Especialista dá dicas de otimização para reforma de templos

Especialista dá dicas de otimização para reforma de templos

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:35

As muitas mudanças deste mundo pós-moderno trouxeram novas necessidades nas arquiteturas dos templos, quer seja na otimização do seu espaço, na iluminação e na possibilidade da utilização de novas tecnologias. Também trouxe uma maior informação quanto às necessidades de segurança, acessibilidade e de conforto para seus membros.

Então surge a pergunta: Sua Igreja precisa de uma reforma? Necessita de um novo espaço? Se sim, como respeitar o patrimônio histórico e ao mesmo tempo atender tantas novas exigências? Como devo conduzir este processo de construção ou reforma?

Confira a opinião de Pedro Alberto Palma e Marina Brianez Rodrigues . Pedro é arquiteto, graduado pela UFPR, mestre pela USP e doutorando pela USP. Docente na UEL desde 1986 e na Unifil, desde 2001. Entre suas obras mais significativas estão: Twin Business Towers, Aeroporto de Londrina, Aeroporto de Joinville, Aeroporto de Navegantes. Marina é arquiteta, graduada pela Unifil e pós-graduada pela Universidade Estadual de Londrina .

Vocês têm percebido uma maior preocupação com a reforma/restauração de templos?

Pedro e Marina - Temos visto nos últimos anos o surgimento de novas igrejas por todo país. Paralelamente, vemos igrejas já estabelecidas aumentarem o seu número de espaços para cultos e celebrações. Como consequência, é preciso um cuidado técnico na adaptação dos imóveis existentes para essa nova função, o que na prática nem sempre acontece. Em menor freqüência estão as reformas dos templos existentes. A cidade de Londrina tem demonstrado esse respeito com o patrimônio histórico através de ações, ainda que isoladas, como o restauro e reforma de vários edifícios religiosos. O restauro é, fundamentalmente, uma operação que pode, a cada momento, sofrer revisões conceituais e técnicas que se fazem necessárias à medida que o trabalho avança e novas dificuldades e fatos aparecem.

Quais os documentos legais são necessários para reformar a Igreja? Há também algum documento necessário após a reforma?

Pedro e Marina - Há uma série de documentos que vão dar resposta às várias instâncias públicas, tanto antes de se iniciar uma reforma e quanto depois de seu término. Porém, penso que o fundamental são as pessoas e profissionais envolvidos na fase de planejamento de uma reforma. Além da liderança (pastor, gestor, tesoureiro), a presença do arquiteto e engenheiro civil formam o grupo mínimo para a concepção da melhor idéia. Na nossa igreja, Metodista Central de Londrina, eu e minha esposa, também arquiteta, somos voluntários para os projetos de arquitetura. Esse é um dos nossos ministérios. Assim, depois do projeto elaborado, os documentos necessários são uma consequência natural e de responsabilidade do arquiteto, como: o memorial descritivo do projeto de gerenciamento de resíduos e o alvará de reforma ou de ampliação.

Quais os cuidados que devem existir com o projeto quando se decide reformar a Igreja?

Pedro e Marina - Em primeiro lugar, o respeito pela memória. A maioria dos nossos templos foram erguidos com pouquíssimos recursos, mas muita crença por parte daqueles que tinham a visão do crescimento do reino de Deus em nossa cidade. Os projetistas devem buscar esse conhecimento antes da elaboração da proposta.

Em segundo lugar, o registro. É preciso que o corpo técnico se atente para isso. Um levantamento arquitetônico e fotográfico completo do edifício atual, tudo em arquivos digitais, para fácil conservação e reprodução.

E em terceiro, o planejamento. Ao elaborar o projeto é necessário levar em conta não só as necessidades momentâneas, mas sonhar com algo maior. Só assim conseguiremos planejar as etapas a serem executadas, considerando-se as várias adaptações que devem surgir.

Quais os maiores desafios para adaptação da arquitetura de uma igreja histórica para as necessidades atuais, principalmente quanto à luminosidade e a utilização de tecnologias?

Pedro e Marina - A luminosidade e a escuridão são expressões básicas de dualidade. A imagem escura e misteriosa da caverna é tão necessária para nossa vida quanto o clarão da luz ofuscante. Hoje, contudo, impõe-se que todo espaço deva ser iluminado conforme os padrões dos escritórios contemporâneos. Na idade média, as catedrais góticas eram planejadas para serem vivenciadas na iluminação fraca que passava através dos vitrais muito acima. E vejam que absurdo, na catedral de Chartres, alguns dos vitrais foram substituídos por vidros incolores para que o bispo pudesse ser enxergado mais claramente. Os arquitetos contemporâneos não são mais capazes de perceber a falta de equilíbrio entre iluminação e escuridão em seus projetos.

Quanto ao uso das novas tecnologias elas devem ser previstas nas reformas, pois sua contribuição é muito grande. O importante é que a infra-estrutura para essas novas tecnologias não interfira naquilo que é a essência, ou seja, a função simbólica do espaço.

Há como combinar técnicas novas com as antigas? Poderia citar alguns exemplos?

Pedro e Marina - Quando se fala em técnicas, estamos falando sobre materiais. Os materiais precisam ser entendidos não apenas de acordo com seu peso e suas medidas, mas também de acordo com suas significações simbólica e arquetípica, e igualmente em seu sentido psicológico. Tijolo não é apenas tijolo e madeira não é apenas madeira. A madeira uma vez cresceu na forma de uma árvore viva, e reconhecemos esse fato quando falamos do "aconchego" e buscamos incorporar sua beleza nos objetos e detalhes da edificação. Por intermédio do uso da madeira, renovamos nossas ligações com a floresta e com o mundo das plantas, do qual dependem nossa vida.

No projeto de reforma do nosso templo chegamos a propor um mezanino metálico para aumentarmos o número de assentos na nave. A utilização do aço seria uma técnica alternativa, sem comprometer a estrutura existente, em concreto armado e alvenaria de tijolos.

Em que situação é melhor construir uma igreja nova ao invés de reformar a antiga?

Pedro e Marina - Um dia desses nosso pastor contou a história de uma igreja, numa cidade pequena, onde o pastor recém nomeado intentou fazer um templo maior. Como não havia outro terreno, ele ordenou demolir o templo atual para o início das obras. Sem planejamento e sem recursos para a nova edificação, o resultado foi que a igreja ficou sem nenhum espaço para suas celebrações e atividades, apenas um conjunto de pilares, como se fossem ruínas ao tempo.

Ao contrário, outro exemplo fascinante, foi a igreja de Saint-Denis, na Île de France, no século XII, que passou por uma reforma através do abade Suger, sendo realizada em três etapas distintas, sobre a velha nave carolíngia. O resultado desta reforma foi simplesmente o nascimento do estilo que, nos séculos seguintes, difundiu-se por todo o continente europeu: o primeiro gótico.

Quais os conselhos para gestores/pastores/líderes que querem reformar a Igreja?

Pedro e Marina - Há cerca de doze anos atrás fui contratado para o projeto de um hotel, que deveria possuir uma filosofia ‘express', uma temática relativamente nova para a cidade de Londrina. Uma das minhas primeiras ações foi me ausentar da cidade e ter contato com exemplares de hotéis pertencentes aos novos grupos de redes hoteleiras, administradas, sobretudo, por capital estrangeiro. Só depois desse conhecimento vivenciado, pude gerar uma proposta arquitetônica que refletisse a nova filosofia de hospedagem.

Cabe à liderança da igreja conhecer bem e saber transmitir as necessidades da reforma aos profissionais. Cabe ao arquiteto expandir seu repertório, visitando espaços religiosos que estejam adaptados às exigências atuais, tanto dos usuários, como dos órgãos públicos.  

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