Quem vê o técnico Dunga sempre pronto para o confronto não sabe que boa parte da intransigência do treinador da seleção é alimentada por seu auxiliar Jorginho, seu companheiro desde 1982, quando se conheceram na seleção sub-20 que viria a conquistar o título mundial no ano seguinte.
Jorginho chegou devagar. No início, parecia agir como contraponto ao estilo explosivo do treinador. Mas bastou as críticas aumentarem - chegaram ao ápice em 2008 - para mudar sua postura. Passou a aparecer sempre com cara de poucos amigos nas coletivas e começou a comprar o barulho do técnico. Como na última terça-feira, quando estava bem mais exaltado do que Dunga e fez uma defesa ufanista da seleção.
Mas, justiça seja feita, Jorge de Amorim Campos, o Jorginho, sempre teve personalidade forte. Nascido em Guadalupe, subúrbio do Rio, não demorou a se destacar no futebol. Além de ótimo jogador, ele se impôs desde cedo pelo carisma e pela liderança.
Diabo pela águia no América
Sempre teve voz ativa nos grupos que participou. Chegou ao Flamengo em 1984, aos 20 anos, depois de aparecer no América, e, durante cinco anos, foi um dos líderes do elenco. Evangélico, presidente da ONG Atletas de Cristo, cooptou vários jogadores para o movimento, que não para de crescer. Há muitos deles na seleção, que costuma celebrar suas conquistas com todos orando ajoelhados no centro do gramado.
Em 2004, Jorginho teria usado sua influência sobre os atletas evangélicos para convencê-los a não participar de um jogo comemorativo dos 60 anos da Rádio Globo, no Maracanã, entre as seleções do Rio e São Paulo. O motivo alegado teria sido o fato de o ponto alto da festa ser uma missa campal do padre Marcelo Rossi, da Igreja Católica.
Em entrevista ao jornal "Show da Fé", em 2007, quando já era auxiliar técnico de Dunga na seleção, contou como se converteu. "Meu irmão Jayme era alcoólatra e se livrou do vício ao se converter. Quando ele encontrou Jesus, teve uma transformação muito grande. Foi através de seu testemunho que eu - que estava passando por problemas de infidelidade com minha noiva e sofrendo com contusões, fruto de feitiçaria para eu não jogar mais - que resolvi mudar", disse o ex-jogador, hoje com 45 anos.
Convertido, foi medalha de prata nos Jogos de Seul, em 88, e participou da Copa de 90. Foi na Copa de 94, já com 30 anos e com experiência de cinco anos no futebol alemão, que estreitou os laços com Dunga. Foi um dos líderes do grupo que conquistou o tetra, ao lado de Dunga e Romário.
Presença nas coletivas
Encerrou sua carreira em 2001 e, cinco anos depois, se tornou treinador. Teve um início fulminante no América. Aumentou seu prestígio no clube que o revelara e logo tentou impor seus conceitos. Iniciou um movimento para trocar o símbolo do clube. Achava que a figura do diabinho era nociva e propôs que fosse adotada uma águia americana. A ideia não foi adiante, até porque Jorginho deixou o clube pouco tempo depois.
Jorginho é certamente um dos poucos auxiliares técnicos de seleção no mundo que participa das coletivas do treinador. Em 2007, dias antes da estreia do Brasil na Copa América contra o México, tomou a palavra de Dunga diante de uma pergunta sobre forças do mal e disse que Jesus excomungaria quem tentasse fazer mal a seleção.
O apelo colérico ao patriotismo feito no dia da convocação mostra que Jorginho pretende ter o mesmo papel que Zagallo teve em 94, quando o veterano treinador foi fiel escudeiro de Parreira. O velho lobo comprava as brigas com a imprensa e preservava, com isso, o treinador. Dunga, que se preparou para a coletiva, esteve bem mais controlado do que de costume. Já Jorginho, cada vez mais carrancudo, parece pronto para qualquer o confronto.
Postado por: Felipe Pinheiro
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