. “Voltamos sempre à Bíblia para dizer que essa vitória confirma a tendência e o movimento rumo à vitória de Israel contra os árabes. Há sempre essa transposição bíblica na prática”.
Bark fala da diferença que existe na visão do cenário escatológico entre evangélicos de direita e esquerda. “A direita conservadora evangélica é pessimista. Vamos para o fim do mundo, rumo à guerra, à morte. É um cenário sombrio. Para os conservadores, o conflito precisa piorar. O fogo deve devorar tudo. Para eles, qualquer resolução vai contra o cenário do fim do mundo”, conta.
“De fato, a perspectiva da esquerda evangélica é otimista. Falam em progresso. Progressistas devem lutar, é preciso encontrar melhores situações, temos de ajudar, curar. O ex-presidente Jimmy Carter, em seu livro Palestine: Peace Not Apartheid, quer colocar um fim a esse massacre: israelenses e palestinos precisam chegar a um acordo”.
Com informações de Carta Capital
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